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Nesta semana, teremos a primeira partida da final da Copa do Brasil de 2022. Pela primeira vez, a decisão será disputada pelos clubes de maior torcida do país, o clássico Corinthians x Flamengo. Nesta coluna, traremos um comparativo sobre as finanças dos finalistas em 2022, baseados nos números publicados até junho, ou seja, dos seis primeiros meses do ano.
Antes de mais nada, é preciso relembrar algumas características do futebol do ponto de vista de gestão e finanças.
Sazonalidade: muitas indústrias operam com receitas e custos que não ocorrem de forma linear ao longo do tempo. Sempre uso o exemplo da indústria de panetones, cuja produção ocorre essencialmente no segundo semestre do ano, com vendas concentradas entre outubro e dezembro, e recebimento em janeiro. Ou seja, gasta-se antes para produzir, para receber depois que Papai Noel saiu de férias.
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No futebol não é diferente. Primeiro porque janeiro é um mês de poucas partidas e, consequentemente, poucas receitas, mas com custos quase integrais.
Depois entram os estaduais até abril e, para a grande maioria dos clubes, as receitas ainda estão bem distantes do ideal. Exceto pelo Paulistão, que tem bons valores de direitos de transmissão, a receita é baixa para os demais. E nem vou falar sobre aqueles clubes e federações estaduais que resolveram brigar contra a realidade e acreditaram na Lenda do Streaming de Ouro.
Depois, boa parte das receitas atualmente é variável, seja por partidas transmitidas no Brasil, seja por performance. Quanto mais longe se vai na Copa do Brasil e na Libertadores, maior a receita, assim como uma parcela relevante da TV no Brasileirão entra em dezembro com a classificação final da competição.
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Janelas de Transferência: a partir de 2022, o Brasil passou a adotar o sistema de janelas de transferência para negociação de atletas. Os clubes podem negociar atletas entre 19 de janeiro e 12 de abril e entre 18 de julho e 15 de agosto.
Ou seja, uma parte do dinheiro de negociação de direitos de atletas entra apenas nesse período. E, para piorar a equação, cada vez mais os clubes europeus pagam em parcelas anuais, geralmente em três anos. Logo, além de esperar o período de venda, ainda é preciso esperar o vencimento do carnê.
Tudo isso para dizer que os números que veremos nesta análise não podem simplesmente ser multiplicados por dois para projetarmos o resultado do final do ano. Simplesmente porque há valores maiores a receber no segundo semestre.
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Ainda assim, é possível fazer uma avaliação justa, pois ambos passaram pelos mesmos desafios ao longo do semestre.
RECEITAS
Os destaques para as receitas são:
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Direitos de Transmissão: aqui o grande diferencial é o Campeonato Paulista, que garante ao Corinthians um valor substancialmente maior que o Carioca para o Flamengo. Ao longo do ano, a diferença tende a se inverter, porque o Flamengo chegou às finais de Copa do Brasil e da Libertadores e o pay-per-view flamenguista é maior que o corintiano. Mas, no primeiro semestre, o clube paulista se deu melhor.
Publicidade: nesta área, o Flamengo nada de braçada. Ainda que o Corinthians tenha evoluído em 2021, os números seguem sendo amplamente favoráveis ao clube da Gávea.
Para a sequência do ano há uma tendência a que o Flamengo amplie a distância nas receitas com Bilheteria/ST. A dúvida ainda é sobre o valor de atletas negociados.
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Por isso, a premiação da final da Copa do Brasil pode ser um importante diferencial, dado que o campeão recebe R$ 60 milhões e o vice, R$ 25 milhões.
CUSTOS E DESPESAS
No primeiro semestre de 2022, o Flamengo gastou 12% a mais com Pessoal e 54% com outros custos, fazendo com que os custos e despesas totais fossem 26% maiores que os do Corinthians. Mas qual o impacto disso no final?
Para ver o impacto vamos falar de EBITDA, que é a diferença entre as receitas e os custos e despesas “Caixa”, ou seja, que efetivamente representam saída de dinheiro do clube.
Com menos receitas, mas menos custos, o Corinthians fechou o semestre com maior EBITDA – maior geração de caixa – que o Flamengo. Nada muito grande, mas maior.
Entretanto, quando fazemos um exercício deduzindo as despesas financeiras do EBITDA, vemos que o Flamengo inverte a situação e tem resultado ligeiramente maior que o Corinthians.
Despesas financeiras têm origem basicamente nas dívidas. Então, falaremos da grande diferença entre os clubes finalistas da Copa do Brasil.
DÍVIDAS
De cara vemos que o Flamengo encerrou o semestre com dívidas R$ 600 milhões menores que as do Corinthians, e só isso já significa uma facilidade enorme em gerir o clube. Especialmente porque o Corinthians concentra um volume grande no curto prazo.
Sempre digo que o número absoluto significa pouco. Então, comparemos a dívida com as receitas.
Como falamos de seis meses de receitas, para comparar com as dívidas fazemos uma “anualização”, que é multiplicá-las por 2. Não é a melhor forma, porque o ideal seria projetarmos todos os impactos, considerando movimentos ocorridos, como novas negociações de atletas, presença na final da Libertadores, colocação no Brasileiro, entre outros. Mas como é um mero exercício, multiplicar por dois ajuda a ajustar sem machucar demais a conta.
Note que, enquanto o Flamengo deve 16% das suas receitas no curto prazo, o Corinthians deve 78%. Se descontássemos eventuais recebíveis do período, ainda assim o Corinthians precisaria usar uma boa parte da receita para cobrir esses passivos. E hoje não é isso que ocorre.
Mas o que isso tudo significa? Por que o torcedor precisa se importar com esses números?
Pois é, ele precisa conhecer e se preocupar. O cenário apresentado mostra que a conquista da Copa do Brasil é importante esportivamente para o Flamengo, e financeiramente ajuda muito. Mas, num cenário em que o clube recebe R$ 60 milhões de premiação, isso significa 6% das receitas para um clube com pouca pressão de dívidas e com as contas equilibradas.
Já para o Corinthians, os mesmos R$ 60 milhões devem representar algo como 11% do orçamento, para um clube que deve quase 1 ano de receitas no curto prazo. É um dinheiro importantíssimo para a estabilização da gestão.
Mais do que nunca, vale a máxima: final não se joga, final se ganha. E a conquista da Copa do Brasil vale cada vez mais que uma taça, vale o caixa cheio.
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