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Mulheres são investidoras conservadoras e não é à toa que os seus investimentos preferidos são poupança, imóveis e Previdência Privada. Ou, pelo menos, este é o mito que circula a respeito do “estilo feminino” de investir.
Eu acredito que este conservadorismo todo deve ser levado com um grão de sal. Pois, na realidade, o que vejo diariamente são mulheres inseguras na hora de investir por conta de uma falta de conhecimento. Quando esta barreira da educação financeira é transposta, o cenário é completamente diferente.
A conversa com mulheres investidoras começa sempre abordando o elefante na sala: o medo de investir. Mas, conforme o conhecimento dela cresce, esta questão fica de lado e entra em jogo a busca por bons retornos e a criação de uma carteira diversificada.
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Um estudo realizado pelo Merrill Lynch mostrou que os investimentos das mulheres têm um desempenho melhor que o dos homens – elas conseguem resultados de 0,4% a 1,8% maiores do que eles anualmente. Se o valor parece pequeno, não se engane: no longo prazo, com juros compostos, este patamar faz uma diferença importante.
No livro “Warren Buffett investe como as mulheres”, a autora LouAnn Lofton mostra como, na prática, o estilo feminino de investir tem as mesmas estratégias utilizadas pelo mago de Omaha, o maior investidor de todos os tempos. E quais são estas características?
As mulheres investidoras têm uma visão de longo prazo e não mexem nas suas posições o tempo todo. Elas são mais avessas ao risco – e não investem no que não entendem. Elas têm maior capacidade de pensar por si próprias e não cedem tanto às modas. Para completar, elas têm muito menos testosterona, algo que o campo da neuroeconomia já mostra que impacta a forma de aplicar o seu dinheiro.
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Uma grande vantagem das mulheres é o fato de que elas tendem a ter mais paciência com seus investimentos. Geralmente, elas desenvolvem uma estratégia e conseguem mantê-la no longo prazo – é o famoso princípio de “Buy and Hold”, de Buffett. Desta forma, elas têm menos custos de corretagem e conseguem aplicar para o longo prazo – estratégia similar à adotada por Buffett e que tende a trazer mais retornos.
Além disso, elas tendem a ter uma abordagem mais diversificada do que a dos homens, “e não uma que pende muito fortemente para ações em detrimento de títulos públicos, ou para um setor de mercado, como tecnologia”, diz Marci McGregor, estrategista sênior do Merrill Lynch. Desta forma, elas conseguem reduzir a sua exposição a risco e manter bons retornos.
Uma questão central é a forma como as mulheres percebem o risco. Elas tendem a ser menos otimistas do que os homens, o que as torna mais realistas. Elas também sofrem menos de excesso de confiança, um fator que diversos estudos já ligaram a perdas sofridas por investidores do sexo oposto.
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Durante a Expert Talks em Florianópolis, no fim de 2019, vi a Luciana Seabra, fundadora da Spiti, contar a sua experiência de comparar a forma com que os homens e as mulheres investem. Segundo Seabra, elas demoram mais e fazem mais perguntas – e esta tática é acertada. Desta forma, elas investem apenas naquilo que entendem e são mais abertas a indicações e conselhos de profissionais do mercado. Esta postura de pesquisar com calma a ação é uma característica de Buffett, que leva anos para escolher uma ação e faz uma pesquisa pormenorizada da empresa e do setor.
Outro ponto (que vivencio diariamente) é que as mulheres tendem a investir para realizar objetivos específicos. Sou sócia da Ella’s Investimentos e vemos que todas as nossas clientes nos procuram sempre para ajudá-las a realizar um sonho. Seja um MBA fora do País ou uma aposentadoria tranquila, o que motiva a mulher a investir, mais do que a busca por rentabilidade, é a realização de suas metas e planos.
A cereja do bolo é o fato de que as mulheres podem utilizar a sua própria longevidade como um dos seus maiores ativos. “Uma vez que as mulheres vivem mais do que os homens, elas têm mais tempo para investir – e isso significa ter mais tempo para deixar as suas aplicações renderem”, defende McGregor.
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Ainda assim, as mulheres representam apenas 22% do total de investidores na Bolsa. Por isso, acredito que já passou da hora de desmistificarmos a noção de que as mulheres são conservadoras e reconhecermos que, com o mesmo nível de conhecimento, elas podem investir com qualidade. Há muito que os homens podem aprender com elas.