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Todos conhecem o Prêmio Nobel. A medalha Fields, de matemática, é um pouco mais obscura. A premiação da Fundação MacArthur é conhecida como “bolsa para Gênios”.
Já o IgNobel tem outra função: trata-se de uma paródia para celebrar conquistas científicas que “fazem rir, e depois pensar”.
Diamantes feitos de tequila já conquistaram a honraria. Uma pesquisa que buscava evidências de que comer pizza pode evitar câncer e infartos, também. Chegou a virar meme: em 2017, um vencedor postulava que gatos não são 100% sólidos; na realidade, podem ser líquidos.
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Encontrei recentemente um estudo publicado no “Personality and Social Psychology Bulletin” que poderia ser indicado ao IgNobel de 2020: de que existe um “ponto ótimo” em que os maridos estão mais satisfeitos com os salários de suas esposas.
Se a esposa ganha mais que o marido, isto gera insatisfação. Se ele depende financeiramente dela, a situação fica pior ainda. Por outro lado, a pressão de ser o provedor e ficar responsável pela totalidade dos ganhos também traz sofrimento.
Qual é, então, o ponto de maior satisfação? Quando suas parceiras recebem 40% da renda total da família.
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A autora do estudo, Joanna Syrda, afirma que os resultados “refletem o nível de estresse associado com o fato de ser o único provedor e, ainda mais significativamente, com o desvio nas normas de gênero quando os maridos ganham menos do que suas esposas”.
O levantamento mostra que o estresse psicológico dos maridos tem o formato de um U. Quando controlam o total da renda familiar é alto, e vai caindo conforme o salário dela aumenta – até chegar à proporção de 60% (dele) e 40% (dela).
A partir daí, o estresse volta aumentar gradativamente até chegar ao maior nível: quando ele depende financeiramente dela.
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Ou seja: o marido não fica confortável com um estado de dependência total, seja a dele ou a da sua esposa. No entanto, um equilíbrio na renda do casal, quando cada um contribui com a metade, também gera insatisfação de parte dele.
Como lidar então com o fato de que, de acordo com o IBGE, 38% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres?
O estudo mostra na teoria o que vejo na prática. Um dos assuntos mais recorrentes dos e-mails que recebo de leitoras é o desconforto nos casamentos quando elas ganham mais do que eles.
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Vivemos ainda em uma sociedade que espera que os homens tenham salários maiores.
Na média, eles têm – e muito maiores. No Brasil, as mulheres ganham, em média, 20% menos que os homens. Essa diferença é ainda maior quando falamos de mulheres com nível superior completo: neste caso, recebemos apenas 64% do rendimento deles.
E, se ela for mãe, ganha 35% menos que as mulheres que não têm filhos. A diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras chega a 50%.
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Esta desigualdade tem um custo enorme: se ela não existisse, o PIB global seria 26% maior, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Quanto maior a prosperidade, maior a felicidade, certo?
A resposta, de acordo com o estudo de Joanna Syrda, é: depende. As mulheres devem acompanhar no avanço da riqueza, mas sempre um passo atrás.
O que me enche de esperança é o fato de que esse efeito da relação entre o estresse do marido e a renda da esposa não é encontrado entre casais onde as esposas ganhavam mais do que os maridos desde o início do casamento – “o que aponta para a importância da seleção do parceiro”, nota a autora.
Será necessário aguardar até o momento em que os salários de homens e mulheres forem iguais para superar esta crise potencial nos casamentos ao redor do globo?
Espero que não.