Por que não somos competitivos?

A ideia de competição está sempre relacionada à de comparação. No mundo globalizado, em geral, a competitividade da nossa economia costuma ser medida pela comparação entre os preços dos bens e serviços produzidos no Brasil e o de produtos equivalentes originários de outros países, de quem importamos e para quem gostaríamos de exportar.

Rubens Menin

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A ideia de competição está sempre relacionada à de comparação. No mundo globalizado, em geral, a competitividade da nossa economia costuma ser medida pela comparação entre os preços dos bens e serviços produzidos no Brasil e o de produtos equivalentes originários de outros países, de quem importamos e para quem gostaríamos de exportar. Nessa comparação mais frequente, é fácil observar que não somos competitivos porque é caro produzir no Brasil.

Em outros tópicos deste blog já tive oportunidade de conceituar o assim chamado “Custo Brasil”, que é o diferencial que gastamos a mais que os nossos concorrentes internacionais para a fabricação dos mesmos produtos e que, no cotejo com a maioria dos mercados que nos interessam mais de perto, pode ser estimado como sendo um acréscimo médio da ordem de 30 a 40% do preço final. Esse adicional ou “Custo Brasil” varia de setor para setor ou mesmo entre produtos diferentes de uma mesma linha industrial, já que decorre da ação conjunta e variável de vários fatores, como a elevadíssima carga tributária, as deficiências de infraestrutura, o excesso de burocracia, o alto preço de alguns insumos semi-monopolizados pelo governo ou desfavoravelmente regulamentados (tarifas de energia, combustíveis, saneamento, comunicações, armazenamento e transporte, por exemplo) e os juros estratosféricos.

Volto a esse tema para abordá-lo por um prisma diferente e complementar. O “Custo Brasil” não está prejudicando a nossa competitividade apenas no que diz respeito aos produtos industrializados, que temos capacidade para fabricar, mas que, cada vez mais, perdem espaço para os similares estrangeiros. Também não estamos perdendo a corrida apenas em alguns mercados do setor de serviços mais expostos à concorrência com outras ofertas internacionais como o turismo, por exemplo, (onde as nossas tarifas hoteleiras são das mais altas do mundo). Existe um lado menos visível nessa perda geral de competitividade e que não tem sido muito comentado. Alguns segmentos industriais não estão expostos diretamente à concorrência internacional. É o caso da Construção Civil, por exemplo, cujos produtos só interessam ao mercado comprador nacional se forem construídos aqui, dada a impossibilidade de importá-los prontos. Idêntica situação ocorre também, largamente, no setor de serviços. Ninguém imagina substituir fornecedores da categoria de serviços pessoais (manicure, por exemplo) por concorrentes estrangeiros. Nesses setores, também, não temos a pretensão de exportar os nossos produtos para outros mercados externos. Não temos como fazer isso com um apartamento ou com um atendimento odontológico, também por exemplo.

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Mas, mesmo não estando expostos à concorrência direta com os similares internacionais, os bens e serviços mencionados no parágrafo anterior não estão protegidos dos efeitos perversos do “Custo Brasil”. O nosso mercado interno tem uma certa e limitada capacidade de compra desses bens e serviços e, quando eles são oferecidos a preços muito elevados, a demanda final diminui naturalmente. Se pudéssemos produzir imóveis ou serviços pessoais mais baratos, um volume muito maior de vendas seria alcançado. Com benefício para a economia, para o setor produtivo e, principalmente, para o bem-estar dos consumidores. Infelizmente, o aumento continuado do “Custo Brasil” tem anulado boa parte do crescimento do mercado doméstico, que foi originado com a melhoria dos níveis de renda e emprego observada nos últimos anos.

Acho importante destacar esse efeito menos visível. Não basta apenas repetirmos que os brasileiros gastam duas ou três vezes mais do que os cidadãos de outros países para comprar automóveis, eletrodomésticos, combustíveis e alguns tipos de alimentos. É igualmente importante sabermos que também pagamos muito mais caro por produtos ou serviços que não estão expostos à concorrência internacional. Um bom indicador disso é o “Índice Big-Mac”, que utiliza, como unidade de comparação, o preço do popular sanduíche nos diversos países. Na última divulgação desse índice, o Brasil ocupava a quinta posição entre mais de cem países. Ou seja, o sanduíche produzido e vendido aqui, com as mesmas especificações padronizadas, custa mais caro do que em quase todos os demais países, perdendo apenas para Venezuela, Noruega, Suécia e Suíça. Com a redução do “Custo Brasil”, um número muito maior de sanduiches desse tipo poderia ser vendido aqui, para ficar apenas nesse único e emblemático exemplo.