Copiando os Vencedores

Tenho a convicção de que a melhor forma de aprender uma coisa ou de ser bem-sucedido em um método ou processo qualquer é copiar ou assimilar exemplos vencedores (internos ou externos, dependendo de onde eles existam) e, ao mesmo tempo, refletir sobre os nossos próprios erros ou insucessos.

Rubens Menin

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Em março deste ano desenvolvi, neste blog, o tópico Lições dos países mais civilizados. Naquela oportunidade pretendi mostrar o equívoco contido em uma idéia muito difundida entre nós: a de que temos que olhar sempre para o nosso próprio umbigo, buscando soluções e métodos tupiniquins para resolver os problemas brasileiros e negando a validade das comparações internacionais e da importação de atitudes e processos bem-sucedidos que tenham sido descobertos ou adotados por outras nações. Alguns meses depois, no clima de perplexidade que se seguiu à retumbante surra que nos foi aplicada pelos alemães, voltei a cutucar essa embaraçosa relação de causa e conseqüência entre as atitudes nacionais, de um lado, e a falta de resultados, de outro lado, no tópico Lições da Maior Derrota do Futebol Brasileiro. Não sei, sinceramente, se esses dois textos tiveram algum resultado – por menor que seja – no convencimento de algum brasileiro à mudança nas idéias isolacionistas e autárquicas praticadas nestas plagas ou, até mesmo, no convite à reflexão. Mas, mesmo que o esforço expositivo tenha sido completamente inútil, não consigo livrar-me do ímpeto de voltar ao assunto, focando as coisas, desta vez, por uma ótica mais prática e, talvez por isso mesmo, mais convincente.

Tenho a convicção de que a melhor forma de aprender uma coisa ou de ser bem-sucedido em um método ou processo qualquer é copiar ou assimilar exemplos vencedores (internos ou externos, dependendo de onde eles existam) e, ao mesmo tempo, refletir sobre os nossos próprios erros ou insucessos. Atingido o patamar mínimo pretendido em cada caso, essa atitude deve continuar, em um processo que hoje tem sido usualmente denominado de “benchmarking”. Para mim, isso é válido, tanto no âmbito da vida pessoal ou doméstica, como em campos mais dilatados e complexos (como a forma de organização da sociedade e de seus comportamentos, assim como da própria economia em seu sentido mais amplo).

Como país, nunca é demais olharmos para a nossa vizinhança mais próxima para colhermos alguns ensinamentos estratégicos. Talvez, começando pelo mau exemplo argentino. Há pouco menos de 70 anos, a Argentina emergiu da Segunda Guerra Mundial como um país desenvolvido e próspero, mais rico e bem estruturado que qualquer nação européia, com um nível invejável de cultura, educação e saúde, entre outros indicadores de bem-estar. No entanto, a seqüência interminável de atitudes equivocadas e de decisões erradas tomadas pelos “hermanos” acabou configurando a esdrúxula situação de ser a Argentina, hoje, talvez o único exemplo mundial de país que passou de desenvolvido a subdesenvolvido (afasto propositadamente o eufemismo tolo de tratar esse estágio final como “em desenvolvimento”). O estado atual de moratória dos vizinhos é apenas uma conseqüência mais imediata desse processo, que decorre do desequilíbrio fiscal e das contas externas argentinas, sendo que este, por sua vez, resulta simplesmente do populismo gerencial continuado. Ainda na nossa vizinhança próxima, aparece o exemplo diametralmente oposto do Chile, que tem uma economia equilibrada, um sistema previdenciário bem resolvido, uma economia de mercado que funciona, além de bons índices de educação, saúde e segurança pública. Não é difícil encontrar as atitudes e decisões adotadas pelos chilenos para alcançarem essa situação de sucesso.

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Os exemplos são muitos e não haveria como resumi-los aqui. Mas, nunca é demais mencionar a situação de prosperidade atual da Inglaterra. Apenas para ficar em um detalhe de todo o conjunto: Londres ressurgiu como centro financeiro mundial, mesmo com a Europa castigada por uma grave crise econômica. As razões disso podem ser muitas, mas há que se reconhecer o papel fundamental da estabilidade institucional e financeira da Inglaterra, com a adoção de atitudes e métodos que produziram um ambiente econômico de regras claras e respeitadas, propício à prosperidade. Na Europa, a situação privilegiada da Alemanha também destoa do assim chamado Club Med (Grécia, Itália, Espanha e outras nações do Mediterrâneo), especialmente pelo desenvolvimento tecnológico e produtivo alcançado por sua portentosa indústria. Também lá é fácil reconhecer as atitudes e decisões que estão por trás desse sucesso. Basta que se pesquise a razão do aparente paradoxo: o salário do trabalhador alemão na fábrica da Volkswagen é muitas vezes superior ao salário de seu equivalente brasileiro, mas o seu custo final por unidade produzida (veículo equivalente) é surpreendentemente menor – o número de homens-hora aplicados na fabricação de cada veículo (essência da produtividade da mão de obra) é muito menor do que o da fábrica brasileira. Posso deixar de exemplificar com a situação dos EUA, cujo sistema universitário produz efeitos importantíssimos e bem conhecidos na economia daquele país. Mas, não gostaria de deixar a Coréia de fora dessa lista de exemplos vencedores. Esse, sim, há 30 anos, era um país subdesenvolvido e, hoje, tem 82% de seus jovens matriculados em ótimas universidades, tornou-se um grande exportador mundial de produtos de qualidade (automóveis inclusive) e colhe como prêmio principal o enriquecimento geral de seu povo (atualmente, a renda per capita dos coreanos é cerca de três vezes maior que a dos brasileiros). Esse é um milagre de muitas causas, mas as principais delas têm a ver, mais uma vez, com as atitudes e decisões tomadas ali ao longo dos anos.

O tema é instigante e poderia ser muito estendido e melhor detalhado. Mas, no espaço disponível deste blog, cabe somente a indagação final: vamos copiar os exemplos vencedores ou vamos continuar na atitude do avestruz que prefere enterrar a cabeça no chão?