Tecnologia impulsiona criação de novas profissões no mercado financeiro

Setor tem demandado profissionais para atuar com cibersegurança e inteligência artificial e ciência de dados

Martha Alves

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O uso de novas tecnologias no mercado financeiro tem impulsionado o surgimento de novas profissões especialmente nas áreas de cibersegurança, inteligência artificial (IA) e ciência de dados. Com isso, cada vez mais é exigido uma mão de obra especializada para manusear ferramentas e recursos ainda pouco explorados e que muitas vezes estão em fase de implantação.

Samantha Mazzero, professora da FIA Business School, diz que as profissões do futuro no mercado financeiro estão ligadas à área de tecnologia e que elas estão mudando para atender novos consumidores, como os da economia prateada, que cresceu muito nos últimos anos no Brasil — as pessoas com 50 anos ou mais correspondem a 16,7% da população brasileira e deve dobrar até 2060, segundo dados de 2022 do IBGE.

Ela explica que essa geração prateada conseguiu acumular mais riquezas que as outras, quer aproveitar a vida e ao mesmo tempo investir de forma adequada pensando na longevidade, diversificação de investimentos com uma parte líquida para emergências com menos taxas. “Os bancos estão desenvolvendo isso de forma bastante intensa porque compreenderam a economia silver [prateada]. Eles têm produtos e profissionais que focam na necessidade desse cliente.”

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Segundo a professora, o uso da Big Data e da Inteligência Artificial também vão demandar mais profissionais e surgirão novas carreiras nos próximos anos, como a de engenheiro de prompt, que tem como uma das principais funções refinar o que as pessoas digitam na IA. “Vai ter uma mescla entre o que se fazia antigamente com programação de linguagem de computador que era mais complexa para chegar em alguns resultados hoje com inteligência artificial que vão conseguir resultados muito mais profundos.”

O aumento do uso da inteligência artificial, que também abriu espaço para ataques de hackers, tem exigido das empresas ainda mais investimento na cibersegurança com novas tecnologias e contratação de profissionais que dominem a linguagem hacker. Segundo a professora, existem iniciativas no Vale do Silício de formação de engenheiros de cibersegurança, mas eles estão criando esse conhecimento para ter robustez suficiente para poder formar.”

“Empresas do mercado financeiro que não tiverem esse background [experiência acumulada] da segurança cibernética e esse potencial de processamento de entender como isso vai funcionar , aliado à inteligência artificial, não vão conseguir sobreviver nos próximos de 3 a 5 anos.”

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Paulo Vicente Alves, professor da Fundação Dom Cabral, acredita que também haverá muita procura por “subfunções” de ciência de dados, profissionais de estatística e de programação para desenvolver produtos fáceis para atender quem precisa usar as tecnologias. “Vai precisar de profissionais que conseguem fazer softwares e aplicativos de baixa codificação e sem codificação para permitir que essa massa que não conhece a tecnologia como uma pessoa de TI possa ser capaz de usar a tecnologia.”

Outro movimento que está acontecendo no segmento é que os processos estão sendo divididos e criando novas funções. Segundo Mazzero, as áreas passaram a ter subdivisões e atuações tão específicas que não é possível um ser humano dominar e conhecer na profundidade necessária suficiente para gerir todas as frentes.

O professor da Fundação Dom Cabral diz que o conhecimento na área passou a ser tão vasto que as pessoas não estão dando conta de tudo e foi preciso reduzir o escopo para aprofundar. “Do ponto de vista de carreira, o profissional tem que fazer uma escolha até onde ele vai se limitar porque se ficar muito especialista em uma coisa e aquilo mudar pode perder o emprego”, alerta Alves.

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Mazzero destaca ainda que a economia informal do Brasil e a instabilidade econômica são outros fatores que favoreceram a busca de novas alternativas para colocar as pessoas formalmente no mercado financeiro com serviços como o Pix e os bancos digitais que não têm custos altos de manutenção.

“Hoje tem uma adaptação de algumas funções que estão acompanhando as mudanças de mercado para atender demandas. Você passa a ter necessidades que não tinha antes, como ter um profissional especializado em cibersegurança para proteger informações estratégicas do cliente que podem ser invadidas.”

Novos empregos

Por mais que as pessoas tenham medo de perder os empregos com a automatização dos processos, Alves diz que os profissionais serão aproveitados em outras áreas que eles podem fazer tarefas melhor que as máquinas, como resolver problemas, usar criatividade e lidar com pessoas.

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Segundo o professor, as máquinas precisam de um ser humano para dirigir, alimentar com informações e solucionar problemas que não conseguem sozinhas, como os cientistas de dados que entendem do negócio, de programação e estatística. “A máquina não lidera e não tem o mínimo de empatia, nem capacidade para lidar com as pessoas e as vendas precisam de uma conexão que é feita pelo ser humano.”

Ele diz que a boa notícia é que as novas tecnologias vão gerar muito mais emprego que eliminar. Alves garante que a medida que os serviços ficam mais baratos, geram mais oportunidades, a exemplo do que aconteceu com a telefonia fixa com a chegada dos celulares, que se popularizaram e a indústria gerou muito mais emprego.

Com o mercado de trabalho se transformando tanto com a tecnologia, Alves avalia que os profissionais terão que desenvolver habilidades, skills e saber usar novas ferramentas. O professor diz que eles terão que ser capazes de se adaptar às mudanças, ter disposição e gostar de aprender. “Precisam conhecer um pouco de lógica de programação, independente da carreira, o que é um algoritmo e como montar, porque isso ajuda a raciocinar nesse novo mundo.”

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Profissões ganham novos nomes

Maximiliano Jacomo, docente do MBA em defesa e segurança cibernética da XP Educação, diz que muitas empresas estão nomeando cargos com base nas necessidades e não criando novas profissões no mercado financeiro. Não existem cursos em faculdades para formar esses profissionais.

O professor cita o exemplo do ciber evangelista, que é um profissional da área de segurança dedicado a disseminar boas práticas da cultura de segurança cibernética, mas vai acabar sendo contratado como um analista de segurança. Assim como um profissional denominado como analista de dados de experiência, que ele diz que na prática não passa de um analista de dados.

Jacomo explica que os nomes dos cargos são importados de fora do Brasil, onde não tem uma CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ele cita outro profissional, o DPO (Data Protection Officer), que é responsável pela proteção de dados. “É uma nova profissão em termos de nome, mas você não vai encontrar um curso em uma faculdade de analista de dados de experiências do cliente ou ciber evangelista.”

Segundo o professor, muitos profissionais estão se especializando em ciência de dados para atuar no mercado financeiro. “Hoje os profissionais que estão mais procurando são da ciências de dados, inteligência cibernética e segurança cibernética voltada para o universo financeiro. Essas profissões estão sendo reinventadas de acordo com a necessidade das empresas.”

O que é a engenharia de prompt

Formado em Ciência da Computação e com especializações em Big Data Machine e engenharia de software, Marcos Wada atua há cerca de um ano e meio com inteligência artificial no C6 Bank e há poucos meses começou a participar do desenvolvimento da área de engenharia de prompt, que faz um link entre a inteligência artificial e o negócio.

Wada explica que o papel do profissional é enviar informações por meio de uma caixa de textos simples — sem nenhum código tradicional da informática — para a IA dar uma resposta que pode ser desde textos a gravuras e gráficos. Mas ele prefere não ser chamado de engenheiro de prompt, pois é uma profissão que não possui ainda uma graduação.

“O engenheiro de prompt surgiu com essa questão do chat GPT e área generativa [capaz de aprender com padrões complexos a partir de uma base de dados], mas a inteligência artificial já existe há um bom tempo no mercado e as empresas já utilizam. Muitas vezes as pessoas fazem o papel de engenheiro de prompt, uma palavra do momento, mas não com esse nome e papel específico”, explica Wada.

Como as tecnologias ainda são recentes, Wada diz que ainda não existe um padrão estabelecido para ser um bom engenheiro de prompt. Segundo ele, o profissional precisa atuar em uma área de negócios e ter um conhecimento mais aprofundado da tecnologia que está usando. “Não precisa dominar de forma técnica a [linguagem de] programação e desenvolvimento. Ele precisa saber qual é a melhor forma de escrever um texto para você atingir de forma efetiva o que você está querendo daquele sistema que está usando.”

A dica de Wada para quem deseja começar a trabalhar com engenharia de prompt é começar a ter contato com as tecnologias de IA que estão abertas ao público. Ele diz que elas estão bem simplificadas, mas alerta as pessoas não são tão simples como parecem. “É interessante as pessoas testarem para ver como funcionam porque a medida que conhecem começam a tirar mais proveito.”

(Getty Images)

Novas profissões demandadas pelo mercado financeiro

Ciber evangelista

O ciber evangelista é um profissional dedicado a disseminar boas práticas de segurança da informação para incutir a cultura o saber dentro da empresa para os funcionários que não são especialistas no assunto. Ele faz campanhas de endomarketing, pensa em dinâmicas e testes educacionais, faz treinamento para os funcionários, inclusive com revisão ao longo do tempo com os colaboradores.

Designer de dados

O designer de dados é responsável pela organização, disponibilização e utilização de dados para a construção de melhores experiências. É tarefa dele construir ecossistemas sustentáveis de dados, do produto e da operação, comunicando insights acionáveis.

UX Writer

O UX Writer é responsável pelos textos e conteúdo que o usuário encontra dentro do produto ou serviço, antecipando e esclarecendo dúvidas. Ele constrói e gerencia guias de estilo, tom de voz e estratégias de conteúdo garantindo que as mensagens e conteúdos sejam consistentes, fáceis de entender, alinhados com os objetivos do produto ou serviço.

Engenheiro Prompt

Os engenheiros de prompt enviam informações por meio de uma caixa de textos simples – sem nenhum código tradicional da informática – para a IA dar uma resposta que pode ser desde textos a gravuras e gráficos.
Ao contrário de outros profissionais da área de tecnologia, ele não precisa dominar de forma técnica a linguagem de programação e desenvolvimento. Mas o engenheiro de prompt deve saber qual é a melhor forma de escrever um texto para atingir de forma efetiva o que você está querendo do sistema que está usando.

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Martha Alves

Jornalista e Mestre em Comunicação. Foi repórter nos jornais Folha de S. Paulo e Agora São Paulo e acumula experiência em comunicação corporativa