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Caçador de mentes é uma tradução literal e meio estranha para os profissionais especializados em buscar as pessoas ideias para posições estratégicas em companhias, os headhunters.
Mas é certo que esses especialistas precisam mesmo ter os olhos e ouvidos muito atentos, na busca pelas pessoas ideias.
Ricardo Basaglia, autor do livro Lugar de Potência – Lições de carreira e liderança de mais de 10 mil entrevistas, cafés e reuniões, é uma dessas pessoas. Ele atuou como headhunter por mais de 15 anos e ocupa, hoje, o cargo de CEO do PageGroup Brasil, um conglomerado formado por consultorias de recrutamento que está em 36 países pelo mundo.
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No seu livro de estreia, Basaglia resume mais de 10 mil cafés, reuniões de negócios e entrevistas de emprego em lições de carreira. “Na carreira, parece que todo mundo começa do zero, errando, recebendo feedbacks e melhorando aos poucos. Minha intenção com o livro é ajudar as pessoas a começar a carreira de outro ponto, aprendendo com os erros dos outros”, diz Basaglia.
Em entrevista ao InfoMoney, Basaglia falou sobre a obra e respondeu a perguntas que todo profissional faz a si mesmo: como ter sucesso na carreira?
Como foi seu planejamento de carreira?
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Eu sou o exemplo de alguém que não soube planejar a carreira. Queria ser programador porque era muito tímido. Uma coisa não tem relação com a outra, mas diz muito sobre o pouco que sabemos sobre o mercado de trabalho quando começamos a trajetória profissional.
A verdade é que eu não sou diferente da média. Percebi que uma parte importante das pessoas foram se descobrindo ao longo do tempo, e que mesmo falando tanto de carreira e liderança, nada disso é explicado para quem está começando a trabalhar.
Qual seria a forma de passar esse conhecimento adiante?
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Diferente da matemática, que começou alguns milênios atrás com uma construção coletiva, em que cada pessoa desenvolve um pouco de conhecimento e passa para a geração seguinte, quando o assunto é carreira, parece que todo mundo começa do zero, errando e recebendo feedback e melhorando aos poucos. Minha intenção com o livro é ajudar as pessoas a começar a carreira de outro ponto, aprendendo com os erros dos outros.
Quais seriam alguns desses erros?
Um dos principais deles está no momento de contratação. As pessoas são contratadas por habilidades técnicas e demitidas por habilidades interpessoais. Todo mundo se lembra de alguém que se encaixa nessa estatística.
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Na sua opinião, qual é o caminho do sucesso?
A verdade é que quanto maior a qualificação, maior o poder de escolha do profissional. Dito isso, há alguns outros pontos a se considerar.
O primeiro deles é o autoconhecimento. As pessoas precisam saber ao menos no que são boas, no que são ruins e o que querem com o trabalho. Não estou falando de currículo aqui, de como escrever o objetivo, estou falando de direcionamento de carreira.
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Quando está buscando um trabalho, precisa ter direcionamento, precisa saber negociar uma proposta salarial. Nada disso é ensinado. E, uma vez contrato, como você vai crescer dentro daquela organização? Como vai ter uma promoção, receber um aumento, se relacionar?
E, finalmente, quando se chega a uma posição de liderança, coo assumir esse papel? Porque um dos maiores erros das organizações está justamente na liderança.
Como assim?
Pessoas erradas nas posições erradas tornam o trabalho de todos muito mais difícil.
Passamos cerca de um terço da vida trabalhando. É claro que isso tem um impacto na nossa saúde mental. Não à toa temos ambientes tão tóxicos. Um líder ruim não é, necessariamente, uma pessoa ruim. Pode ser uma pessoa que não está preparada ou que não consegue ter um impacto positivo na equipe.
Existe uma dificuldade extra no trabalho das lideranças agora: como organizar melhor esse desafio no mundo com uma dicotomia.
Qual são os maiores desafios do mercado de trabalho hoje?
O mercado de trabalho está vivendo uma dicotomia. Há milhões de desempregados, desalentados e pessoas trabalhando em subempregos. Por outro lado, toda empresa tem posições em aberto e não consegue fechar as vagas porque não encontra gente. Temos que responder a isso como sociedade. Como isso pode ser endereçado.
A pandemia teve um impacto direto no mercado de trabalho. Quais mudanças esse momento trouxe para o mercado e para as pessoas? E quais delas permanecerão?
O que a pandemia trouxe foi um olhar para a forma de trabalho. Havia muita gente operando no automático que parou para pensar: “Será que é isso mesmo que eu quero?” Mercado de trabalho é um organismo vivo que reflete as transformações da sociedade. À medida que a sociedade se transforma, o mercado vai mudando.
Determinados tipos de comportamento eram mais tolerados, no tratamento, na ausência de diversidade. Agora não mais.
Para mim, há um ponto ainda mais amplo: nunca se falou tanto do posicionamento que uma empresa tem, porque cada vez mais consumidores tomam decisões de consumo ou de trabalho com base nesse posicionamento. Isso é sem precedentes.
Para as organizações, há uma provocação que eu sempre faço: a maior parte das empresas estão tão focadas no resultado que esquecem de focar no que entrega o resultado. Quem entrega o resultado de uma companhia? As pessoas.
Bem-estar e resultado são coisas distintas. Mas é certo que pessoas felizes entregam mais resultado porque encantam mais o cliente, conseguem dar mais ideias, sentem segurança para se posicionar.
Quais são as principais lições do livro?
O foco está em quatro elementos principais. O primeiro é o autoconhecimento. É essencial que as pessoas saibam o que elas querem e qual é o melhor ambiente para elas: se é mais dinâmico, mais tranquilo, mais agressivo.
O segundo ponto é a atitude: é preciso assumir o controle da sua própria carreira e cuidar do seu desenvolvimento.
Falo ainda da adaptabilidade, que é diferente da flexibilidade. A segunda é se moldar a uma situação externa para se encaixar, enquanto a primeira é aprender e criar uma nova versão de si.
Por fim, falo da ambiguidade. Para quem está no começo da carreira, esse ponto pode parecer estranho, afinal, nas posições de entrada não há muita ambiguidade.
Mas, à medida em que você vai crescendo dentro da organização, passa ter que lidar mais e mais com questões complexas como: demitir ou dar uma mais chance? Pesar primeiro no lucro ou no faturamento?
Não tem resposta certa ou igual para todos, normalmente. Essa ambiguidade é o resultado de um novo mundo e o papel do líder é, justamente, reduzir a ambiguidade do time e apontar o caminho.
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