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SÃO PAULO – A geração Y ainda é motivo de preocupação para muitas empresas, que não se adaptaram totalmente ao estilo de vida e de trabalho desses jovens. E estas mesmas companhias também estão recebendo jovens de outra geração que já ingressam no mercado de trabalho: a geração Z ou geração 2000.
Ela compreende os jovens nascidos a partir dos anos 1990 e que, hoje, têm até 24 anos. Entre eles estão os nascidos nos anos 2000 – e que, portanto, cresceram cercados de empresas como o Google, Microsoft e das tecnologias das mesmas, principalmente a internet. Essas são características que, até então, nenhuma outra geração teve, e fazem desses jovens uma “surpresa” para as corporações.
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Hoje eles correspondem a uma parcela pequena do mercado de trabalho, mas já em 2020 serão 24% da força de trabalho global, de acordo com um estudo de gerações elaborado pela consultoria de recursos humanos Manpowergroup.
Condizente com os rumos que a tecnologia e as carreiras seguem, a expectativa é de que eles chegarão ao mercado com muito treinamento técnico: aprendem com computadores e conhecem as novas tecnologias. Apesar de terem “muito a oferecer” neste aspecto, segundo Bruce Tulgan, consultor de liderança norte-americano, especialista na geração Z e autor do livro “O Que Todo Jovem Talento Precisa Aprender”, publicado no Brasil pela editora Sextante, eles falham nos aspectos mais humanos que o mercado pede: não são organizados, focados, pontuais e não tem hábitos “corporativos”.
“Essa é uma tendência e um modelo de trabalho que tem sido criado nos últimos 10 anos, por isso pouco se fala nele”, disse Bruce. “Eles tiveram acesso à tecnologia de uma forma muito mais profunda, sabem se comunicar, tem acesso à muitas informações e são mais instruídos, mas ao mesmo tempo dependem muito de coaching e instrução de seus pais e chefes”, disse.
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É nesse aspecto que surge uma das mudanças que mais devem ser sentidas, a da relação entre chefe e empregado. Tanto Bruce quanto Fernando Mantovani, diretor geral da consultoria de RH Robert Half, concordam no ponto de que os jovens da geração Z não têm senso de hierarquia em seu trabalho, e veem os chefes como “professores” que os ajudarão a crescer na carreira.
“Eles precisam muito de feedback, é uma necessidade deles que temos notado. Querem comunicação mais frequente, ajuda, mas ao mesmo tempo não gostam de uma autoridade que tenha controle de sua agenda, local de trabalho e vestimenta”, disse Mantovani. Para solucionar esse problema é preciso que o jovem aceite aprender as coisas de uma forma diferente, entendendo que ele também precisa mudar, e que o chefe crie uma relação não hierárquica, mas comportamental. “Ambas as partes têm que entender que deve existir um equilíbrio, um alinhamento de expectativas,”, disse.
A Ambev é uma das empresas que já sentem isso no dia a dia. Por ser uma companhia que, historicamente, sempre contratou pessoas muito jovens, as novas gerações sempre chegam lá antes.
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“O que eu percebo é que eles gostam muito de transparência e clareza na relação de trabalho. Querem saber o que podem entregar para a empresa”, afirma a diretora de desenvolvimento de gente da Ambev, Fabíola Overrath. As mudanças que a empresa promove para se adaptar aos jovens começa já no processo seletivo, que é digital. Eles também costumam realizar lives com colaboradores mostrando quais são suas atividades e o dia a dia da empresa.
Após o processo seletivo, o jovem que ingressa na companhia tem momentos de troca com os profissionais mais sêniores, para que eles “se ajudem” e compartilhem experiências. “Estamos nos adaptando muito bem. Todos aqui estão cientes de que tem coisa nova chegando”, disse a diretora.
Imediatismo e propósito
Um dos pontos que os especialistas defendem que a geração Z deve mudar é a questão do tempo. Para os jovens, o imediatismo é muito importante. Isso significa que eles querem, em períodos curtos de tempo, se tornarem diretores. Fazem somente o necessário para crescer. “A dinâmica fundamental desses jovens no mercado de trabalho é que eles não pensam no longo prazo, não esperam o futuro. Eles pensam em transação, em se manter bem em um curto prazo”, explicou Tulgan. O impacto sentido pelas empresas é imediato, já que as gerações anteriores, principalmente a dos baby boomers e a X, valorizavam uma estabilidade a longo prazo. Mas nisso existe um lado positivo. Para Juliana Caribé e Pedro Dantas, da consultoria de recursos humanos 2XS, no pouco tempo que esses profissionais ficam em uma empresa, a entrega de resultados faz valer a pena. “Se antes as pessoas achavam feio colocar no currículo que ficaram só seis meses em uma empresa, hoje isso não existe mais. O curto período não significa mais que eles não fizeram um bom trabalho”, disse. Essa vontade e ânimo de trabalhar vem de outro requisito que os jovens têm de seus futuros empregos: a existência de um propósito e uma motivação. Não se trata mais, portanto, de um emprego cujo objetivo é ter um salário para pagar as contas – é também uma forma de colocarem em prática seus ideais, seus projetos, e levantar uma bandeira. “Se torna um problema quando as empresas passam a querer atrair os profissionais com ‘mimos’, como um escritório diferente, mesas de sinuca, videogame, mas não cumprem com o propósito que fingem ter. Essa até pode ser uma geração mimada, mas, profissionalmente, suas aspirações são mais altas”, disse Juliana. Qual é minha profissão?
Existe um motivo de preocupação para os jovens da geração Z: a dúvida de quais serão suas futuras profissões. “O desafio para eles é de entender quais serão suas profissões e o que eles devem aprender. A tecnologia hoje influencia as carreiras e o mercado de tal forma que, em apenas três anos, 65% das empresas já dizem não saber de qual profissional elas precisarão”, disse Nilson Pereira, CEO da Manpowergroup. “Isso quer dizer que quando esse jovem entrar no mercado de trabalho, a profissão que ele escolheu já pode ter pouca importância para a empresa. Não há mais tanta clareza na formação. As carreiras que eles vão desempenhar ainda não existem”. Por isso os especialistas insistem na importância de manter-se sempre atualizado em sua formação. “Os profissionais terão sempre que correr atrás das novas tecnologias, formas de trabalho, novos conhecimentos. Se não estudarem, eles automaticamente ficarão fora do mercado de trabalho”, disse Mantovani, da Robert Half. Mesmo com tantas informações, é difícil para todos os especialistas quantificar e especificar as aspirações profissionais desses jovens e as áreas que eles ocupar, pelo simples fato de ainda “ser cedo”. É difícil enxergar os desafios, as funções que deverão dominar e todas as mudanças que ainda vêm. “Essa é uma tendência nova, não dá pra dizermos muito sobre ela, não existem muitos dados. O que podemos dizer é que já observamos o que eles esperam do mercado: que os ajudem a conseguir o que desejam”, disse Bruce. Quer investir melhor seu dinheiro? Abra já sua conta na Rico Investimentos.
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