“A maternidade deveria ser positiva, mas as mulheres acabam ainda mais sobrecarregadas”, diz CEO do InfoJobs

Como a maternidade impacta a carreira das mulheres e o que as empresas podem fazer para ajudar suas profissionais, segundo Ana Paula Prado, CEO do InfoJobs

Mariana Amaro

(Foto: Divulgação)
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A realidade feminina no mercado de trabalho no país continua afetada pela dupla jornada e as desigualdades de gênero. Segundo levantamento feito pelo InfoJobs, 87% das profissionais precisam conciliar atividades profissionais com o serviço doméstico e para 54% delas, essa rotina impacta negativamente o rendimento e desenvolvimento do trabalho.

Perto da comemoração do Dia das Mães, Ana Paula Prado, CEO do InfoJobs, falou sobre a pesquisa, os impactos que a maternidade pode ter na carreira e como as empresas podem (e devem) mitigá-los em entrevista exclusiva ao InfoMoney.

Como a pesquisa foi desenvolvida e quais foram as principais conclusões?

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Falamos com 1.627 pessoas do gênero feminino que estão na nossa base de dados. E o que conseguimos ver foi como a família tem um impacto negativo na carreira das mulheres. A maternidade deveria ser positiva, mas as mulheres acabam ainda mais sobrecarregadas.

Como a pandemia e a necessidade de migração para o home office ajudou (ou atrapalhou) essas mulheres?

Ajudou no sentido que a “janelinha” do Zoom nos fez abrir muitas outras “janelas”. Foi um momento de enxergar a vida pessoal invadindo, às vezes literalmente, a vida profissional. Por outro lado, durante a pandemia, essas mães acabaram sem rede de apoio: escolas fechadas, familiares impedidos de visitar, profissionais em distanciamento social. Ficou muito claro o quanto dependemos dessa rede para que possamos ter momentos de entrega absoluta no trabalho, com foco e concentração.

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O que as empresas podem fazer para melhorar a vida e o trabalho dessas mulheres?

Existem muitas formas de facilitar a vida das mães. Para começar, as empresas podem entender que todos os seus profissionais têm responsabilidades em casa e que não deveriam ser acionados o tempo todo. Para além de benefícios, como auxílio-creche, as companhias também precisam criar um ambiente acolhedor para aquelas que estão retornando de licença-maternidade e que já devem estar sentindo uma insegurança com o trabalho por causa do período de afastamento. É preciso se preocupar em inserir e incluir novamente essa profissional.

Sobre a chegada de bebês, as empresas deveriam ter, na verdade, uma preocupação parental e garantir que mães e pais tenham tempo para uma adaptação à nova rotina, estendendo os prazos de licença parental para garantir, com isso, que as mulheres não fiquem sobrecarregadas. Afinal, esta não deveria ser uma responsabilidade só da mãe.

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Essa preocupação das empresas em incluir e acolher as mães e pais ainda parece muito distante da realidade da maioria dos brasileiros. Qual é a sua percepção?

Por enquanto, isso faz parte de uma bolha e acredito que deve levar bastante tempo para ver esse movimento disseminado. Não há nenhuma legislação prevendo a adoção de uma licença-parental em vias de aprovação, por exemplo. De qualquer forma, temos uma realidade de país muito diferente do mercado europeu. Aqui, centenas de milhares de crianças são registradas sem o nome do pai e há muitas outras questões que seguram a carreira das mulheres. Mas precisamos combater isso da forma que for possível.

Como isso pode ser feito?

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Começamos por detalhes como a confecção de currículos, explicando que as profissionais não precisam nem devem colocar informações sobre seu estado civil, nem quantidade de filhos. Também direcionamos recrutadores. Sabemos, por exemplo, que era uma prática comum perguntar para as mulheres, durante uma entrevista de emprego, sobre filhos ou estado civil. Isso não deve nunca ser levado em conta para avaliar o perfil profissional de alguém.

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Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.