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Suzano se diz preparada para crescer em qualquer cenário

Para Walter Schalka, CEO da Suzano, balanço mostra resiliência - e o mercado continua a não precificar corretamente a ação da companhia, diz ele

Vera Brandimarte Lucinda Pinto

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O CEO da Suzano, Walter Schalka, acha que a fase de preços muito baixos da celulose já está ficando para trás. A companhia vai levar ao mercado, em agosto, o terceiro reajuste da celulose  – dois outros, de US$ 30 por tonelada, já foram feitos em junho e julho.

A empresa, que divulgou seus resultados do segundo trimestre ontem, teve uma receita líquida de R$ 9,16 bilhões, queda de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior. Seu lucro cresceu de R$ 182 milhões para R$ 5,02 bilhões, mas mais pelo efeito contábil da variação do câmbio sobre a dívida em dólar e ganhos das operação de hedge. Já o Ebitda ajustado recuou de R$ 6,3 bilhões, para R$ 3,92 bilhões.

Para Schalka, no entanto, a empresa, que sai desse período com R$ 20 bilhões de reais em caixa, com uma liquidez total de mais de US$ 6 bilhões, mostra, sobretudo,  que está preparada para o futuro: “Temos  disciplina financeira, de investimentos e uma visão de alocação de capital para criar valor de forma contínua que são determinantes. Temos um caixa robusto, uma política de hedge para se proteger em relação às variações cambiais  e projetos que levam o custo para baixo nos próximos ano.” Preços melhores para a celulose, diz ele, virão porque produtores em regiões com custo elevado de produção estão operando com Ebtida negativo e, como é natural nesse ciclo, esta produção deve deixar o mercado.  Mas, para ele, a Suzano mostrou que,  mesmo num  ambiente mais ácido, está super bem estruturada para continuar no seu processo de investimento  para o futuro”. Uma força que, diz ele, o mercado não vê e não precifica corretamente.

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Em entrevista ao IM Business, Schalka e Marcelo Bacci, CFO da Suzano, falaram sobre esse período desafiador para o mercado de celulose e sobre o futuro da empresa, que dará mais um forte salto no próximo ano, quando concluirá a implantação do projeto Cerrado, que ampliará sua capacidade de produção de celulose em 20%.

IM Business: O atual valor da ação da Suzano mostra que o mercado continua não entendendo a companhia?

Walter Schalka: Sim. Os analistas precificam Cerrado em zero até agora. E o preço da ação da companhia, há um ano, estava exatamente igual ao de hoje, perto de R$ 48. Nesse meio tempo, investimos uma infinidade de recursos em terras, florestas, no projeto Cerrado, ou seja, a companhia vai gerar muito mais valor e nada disso está refletido ainda. A maior prova de que acreditamos nisso é que fizemos um mega projeto de recompra, de 60 milhões de ações.  Anunciamos um Ebitda de R$ 3,9 bilhões, uma geração operacional de caixa líquida de R$ 2,2 bilhões. A companhia demonstra com isso a nossa absoluta resiliência diante de um período de preços menores. Outros players do mercado internacional – europeus, chineses, norte-americanos – tiveram quedas expressivas de Ebitda, muito significativas. E nossa queda foi muito menor do que a deles porque temos o menor custo caixa do mundo. No segundo trimestre, nosso custo caixa teve uma queda de 2%, para R$ 918 por tonelada. Anunciamos um balanço muito robusto. temos uma posição de caixa de R$ 20 bilhões, além de linhas de crédito de R$ 6 bilhões. Ou seja, uma disponibilidade de R$ 26 bilhões neste momento, mais do que suficiente para fazer concluir o projeto Cerrado, para o qual faltam R$ 9,8 bilhões para serem investidos até o fim do ano que vem.

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Qual é o valor final do projeto Cerrado?

Schalka: São R$ 22,2 bilhões. Houve um reajuste decorrente da inflação nesse valor, mas a base é exatamente a mesma.  Mesmo com esse investimento, a alavancagem está em 2,2 vezes, considerando a relação dívida líquida x Ebitda. Esse número vai piorar porque agora vem uma queda do Ebitda em função da queda dos preços [da celulose]. Mas a dívida líquida da empresa é igual à de dois anos atrás, de US$ 11,3 bilhões. Isso, mesmo com um mega programa de investimentos que fizemos no projeto Cerrado, com os retrofits das fábricas de Aracruz em Jacareí, com a aquisição de 400 mil hectares de área, com o plantio de 300 mil hectares neste ano, com a aquisição da Kimberly-Clark, com a recompra de 60 milhões de ações.

Walter Schalka, CEO da Suzano (Foto: Divulgação)

Qual será o impacto do projeto Cerrado para a empresa?

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Schalka: Vamos iniciar o projeto no segundo trimestre do ano que vem e haverá um crescimento do volume ao longo do tempo. Depois de um ano, estaremos full capacity a 2,5 milhões de toneladas ao ano, o que é uma adição de cerca de 20% da capacidade atual de produção, de 11 bilhões para 13,5 bilhões de toneladas ao ano.

A entrada dessa produção não vai fazer afundar ainda mais os preços da celulose?

Schalka: O que está acontecendo no mercado é que temos aproximadamente 20% do mercado que já está abaixo da linha d’água, com o Ebitda negativo. O custo marginal da celulose no mundo é de US$ 550, US$ 560, em alguns lugares US$ 580, US$ 600. Na Suzano, é de US$ 180 e, no Cerrado, será de US$ 100. Como o preço da celulose hoje está em US$ 520, muita gente está girando com Ebitda negativo. Quando isso acontece, a empresa reduz a produção, que é o que está ocorrendo agora, e compra celulose do mercado. Mesmo as companhias integradas mantêm a produção de papel e compram celulose no mercado. Os chineses já estão fazendo isso. As desintegradas têm que comprar celulose e as que estão abaixo da linha d’água param a produção. Já estamos vendo um processo de redução de produção nas regiões mais onerosas do mundo. E aí tem uma redução dos estoques, e o preço volta a subir. Já estou no quarto ciclo de volatilidade de preço nesse período em que estou na Suzano.

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IM Business: Quando isso afetará os preços?

Schalka: É um período de ajuste Estamos vendo uma redução global de produção. No Canadá, na Escandinávia, na Europa, na China. Quando o período de ajuste passar, o preço começará a subir. Aliás, já começou, anunciamos esta semana mais um aumento de preços para agosto. O preço bateu no vale em maio e desde então vem em alta. Conseguimos colocar aumentos em junho e julho, vamos ver agora em agosto.

Como será a logística no projeto Cerrado?

Schalka: Já temos a madeira disponível para o ano que vem. Vamos sair de lá de caminhão até uma cidade chamada Inocência, onde estamos construindo um terminal. A cidade fica na ferrovia que liga Mato Grosso do Sul a São Paulo. Compramos locomotivas e vagões para trazer a produção para os dois terminais que temos em Santos. Também estamos construindo dois hospitais na cidade, 150 casas, estamos investindo em educação, gerando emprego, investindo em infraestrutura local. O PIB da cidade já aumentou significativamente só no processo de construção da fábrica, sem começar a produzir. A cidade tem 18 mil habitantes, tem deficiência crônica de infraestrutura. Depois da fábrica pronta,  teremos cerca de 3 mil pessoas trabalhando, então o desemprego será negativo.

A  Suzano está desenvolvendo uma série de outros projetos. Como deve ser o desenho da companhia nos próximos anos?

Schalka: Toda nossa base de produção vem da árvore, a partir dela vamos produzir outras coisas além de celulose e energia. Estamos entrando no mercado de tecido, que é maior que o da celulose global – o mercado de celulose global é de 60 milhões de toneladas e o de tecido, de 105 milhões de toneladas. Estamos produzindo microfibrilado de celulose, que pode substituir vários produtos por ter alta resistência e pode entrar em produtos químicos. Estamos produzindo lignina, que pode servir ao setor químico de uma forma geral, substituindo resinas fenólicas. Tem o biocombustível, que estamos fazendo a partir da árvore e que é transformacional para o nosso futuro. Já entramos em fluff, estamos aumentando o  negócio de tissue. Reinvestimos 90% de nossa geração operacional de caixa todos os anos, há décadas, em novos negócios.

O investimento em tecidos é na fábrica da Finlândia?

Schalka: É uma fábrica muito pequena, mas simbólica, porque já temos acordo com empresas relevantes no mundo como Adidas e H&M e vamos suprir a fibra para a produção dos produtos deles. Esse é um mundo muito grande, mas estamos dando um passo ainda pequeno, vamos escalando gradativamente. Hoje,20 milhões de toneladas do mercado  são  algodão, que é uma cultura que exige muita água. Outras 80 milhões de toneladas  são poliéster e poliamida, que vêm de produtos fósseis. E 6 milhões de toneladas apenas  vêm da árvore, que é a viscose, a celulose solúvel. Nós já temos a tecnologia da celulose solúvel, mas resolvemos investir em uma que, além de ser biodegradável e ter produto de alta  qualidade, usa muito pouco produto químico no processo de fabricação, que é essa tecnologia que foi desenvolvida na Finlândia. É da Spinnova. A empresa abriu capital e nós investimos nela, e fizemos uma parceria em uma empresa chamada Woodspin, que é 50% Spinnova e 50% Suzano. Essa empresa é a que está produzindo o tecido a partir de celulose.

A perspectiva de valorização cambial altera de alguma forma a estratégia da empresa em termos de gestão de hedge?

Marcelo Bacci: Somos eminentemente exportadores. Em torno de 70% de nossa receita é em dólar, mas somente 25% do nosso custo é em dólar. Geramos muito dólar e  precisamos transformar dólares em reais o tempo todo para poder arcar com nossos custos.  Para administrar esse risco temos uma política de hedge de médio prazo. Olhamos para um horizonte de 24 meses à frente,  transformamos em reais uma parte da nossa receita para cobrir os custos e despesas e fazemos um hedge de uma parte de nossa margem também. Por conta dessa política que já existe há muitos anos, a gente hoje tem um portfólio de quase US$ 5 bilhões de hedge de câmbio, que neste está ganhando, por causa da valorização cambial. No primeiro semestre do ano, recebemos RS 1,4 bilhão de ajustes positivos desses hedges que compensaram parte da queda do dólar. Ao câmbio atual, se ficar onde está hoje, a gente tem mais uns R$ 4 bilhões a receber desses hedges nos próximos 24 meses. É lógico que se o câmbio voltar para R$ 5 e pouco esse ganho diminui. A gente está ‘hedgeado’ em U$ 4 bilhões a uma taxa média de R$ 5,61. E estamos muito bem protegidos por esse portfólio que diminui muito a variabilidade da nossa geração de caixa. E o vencimento desses hedges são casados com as datas de entrada das nossas receitas.

Mas a perspectiva apontada por analistas de que o câmbio pode ficar mais valorizado diante do cenário macro pode justificar um ajuste nessa estratégia?

Bacci: A gente não toma visão direcional no câmbio. Eu acredito que o movimento que nós estamos vendo no câmbio tem muito mais a ver com movimentos globais do dólar perdendo valor frente a outras moedas do que propriamente com nossa situação local. Mas obviamente que a situação local também impacta. Nós temos hoje uma situação de muita incerteza. Se o dólar perde valor diante de outras moedas, o que significaria que eventualmente o real poderia apreciar ainda mais, por outro lado a queda da taxa de juros que está se iniciando  gera um desincentivo para a entrada de dólares,  o que deveria fazer com que o real se desvalorizasse. Então, tanto pode ir para um lado como pode ir para o outro. Como a gente não sabe, o que a gente faz é assumir uma visão conservadora de proteção.