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Há pelo menos seis anos, a Suzano tem ampliado investimentos em um segmento menos suscetível a variações de preços e mais estável, em termos de rentabilidade, do que o negócio de celulose: a produção de papel. Essa parte das operações foi responsável por mais de um quarto da receita líquida da companhia no terceiro trimestre de 2023 e sua capacidade produtiva vem se expandindo, com aportes sequenciais, sobretudo em papel tissue, de uso sanitário, como papel toalha, higiênico, lenços e guardanapos.
A compra de ativos brasileiros da Kimberly Clark, por US$ 175 milhões, foi concluída em junho deste ano e levou a Suzano à posição de liderança em tissue no Brasil, com uma participação de mercado da ordem de 24%. “O segmento de papel é onde o consumo mais cresce. Nos papéis sanitários, o foco tem sido o Brasil e a gente tem uma abordagem gradual”, disse Marcelo Bacci, diretor-executivo de finanças da Suzano, em entrevista ao Por Dentro dos Resultados, do InfoMoney.
A abordagem da companhia em tissue começou em 2017, quando a Suzano iniciou a produção de papel sanitário nas fábricas de Mucuri, na Bahia, e em Imperatriz, no Maranhão. No final daquele ano, a empresa ainda adquiriu a Fábrica de Papel da Amazônia (Facepa), por R$ 310 milhões.
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“O primeiro objetivo era consolidar a companhia no nordeste e no norte do país. Nos tornamos líderes, nessa primeira fase, e a partir daí começamos uma estratégia focada em expansão regional e em posicionamento de marca”, explica Bacci.
A Kimberly Clark atendia aos dois requisitos, pela maior presença nas regiões sudeste e centro-oeste, onde a Suzano ainda não estava tão presente em bens de consumo, e também pela reputação de seus produtos. “Trouxemos [com a aquisição] a marca Neve, a mais premium do setor. É a marca com melhor valor e melhor precificação”, diz o CEO.
Os próximos passos da estratégia da Suzano em papel sanitário já estão em curso. Junto com o balanço do terceiro trimestre, a companhia anunciou que trabalha na construção de uma fábrica de tissue em Aracruz, no Espírito Santo, com capacidade de produzir 60 mil toneladas por ano. A previsão é que a unidade inicie suas operações no primeiro trimestre de 2026.
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O investimento estimado para a fábrica é de R$ 650 milhões, mas a Suzano pretende desembolsar apenas R$ 130 milhões – o restante do valor seria coberto por saldo de créditos de ICMS que a companhia possui no Estado.
“O segmento de tissue vem crescendo e se consolidando no Brasil. A Suzano e nosso maior concorrente temos, aproximadamente, 45% desse mercado. É uma realidade muito diferente do que era alguns anos atrás, pois era muito mais pulverizado. Ainda existe potencial de crescimento no Brasil, provavelmente mais orgânico do que M&A, mas estamos olhando todas as oportunidades”, afirma Bacci.
Mix não muda
No terceiro trimestre, a receita líquida de papel da Suzano foi de R$ 2,34 bilhões, com um crescimento de 14% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço foi de 3%. Mais de 70% das vendas do segmento foram feitas no mercado interno, responsável pela aquisição de 235 mil toneladas de papel da companhia, de um total de 331 mil, entre os meses de julho e setembro.
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Já as vendas de celulose da Suzano sofreram uma queda anual de 11%, para 2,486 milhões de toneladas, o que também representou um recuo de 1% em relação ao segundo trimestre. A receita líquida foi de R$ 6,605 bilhões, cifra 45% menor que a registrada no mesmo período do ano passado.
Mesmo reconhecendo a resiliência e rentabilidade mais estável do papel, a Suzano não vê, necessariamente, um crescimento dessa linha de negócios no mix da companhia. “Apesar de estarmos crescendo nesse segmento, a gente cresce ainda mais em celulose”, afirma Bacci.
A maior parte dos R$ 18,5 bilhões de capex previstos para este ano está sendo investida no Projeto Cerrado, que prevê a construção de uma planta produtora da matéria-prima em Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul. É o maior programa de investimentos da Suzano, com previsão de R$ 22,2 bilhões em aportes.
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A unidade terá capacidade para produzir mais de R$ 2,5 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano e deve iniciar suas operações na primeira metade do ano que vem. “Vai aumentar nossa capacidade de celulose em mais ou menos 20%. […] Vamos de 11 milhões para 13,5 milhões de toneladas de capacidade, mais ou menos, enquanto no papel nós temos 1,5 milhão de capacidade”, calcula o CEO.
“Por isso você não vai ver uma grande mudança no mix, mas sim um crescimento nos dois segmentos. Pois temos competitividade em ambos para seguir ganhando mercado globalmente”, complementa Bacci.
Junto com o investimento na fábrica de papel tissue em Aracruz, a Suzano também anunciou que vai desembolsar R$ 490 milhões na conversão de uma máquina de secagem da unidade de Limeira, no interior de São Paulo, para viabilizar a produção de 340 mil toneladas de celulose “fluff” – matéria-prima utilizada na fabricação de fraldas, absorventes e tapetes para pets.
De acordo com Bacci, a Suzano é a primeira empresa a fabricar esse tipo de celulose a partir da fibra curta de eucalipto, que, segundo ele, tem “propriedades interessantes de qualidade” e custo de produção mais baixo. A produção de fluff pela Suzano começou há cinco anos, inicialmente com capacidade de produção reduzida, de 90 mil toneladas.
“Demorou para colocar no mercado e hoje vendemos toda a capacidade que temos, o que nos deu segurança para investir em um aumento para 430 mil toneladas de capacidade”, afirma o CFO. “A gente pretende continuar crescendo em fluff, que é um produto mais próximo do consumidor também.”