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A saída de Octavio de Lazari Júnior da presidência do Bradesco pegou de surpresa gestores e analistas que acompanham o banco. O executivo deixa o cargo que ocupava desde 2018 antes da aposentadoria, o que não é comum no histórico da instituição financeira. O sucessor, Marcelo de Araújo Noronha, era o vice-presidente responsável pela área de varejo do Bradesco. Noronha, profissional com 38 anos de experiência no setor financeiro, está há 20 anos no banco e foi uma recomendação do comitê de nomeação e sucessão da instituição. Era um nome percebido pelo mercado, principalmente pelo trabalho que fez como VP do banco de atacado.
Mas, a mudança em nada lembra a troca de comando anterior, quando Lazari substituiu Luiz Carlos Trabuco — ambos vindos da Bradesco Seguro. Meses antes da sucessão, o mercado já sabia que ela iria ocorrer. Trabuco, atual presidente do conselho de administração do Bradesco, deixou de ser CEO por ter ultrapassado a idade máxima permitida pelo estatuto para ocupar o cargo, que é de 65 anos. Lazari, hoje, está com 60.
“Historicamente, o Bradesco é muito conservador nas mudanças. Então, fazer uma alteração de CEO sem ter uma ‘obrigação’, mostra o quanto os controladores estão insatisfeitos”, afirma o sócio de uma gestora, sob condição de anonimato.
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Oficialmente, o Bradesco justificou a troca de comando como o começo de um novo ciclo de projetos estratégicos e robustos para os próximos anos. “O contexto de mercado é absolutamente desafiador, do ponto de vista da eficiência operacional, aumento da competitividade e ambiente regulatório”, afirma Trabuco, em nota à imprensa.
“Cada geração de executivos tem seu momento de maturação, ritos de passagem e patrimônios acumulados como legado. O momento representa um cenário propício para dar visão renovada aos movimentos necessários em direção aos objetivos colocados pelo Conselho de Administração do Bradesco”, complementa o presidente do conselho de administração.
Analistas observam que o Bradesco está com dificuldades para alcançar o desempenho de seu principal concorrente privado, o Itaú, e o do Banco do Brasil. No terceiro trimestre de 2023, o retorno sobre patrimônio líquido (ROE) da instituição financeira ficou em 11,3%. Ainda que tenha apresentado melhora, a rentabilidade ainda está bem distante dos 21,1% do Itaú e de 21,3% do BB.
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“Estamos terminando o ano de 2023 e faz dois anos que Itaú e Banco do Brasil continuam indo muito bem. É natural que isso possa ter gerado um desgaste interno no Bradesco, ao ficar muito distante dos concorrentes por muito tempo. E sabemos que a competição, principalmente com o Itaú, é muito forte”, diz um analista que acompanha o setor bancário.
Nas teleconferências de resultados do Bradesco era comum analistas e jornalistas perguntarem sobre perspectivas de recuperação da rentabilidade do banco. “Lógico, não estamos satisfeitos com esse ROE que estamos observando, ele é inadequado. Isso tem um peso de inadimplência […], mas vamos recuperando esse ROE”, afirmou Lazari, no último call, realizado no início do mês.
Na temporada de balanços mais recente, o Bradesco, que costumava a ser um dos primeiros incumbentes a apresentar resultados, foi o último a reportar seus números. No terceiro trimestre, o banco perdeu margem financeira por adotar uma postura mais conservadora na concessão de crédito, mirando em empréstimos com garantia e, portanto, menor retorno. O movimento foi reflexo da alta inadimplência, que chegou a 5,7% ao final de junho deste ano — nos atrasos com mais de 90 dias — e sofreu uma leve queda, para 5,6%, ao final de setembro.
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Em fevereiro, Lazari admitiu que o banco emprestou mais do que deveria. Naquele mesmo mês, o Bradesco provisionava R$ 4,9 bilhões para cobrir sua exposição total a Americanas. “O desafio da inadimplência continua, ainda que tenha desacelerado o crescimento”, afirma Bernardo Guttman, analista da XP.
Segundo ele, um dos desafios no novo CEO vai ser fazer com que o banco consiga rentabilidade acima do custo de capital, principalmente no segmento de pessoa física. “O Bradesco perdeu muito market share para os bancos digitais e existe uma discussão se o banco vai ser capaz de ajustar custos rapidamente para se tornar competitivo, mesmo com participação menor”.
“Acho que o Bradesco tem dois desafios: ser mais ágil e mais eficiente. Mas ainda não está claro para mim qual é a agenda do novo CEO”, diz o gestor citado no começo desta reportagem.
Em sua primeira manifestação oficial após o anúncio da Sucessão, Noronha afirmou, em nota, estar ciente dos desafios que o aguardam.
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“O mercado é muito competitivo e exige múltiplas capacidades de todos nós. Com os pés no chão, tenho consciência da minha missão. E não será diferente dessa vez. Tenho visão plena das decisões relevantes que me aguardam, e o tamanho da carga das expectativas dos clientes, colaboradores e acionistas do Bradesco”, afirmou.
De qualquer forma, não são mudanças que devem acontecer da noite para o dia, de acordo com um gestor de portfólio ouvido pela reportagem. “Grandes bancos são como transatlânticos e demora muito mexer os ponteiros para o caminho certo. É um processo difícil, demorado. A troca de comando ajuda, mas demora muito de acontecer”.
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