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O próximo passo da Paper Excellence no Brasil

Multinacional volta a olhar para investimentos no mercado brasileiro de papel

Rikardy Tooge

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No décimo quarto andar de um dos dos luxuosos prédios da Faria Lima, está montada uma estrutura digna das grandes multinacionais. Salas amplas, decoração leve e uma simpática recepcionista. Tudo pronto para receber as pessoas para trabalhar, diz um executivo que acompanha a reportagem do IM Business.

Cenário típico de empresa recém-chegada no Brasil, mas o escritório em questão já está à espera dos funcionários há tempos. Ele pertence à Paper Excellence, que desembarcou por aqui há quase seis anos. “Estamos voltando a contratar, já estamos com pouco mais de 20 profissionais”, diz Cláudio Cotrim, CEO da companhia no país. “Nosso foco sempre esteve no litígio que temos com nosso sócio na Eldorado Celulose, mas agora estamos olhando para outras oportunidades no Brasil”, afirma o executivo.

A disputa citada por Cotrim tem como origem a chegada da Paper Excellence no Brasil. Em setembro de 2017, a multinacional, por meio da CA Investment, anunciou um acordo com a J&F Investimentos, para a compra por R$ 15 bilhões da Eldorado Celulose, ainda em fase de implantação. O projeto criaria uma das principais fornecedoras da matéria-prima no país. Mas, desde 2018, as empresas disputam nos tribunais o comando da empresa – a Paper tem 49,41% das ações, enquanto a holding da família Batista possui 50,69%.

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Mesmo diante da perspectiva de que essa disputa ainda dure anos, a Paper Excellence sinaliza um próximo passo no mercado brasileiro. “Agora estamos considerando a aquisição de um negócio no setor de papel, quando surgir uma boa oportunidade”, afirma Cláudio Cotrim.

Questionado pelo IM Business, Cotrim não especificou quais são os alvos da Paper, mas admite ver com bons olhos teses ligadas à produção de papelão, no mercado chamado de “packing” — iniciativa que vem ganhando escala na busca de substituir o uso de plástico em embalagens. Outra frente observada é o mercado de papéis para higienização (“tissue”), que pode crescer diante de uma maior demanda de chineses e indianos, as duas maiores populações do planeta, por esse produto. Pode ser uma fábrica já pronta ou até mesmo um projeto do zero (“greenfield”).

Cláudio Cotrim, CEO da PE no Brasil: empresa volta a olhar oportunidades no país (Divulgação)

Recentemente, o fundador da Paper Excellence, o indonésio Jackson Wijaya, manifestou a governadores do Brasil que pretende aportar US$ 4 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões) no país, também sem especificar o destino. A Paper diz que, caso vença a disputa pela Eldorado, investiria mais US$ 5,3 bilhões nos próximos anos. A fábrica, na verdade, deve receber investimentos de qualquer dos lados que vença a disputa, já que o litígio hoje trava seu potencial de crescimento. Há planos de construção de uma segunda fábrica para a companhia, em Mato Grosso do Sul, que dobraria a atual produção.

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“Sempre somos consultados para novas aquisições. Todos os grandes M&As que ocorreram recentemente no setor nos foram oferecidos”, diz Cotrim. Mas na prática, a última iniciativa da Paper em aquisições no país foi no começo de 2018, quando chegou a disputar, sem sucesso, a compra da Fibria. A Suzano (SUZB3) levou o negócio por US$ 14,5 bilhões.

Wijaya, então, optou por dar preferência a outros negócios da companhia, que também atua no Canadá, nos Estados Unidos e na França. “O Jackson tem uma média de investir pelo menos US$ 4 bilhões por ano em alguma operação. É um dinheiro que poderia vir para o Brasil, mas acaba indo para outros países”, reforça Cláudio Cotrim. Nos últimos anos, a Paper Excellence trouxe para seu portfólio de empresas as também canadenses Catalyst e Resolute e a americana Domtar.

Caso os planos da Paper Excellence de adquirir uma nova operação no Brasil de fato avancem, a companhia terá que lidar com um contexto de mercado desafiador, situação oposta ao que via quando desembarcou na Eldorado. Com a tendência de valorização do real e a recente queda dos preços internacionais da celulose, a operação poderia ter um insumo mais barato, mas a receita acabaria também suprimida pelo câmbio.

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O Bradesco BBI, em relatório recente, demonstrou cautela com o ciclo de papel e celulose para 2023/24 em função de uma menor demanda da Europa, a despeito de uma resiliência do mercado da China. “Vemos um excesso de oferta nos próximos 12 a 18 meses, com um cenário de preços abaixo de US$ 600 por tonelada e com real valorizado”, escreveram os analistas Thiago Lofiego e Camila Barder.

Outra dúvida, menos conjuntural, é quem será o fornecedor de celulose da Paper Excellence em uma fábrica de papel, considerando o cenário litigioso que envolve a Eldorado. O acesso à matéria-prima é condição básica para qualquer projeto industrial. Cláudio Cotrim desconversa. “É uma coisa que vamos avaliar, se realmente montarmos uma outra operação no país antes de resolvermos a questão da Eldorado. Não estamos pensando nisso agora”.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br