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O jogo mudou, e a AgriBrasil não quis ficar a ver navios

De “asset light”, trading ajusta estratégia e investe em portos para garantir margens

Fernando Lopes

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“Viramos uma empresa de logística”, diz Frederic Humberg, dono da AgriBrasil. Desde que fundou a empresa, em 2016, para fazer o trading de grãos,  Humberg  viu o mercado mudar, ajustou a estratégia e passou a investir em ativos, sobretudo terminais portuários, para preservar margens e manter o forte ritmo de expansão que já levou seu faturamento a superar R$ 4 bilhões em 2022. Em 2017, a receita foi de R$ 70 milhões. 

De asset light, ou seja, de uma companhia que tinha por estratégia pouca imobilização em ativos para concentrar-se no trading com custos baixos, a AgriBrasil recuou e teve que reconhecer que, nesse negócio, não basta conhecer a fundo os mercados de milho e soja, é preciso entender e ter controle sobre a logística de escoamento desses grãos do país para o exterior. 

Com sede em São Paulo e capital 100% nacional, a companhia embarcou, no início de julho, a primeira carga de milho (75 mil toneladas) a partir do Terminal Portuário Santa Catarina (TESC) rumo à Malásia. Inaugurado no fim de maio, o berço de exportação de grãos do TESC, localizado no porto de São Francisco, é o maior exemplo da aposta da AgriBrasil em logística, justificada por gargalos que voltaram a ser observados no país em razão do aumento constante das exportações agrícolas.

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A empresa assinou o compromisso de compra do controle do TESC em julho de 2020. Com a transação, que demandou investimentos reavaliados em R$ 300 milhões, assumiu três berços de atracação e logo deu início às obras do terminal de grãos, que absorveu até agora aportes de cerca de R$ 250 milhões. Nesta primeira fase, pelo TESC poderão ser exportadas 3 milhões de toneladas de soja e milho por ano, que se somam à capacidade de 4 milhões de toneladas da parte pública do terminal.

Frederico Humberg, fundador e CEO da AgriBrasil: planejamento de investimento de mais de R$ 250 milhões nos próximos três a cinco anos (Foto: Divulgação)

“Nos próximos três a cinco anos, planejamos investir mais R$ 250 milhões, disse Humberg ao IM Business.” Os aportes que já foram realizados incluem equipamentos para armazenagem, descarga e expedição.A decisão de investir em portos foi tomada em 2020, e antes da investida no TESC a AgriBrasil comprou uma participação no porto de Ilhéus, na Bahia, onde as capacidades de movimentação são menores.

O empresário observa que o mercado mudou muito desde 2016, quando a ordem era deixar os ativos de lado e trabalhar apenas com parceiros na frente logística, como terminais portuários “bandeira branca”. Era um tempo, lembra, em que os portos do Arco Norte ainda estavam começando a operar, atraindo cargas de grãos antes exportadas pelos portos do Sudeste e do Sul e gerando ociosidades que podiam ser aproveitadas.

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“Nos anos seguintes, com o crescimento das exportações agrícolas brasileiras, o cenário começou a mudar, e passamos a enfrentar mais dificuldades na contratação logística. Decidimos investir em portos, mas continuamos trabalhando com terceiros no Norte e em Santos, por exemplo”, diz ele. No radar também estão investimentos adicionais de R$ 50 milhões em Ilhéus, e outros R$ 50 milhões poderão ser aplicados em portos da região Norte, como Barcarena e Santarém, no Pará.

Com maior capacidade garantida em um número maior de portos, a AgriBrasil consegue diversificar e ampliar a originação de grãos com mais segurança. Com isso, pretende investir cerca de R$ 150 milhões na construção de armazéns no interior. Polos produtivos do Paraná e de Mato Grosso do Sul, de onde as cargas podem ser escoadas pelo TESC, estão na mira para receber novas instalações.

Neste ano, a companhia prevê movimentar cerca de 2 milhões de toneladas (1,6 milhão de toneladas de milho e 400 mil de soja), mais ou menos o mesmo volume de 2022. Mas, com a forte queda dos preços desses grãos nos últimos meses, o faturamento deverá recuar para algo entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões.

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Enquanto isso, outros planos estão em gestação, e também incluem ativos. O mais importante deles é a construção de uma planta de etanol de milho, a partir de investimentos de quase R$ 1 bilhão. “O projeto é em Canarana, Mato Grosso. Precisamos levantar capital para tirá-lo da gaveta, mas os juros ainda estão elevados”, afirmou Humberg. Outra possibilidade que volta e meia vem à tona é a abertura de capital na B3, mas não há nada concreto nesse sentido nessa frente.

“Temos sido procurados por investidores parceiros para uma eventual capitalização pré-IPO. Estamos avaliando”, concluiu.  

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.