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Guerra em Israel atrasa projetos de inovação com impactos para empresas em todo o mundo

Gigantes como Nvidia mantêm projetos em curso usando estrutura global, mas especialistas temem prolongamento do conflito

Lucinda Pinto Iuri Santos

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Enquanto assiste com muita apreensão aos conflitos no Oriente Médio, a indústria global de tecnologia se mobiliza para reorganizar os projetos que estavam em desenvolvimento na região e que correm o risco de ser paralisados. Considerado o “país das startups”,  Israel abriga boa parte das iniciativas de inovação das grandes companhias mundiais. Mas, como não tem presença expressiva na produção, não se vislumbra um gargalo de componentes no mercado global, a exemplo do que se viu durante a pandemia. Para alguns especialistas, o prolongamento dos ataques pode, sim, atrasar a conclusão de algumas inovações que estão em curso.

Para se ter uma ideia do peso de Israel nessa indústria global, o país mantém o terceiro maior número de empresas listadas na Nasdaq do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China, segundo levantamento da Associação  Catarinense de Tecnologia (Acate). A questão é que a prevalência dos investimentos na região é em inovação e software, e não na produção de componentes

Nesse ambiente, empresas como a Nvidia lançam mão de sua estrutura global para manter os projetos em curso, enquanto apoiam a equipe sediada em Israel. Líder no desenvolvimento de processadores para inteligência artificial, conta com 3 mil colaboradores alocados no país em uma operação reforçada após a aquisição da empresa de produtos de rede Mellanox em 2019. Sua situação é diferente da de concorrentes como a Intel, com alguma produção local. Em Israel, a operação da Nvidia possui foco no desenvolvimento, e não na manufatura de processadores — feita exclusivamente em Taiwan desde a sua fundação.

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Segundo Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina, parte da equipe continua trabalhando de forma remota neste momento. Mas, por se tratar de uma empresa com presença global, as equipes envolvidas em determinados projetos estão espalhadas por diferentes praças, o que diminui o impacto do abalo vivido na unidade israelense. “Neste momento, o foco é dar suporte humanitário para esses colaboradores. Mas, por ser parte de um time global,  os projetos não param, porque tem pessoas de várias partes do mundo trabalhando”, afirmou o executivo ao IM Business.

De acordo com a Start-Up Nation Central (SNC), organização sem fins lucrativos que promove mundialmente a indústria tecnológica de Israel, aproximadamente 10% dos colaboradores de empresas de tecnologia no país foram chamados para servir o exército no conflito. Somam-se aos convocados também as vítimas do conflito.

Pesquisa feita pela empresa de análise de mercado IVC aponta que, apesar da desaceleração da indústria de venture capital mundial em 2023, Israel conseguiu levantar US$ 5,5 bilhões (R$ 27,72 bilhões) este ano, com 320 negociações.De acordo com o Financial Times, o mercado de tecnologia israelense é resiliente, mas um prolongamento do conflito pode afetar o setor de inovação no país.

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“O investimento  deve ser impactado, já que sempre que há um ambiente de muita instabilidade e incerteza, a confiança dos investidores cai”, afirma Paulo Tomazela, CEO da Bossa Invest, empresa de venture capital que tem entre suas investidas startups de Israel. “Não se sabe quanto tempo o conflito pode durar e a amplitude dos estragos que pode causar, mas o impacto no setor já está sendo sentido.”

Um exemplo concreto foi observado pela gestora Ethos, de project finance, que vinha estudando um investimento em um projeto para uma impressora 3D para a fabricação de próteses. “Era uma iniciativa interessante, com um custo mais baixo. Mas com a apreensão sobre o que esse conflito poderia significar para a região, a própria empresa suspendeu o projeto”, conta Carlos Santos, CEO da Ethos. “É muito cedo para dizer quais serão as consequências desse evento, mas todas as empresas podem estar expostas se o conflito escalar”, diz o executivo.

Tomazela, da Bossa, conta que a gestora tem grupos de coinvestimento que também investem em startups israelenses via ourcrowd, uma plataforma de venture capital em estágio inicial com mais de 350 startups no portfólio. Essas empresas já informaram toda a base de investidores que farão o possível para manter o escritório em Israel operando, mas que vários dos seus funcionários e membros familiares foram convocados como soldados da reserva devido ao estado de guerra, relata Tomazela. “O mesmo impacto deve ocorrer com diversas empresas e startups e infelizmente deve prejudicar o cenário empreendedor local”, diz.

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Em meio a esse cenário de guerra,  há notícias de empreendedores e desenvolvedores se mobilizando para resolver com tecnologia muitos dos problemas críticos que estão aparecendo, relacionados a questões de saúde, mobilidade, produção e distribuição de alimentos, diz Tomazela.

Para Paulo Tomazela, CEO do Bossa, incerteza provocada pelo conflito em Israel pode impactar investimentos de venture capital (Divulgação)

Especialistas ponderam que, até o momento, os conflitos estão concentrados em Gaza, relativamente distantes de cidades com forte presença de startups e grandes empresas de tecnologia, bem como de polos de infraestrutura. “Tel Aviv é o coração da inovação e tecnologia de Israel, e é como se fosse outro estado para a nossa proporção brasileira” explica Kenneth Corrêa, professor de MBAs da FGV.

Daniel  Leipnitz, presidente do Conselho da Acate, afirma que, embora a indústria israelense seja hoje uma fornecedora de diversas tecnologias – com destaque para inovações nas áreas de health tech, agro tech e cyber security -, não há uma dependência em termos econômicos do mundo em relação a esse país, como acontece com Taiwan. “Israel depende mais de suas exportações do que o mundo depende de Israel”, diz, lembrando que  58% das exportações do país são relacionadas a tecnologia.

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Um dos esforços da Acate vem sendo fomentar o intercâmbio entre as startups brasileiras e as israelenses, que, na visão de Leipnitz,  “é mais tímida do que poderia ser”. “Trabalhamos para organizar um hub de inovação Brasil e Israel, focado em P&D, inovação aberta e cruzada”, diz. Hoje, segundo o especialista, das 500 maiores empresas do mundo, 450 têm laboratório de produção e criam parte de seus produtos em Israel.

Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.