Conteúdo editorial apoiado por

Estratégia para atrair recursos de clientes em “bancões” ajudou XP a enfrentar cenário adverso em investimentos

Serviços das novas verticais, incluindo cartões, banco digital e seguros, triplicaram o faturamento desde que foram implementados

Mitchel Diniz

Publicidade

Quando a XP Inc. decidiu implementar uma nova vertical de negócios, há pouco mais de dois anos, tinha como estratégia fazer com que seus clientes trouxessem recursos alocados em outras instituições financeiras, oferecendo serviços como cartão de crédito, conta digital e seguros. Mas, num momento em que o core business da companhia continua impactado por um cenário macroeconômico pouco favorável a investimentos de alto risco, a estratégia de diversificação acabou por ajudar a empresa a se proteger da conjuntura adversa.

Entre julho e setembro deste ano, a XP obteve lucro de R$ 1,087 bilhão. As novas verticais, por sua vez, somaram R$ 442 milhões ao balanço e responderam por 11% da receita bruta da companhia, de R$ 4,4 bilhões. A receita do segmento triplicou nos últimos dois anos. Nos 12 meses encerrados ao final do terceiro trimestre, a cifra chegou R$ 1,6 bilhão.

“Faz parte de uma estratégia que quer continuar focada no cliente investidor e entende que, enquanto XP, precisamos oferecer outros serviços financeiros para que, no tempo, esse cliente possa cortar completamente o link com os bancos incumbentes”, afirmou Bruno Constantino, CFO da XP Inc. em entrevista ao Por Dentro dos Resultados, do InfoMoney.

Continua depois da publicidade

Constantino explica que clientes de grandes bancos hesitam em levar a totalidade de seus recursos para a XP, pois as instituições financeiras costumam retirar descontos e benefícios quando as contas são zeradas pelos correntistas.

“Os bancos acabam forçando os clientes a ficar com investimentos. Olhando esse cenário, chegamos à conclusão de que a gente precisava oferecer esses outros serviços financeiros para que o cliente pudesse fazer tudo aqui […] Ao migrar e concentrar sua vida financeira com a XP, ele vai poder trazer o restante dos recursos para a nossa plataforma e, com isso, a gente vai ter esse relacionamento de longuíssimo prazo”.

Nas novas verticais, o segmento de cartões foi destaque no trimestre passado, com crescimento de 77% nas receitas, para R$ 259 milhões. O volume total de pagamentos (TPV) cresceu 62%, para R$ 10,7 bilhões.

Publicidade

“A gente tem mais de 1 milhão de cartões ativos na nossa base de clientes”, diz Constantino. “Aproximadamente 50% já usam o cartão XP como principal cartão para os seus gastos”. O CFO destaca que a XP ultrapassou 4,4 milhões no terceiro trimestre, logo, há um grande potencial para crescimento do produto dentro dessa base.

A expectativa é que a receita de novas verticais continue crescendo nos próximos trimestres, mas a relevância no total do faturamento vai depender da evolução do core business.

“Investimentos que hoje estão concentrados em renda fixa podem migrar para renda variável e investimentos de maior risco. Nesse cenário, o core business pode crescer mais até do que novos negócios. É difícil cravar, mas a tendência é, sim, ver um crescimento relativo da relevância desses novos negócios na nossa receita”, diz Constantino.

Continua depois da publicidade

Constantino afirma que o cenário macroeconômico atual segue desafiador para a performance de ativos financeiros com maior risco em janelas mais curtas de investimento. O executivo avalia que a XP tem conseguido navegar bem nesse cenário, ainda que ele continue impactando o core business da companhia. “Nada bate o CDI, com exceção de produtos bancários com liquidez diária, que aí, costumo dizer, não é investir – é deixar o dinheiro em caixa para ser bem remunerado”, afirma.

“Mas eu gosto de lembrar que vale alongar o horizonte. Quando vamos para uma janela de cinco anos, ou até mesmo de 10 anos, ter no portfólio ativos de maior risco mais do que se paga, reduz volatilidade, por conta da diversificação e aumenta o seu retorno”.

A XP vai ser tornar pagadora assídua de dividendos?

O retorno médio sobre patrimônio líquido (ROAE, na sigla em inglês) da XP chegou a 22,6% no terceiro trimestre. Foi o melhor desempenho do indicador de rentabilidade no ano, mesmo com o crescimento do patrimônio, na ordem de R$ 2 bilhões, em função da integração das operações do banco Modal.

Publicidade

“O crescimento do lucro é uma das vertentes que ajuda o retorno sobre patrimônio líquido. A outra é o retorno de capital para acionistas. Toda vez que há recompra de ações ou distribuição de dividendos, o denominador, que é o patrimônio líquido, diminui”, explica Constantino.

A companhia vai pagar US$ 400 milhões em dividendos aos seus acionistas no próximo mês de dezembro. O provento dá sequência a uma distribuição de US$ 320 milhões, feita em setembro passado, e que marcou a primeiro pagamento do provento feita pela XP Inc. desde que listou ações na Nasdaq, Bolsa de Valores dos Estados Unidos em 2019.

O objetivo da companhia é reduzir o seu capital ratio (ou Índice de Basileia), que terminou o trimestre em 22,1%, para abaixo de 20% até o final deste ano e deixá-lo mais próximo ao dos grandes bancos, hoje entre 13% e 15%.

“Se eu retiver todo esse excesso de capital que eu tenho no balanço, ele machuca muito meu retorno sobre patrimônio líquido”, afirma Constantino. Isso porque o capital fica aplicado em treasuries e títulos do governo brasileiro que, com o desconto do imposto, trazem retornos menos interessantes.

Em 2022, a XP recomprou R$ 1,8 bilhão em ações. Neste ano, fez mais uma recompra de R$ 900 milhões no primeiro trimestre e distribui os dividendos. Ainda que não tenha uma política de distribuição de capital definida, Constantino afirmou que a ideia é continuar se utilizando desses instrumentos para reduzir excessos, a não ser que a companhia encontre uma oportunidade “muito boa” de alocação.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados