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A crise vivida pela indústria de construção chinesa teve nesta segunda-feira (25) um novo capítulo, intensificando as preocupações com a desaceleração da segunda maior economia mundial. Dificuldades de grandes companhias, em especial a gigante Evergrande, em honrar seus compromissos junto a credores expõem a fragilidade da estratégia de crescimento da atividade adotada pela China desde o pós-crise de 2008 e, dessa forma, elevam o receio de que esteja se formando uma crise financeira de maiores proporções.
Ontem, a notícia que ampliou as preocupações foi de um novo calote da gigante Evergrande. Segundo a agência de notícias Bloomberg, a empresa informou que sua subsidiária Hengda Real Estate Group Co. deixou de pagar 4 bilhões de yuans (US$ 547 milhões) de principal mais juros devidos em 25 de setembro.
É o segundo episódio de suspensão de pagamento em poucos meses: em março deste ano, a Hengda já havia deixado de pagar os juros de 5,8% relativos a um título emitido em 2020. Nas duas situações, a empresa disse que negociaria “ativamente” com os credores para encontrar uma solução – postura que eleva o grau de desconfiança por parte dos detentores dos papéis.
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O risco que a Evergrande corre agora é de enfrentar uma liquidação, caso não seja capaz de reorganizar a sua situação financeira. A empresa viu alguns de seus executivos do departamento financeiro serem detidos, inclusive o ex-CEO Xia Haijun e o ex-diretor financeiro Pan Darong. Diante das intempéries, cancelou reuniões com credores e não conseguiu cumprir as qualificações dos reguladores para emitir novos títulos.
O que os analistas receiam é que a situação da Evergrande acabe deflagrando uma crise financeira mais grave, algo comparado ao que se viu em 2008, com potencial de contaminar outros países. Afinal, a China é responsável por 35% da atividade global neste ano, conforme estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), e uma das economias mais expostas ao mercado externo.
A Evergrande esteve no epicentro da crise do setor de construção chinês, ao declarar um “default” de sua dívida em 2021. No último dia 18 de agosto, a empresa pediu recuperação judicial, quadro que ampliou a onda de aversão ao risco por parte dos investidores: um indicador das ações imobiliárias chinesas registrou nesta segunda a maior queda em nove meses, elevando a sua perda de avaliação este ano para US$ 55 bilhões.
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Ao mesmo tempo, investidores veem crescer as tensões entre outras grandes incorporadoras, incluindo a Country Garden Holdings Co., que chocou os mercados financeiros da China no mês passado ao perder os prazos iniciais para pagar os juros dos títulos em dólares. Já a empresa de investimentos imobiliários China Oceanwide Holdings Ltd. enfrentou liquidação judicial depois que um tribunal das Bermudas emitiu uma ordem para isso. Notícias que mostram que a dívida de incorporadores imobiliários e veículos de financiamento do governo local estão se espalhando pela economia da China.
O agravamento da crise da indústria, segundo a Bloomberg, alimentou preocupações entre alguns gestores financeiros globais de que os ativos chineses estariam caminhando para se tornarem “ininvestíveis”, num contexto de fracas práticas de governação. As obrigações de alto risco offshore da China, a maioria das quais emitidas por construtores e que já foram uma das transações de rendimento fixo mais lucrativas do mundo, perderam, segundo a agência, mais de US$ 127 bilhões em valor desde que atingiram o pico há apenas dois anos e meio.
A Evergrande, que já havia adiado as reuniões com credores que estavam programadas para começar no dia 28 de agosto, não divulgou seu novo cronograma de reuniões. Apenas informou que fará novos anúncios quando houver atualização. No início deste mês, a empresa também revisou as datas das audiências de sanção do plano para outubro.
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