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Com a casa arrumada, Tenda dobra a aposta no MCMV

Freio de arrumação permitiu redução do endividamento e abriu espaço para companhia aproveitar onda positiva do mercado de baixa renda

Lucinda Pinto

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A Tenda deu mais um passo na última sexta-feira (22) no processo de reestruturação de sua dívida, necessário após a “tempestade perfeita” que caiu sobre a construtora a partir de 2021. A companhia anunciou o pagamento antecipado da debênture que venceria em março de 2024, em uma estratégia para alongar o prazo e reduzir o custo de sua dívida, processo que vai preparar a empresa para aproveitar a maré favorável que se formou com as novas regras do Minha Casa Minha Vida, programa que concentra a principal aposta da construtora.

A dívida antecipada pela Tenda somava R$ 78 milhões e tinha um custo de CDI + 3,15%. A empresa já havia pré-pagado a dívida que venceria em setembro deste ano. E deve seguir com a estratégia para as outras três séries de debêntures que vencem até 2026, segundo o diretor financeiro da empresa, Luíz Garcia. Em contrapartida, a empresa já fechou a emissão de uma nova debênture no valor de R$ 150 milhões, com um prazo de quatro anos mais um de carência, ao custo de CDI + 2,75%.Na emissão dessa dívida, havia a previsão de um pênalti (punição) em caso de pré-pagamento, mas na renegociação e definição de uma taxa mais alta para os credores, essa cláusula foi eliminada.

Luiz Garcia, CFO da Tenda. Foto: Divulgação

Toda essa engenharia foi necessária para a empresa diminuir a alavancagem, que disparou no início da pandemia e forçou a renegociação da dívida.  Entre 2020 e 2021, a desvalorização cambial e a  alta dos preços de commodities impactaram em cheio algumas das principais matérias-primas do setor, como cimento, combustível, tubos e conexões, e fios de cobre. Naquele momento, a velocidade de vendas estava muito acelerada. Por isso os preços dos imóveis definidos no lançamento  ficaram desalinhados à nova realidade de custo.  Ao mesmo tempo, a alta dos juros piorou o custo da dívida. Conjunção de fatores que resultou em redução da margem bruta e prejuízo.

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Foi nesse momento que a empresa precisou fazer o que o CFO chama de “freio de arrumação”.  Em 2022, a empresa reduziu o número de lançamentos para 13 mil unidades, ante 21 mil  em 2021.  A empresa também ajustou o chamado pro soluto, que é o pedaço do financiamento oferecido pela empresa, que acabava se estendendo para o período posterior à entrega das chaves. Medidas que deram fôlego para a companhia ajustar seus custos. “Há uma recuperação se concretizando”, diz Garcia.

Os ajustes que a companhia vem fazendo viabilizaram, no segundo trimestre deste ano, uma redução de 90,8% no prejuízo, para  R$ 10,5 milhões. A mudança na estrutura de capital, que veio junto com o follow-on realizado no começo de setembro, por meio do qual a empresa levantou R$ 234 milhões,   melhorou a condição da alavancagem, que caminha para chegar a perto de 10% na relação dívida líquida corporativa/patrimônio líquido. No início do ano, esse indicador estava em  42%.

Com essa nova situação financeira e operacional, a empresa espera aproveitar a aceleração da demanda que as regras do Minha Casa Minha Vida proporcionam. A estratégia da Tenda será concentrar 100% de seu volume de venda na faixa 1 do programa, para famílias com renda de até dois salários mínimos que, segundo o executivo, é onde a empresa tem maior diferencial competitivo. “Nosso foco é o produto de entrada”, diz.

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A Tenda vai concentrar seus lançamentos em bairros que ficam na periferia das regiões em que atua, em São Paulo, no Rio e no Nordeste – onde a empresa vê um mercado potencial importante. Hoje, segundo dados da empresa, cerca de 70% do déficit residencial se concentra no Sudeste e no Nordeste do país.  Mas e se o Minha Casa, Minha Vida acabar? Para Garcia, com o tamanho do déficit habitacional ,dificilmente será possível ficar sem um programa  equivalente.

Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.