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Cimento, areia, tijolos e vergalhões de aço compõem a receita básica de pelo menos 90% das obras realizadas no país, mas algumas das empresas mais ricas do mercado brasileiro começam a enxergar a oportunidade em outra frente. O futuro, para companhias como Gerdau, Dexco e, mais recentemente, a SteelCorp, do publicitário Roberto Justus, são as obras modulares. Trata-se de um nicho ainda novo dentro da construção civil do Brasil, mas muito popular fora do país, e que começa a ganhar tração em casas de alta renda, empresas e até estádios de futebol.
A SteelCorp foi fundada há uma década e passou a ser controlada por Justus em meados do ano passado e, desde outubro, conta com a gestora Reag como sócia, detentora de 30% do capital. E vê espaço para trazer inovações para um setor que movimenta R$ 370 bilhões por ano mas é considerado um dos menos tecnológicos no país, segundo Daniel Gispert, presidente e sócio da SteelCorp.
O caminho escolhido pela companhia é a construção a seco, com a técnica do light steel frame, que utiliza uma estrutura de aço como esqueleto com paredes feitas de gesso com proteções térmicas e acústicas, em uma técnica que lembra a construção de casas nos Estados Unidos, com a diferença que, nos EUA, a estrutura é feita de madeira.
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Gispert admite que havia um preconceito inicial ao produto, mas que, aos poucos, as barreiras financeiras e culturais vão caindo. “Na pandemia, o nosso sistema era caro e havia uma barreira de entrada, além da aversão à tecnologia”, reconhece Gispert, em entrevista ao IM Business. “Mas atualmente temos valores competitivos em relação à alvenaria em um prazo de entrega 50% menor, ou seja, há um custo de oportunidade muito grande para o nosso clientes”, prossegue. Hoje, o custo de construção por metro quadrado em steel frame é de R$ 5 mil, metade do que era em 2020, mas ainda acima da média nacional do IBGE, de R$ 1,7 mil por metro quadrado.
Embora o custo inicial pareça mais salgado que o “arroz e feijão” da alvenaria, Gispert, engenheiro civil com mais de duas décadas no mercado de incorporação, afirma que, além de uma entrega mais rápida, seus projetos têm um pós-venda muito mais econômico e de baixa manutenção. “Nossas paredes não apresentam rachaduras ou infiltrações, por exemplo, sem falar na organização de tubulações e fios”, acrescenta.
Outra vantagem é a execução do projeto ser praticamente toda feita na fábrica. O presidente da SteelCorp estima que 70% da obra pode ser feita offsite, o que garante que a casa seguirá o padrão de uma linha de produção. “Não haverá problema de uma porta ser maior que a outra ou de janelas diferentes”, exemplifica.
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Para avançar no mercado, a estratégia tem sido atrair casas de alta renda para criar portfólio. Por esses clientes já serem familiarizados com a construção à seco, a questão cultural é superada com facilidade e, segundo Gispert, os projetos de mansões vêm ganhando tração com a adesão de arquitetos renomados, como Arthur Casas. “O light steel frame é o carro elétrico da construção. Buscamos esses ‘early adopters’ [usuários abertos à inovação] para desenvolver o mercado. No começo, havia dúvidas se os imóveis poderiam se desvalorizar, mas estamos provando que não muda nada em relação à alvenaria”, reforça.
Atualmente, a SteelCorp está com 18 projetos em andamento, sendo cinco residências na Fazenda Boa Vista, condomínio de luxo localizado no interior de São Paulo, além de outro condomínio de casas em Indaiatuba e mais sete residências em Ibiúna. Há também projetos corporativos, como o prédio administrativo da Blau Farmacêutica e parte da MRV Arena, estádio de futebol do Atlético Mineiro inaugurado neste semestre.
“Nosso objetivo não é apenas construir mansões, mas hoje essa é a nossa porta de entrada. Nosso plano a longo prazo é avançar em obras de repetições, como condomínios de casas e estrutura de banheiros de prédios comerciais, por exemplo”, diz Gispert. Outras possibilidades vislumbradas são fachadas de prédios e arquibancadas para outros estádios de futebol e obras em hospitais – onde a obra modular é vantajosa também pelo fato de envolver menos profissionais no ambiente hospitalar e gerar menos poeira.
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O presidente da SteelCorp afirma que o objetivo é criar um ecossistema para o steel frame no Brasil. Duas iniciativas nessa direção já estão em curso, como a criação de uma universidade para formar mão de obra especializada em steel frame, bem como o SteelBank, voltado para financiar clientes e fornecedores da empresa.
A meta da empresa, que deverá faturar R$ 550 milhões neste ano, é alcançar R$ 800 milhões em 2024. “Atualmente, menos de 1% do mercado utiliza o steel frame e 10% das obras são modulares. Estamos falando de um potencial muito grande, se alcançarmos 5% do mercado nos próximos anos, imagina de quanto dinheiro estamos falando”, conclui o executivo.
Além de Justus e Reag, com 82% do capital da SteelCorp, Daniel Gispert possui 15% de participação na empresa, enquanto Marcelo Pieruzzi, sócio responsável pelo SteelBank, detém os outros 3%.
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