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SÃO PAULO – A reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 teve início nesta sexta-feira (22) na cidade de Gyeongju, na Coreia do Sul. O encontro deve ser dominado por discussões acerca da “guerra cambial”. Mas para analistas, pouco progresso deve ser conquistado.
Presentes na reunião – uma espécie de prévia do encontro entre os presidentes do G-20, já agendada para ocorrer no dia 11 de novembro na capital sul-coreana de Seul -, estão importantes figuras como Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, e membros da equipe econômica do governo chinês. Guido Mantega, ministro da Fazenda do Brasil, não estará presente no evento.
As pressões sobre o encontro são muitas. Um clima de escalada de tensões toma conta do ambiente de câmbio internacional e “as políticas monetárias ao redor do globo têm se tornando cada vez mais desconexas”, diz a equipe do Barclays. Apesar da importância do tema, paira no ar “a incômoda sensação de que há muito pouco para se fazer”, alertam os analistas da Gradual Corretora.
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Carta de Geithner
Nesta manhã, os EUA divulgaram uma carta, assinada por Geithner, na qual pedem que os países com superávits ou déficits muito grandes promovam medidas para reequilibrá-los – a sugestão é de que os saldos positivos ou negativos nas contas correntes não correspondam a mais que 4% de seu PIB (Produto Interno Bruto) correspondente. A China, por exemplo, possui um superávit de 4,7% em relação ao PIB, e segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional), a fatia deve subir para 7,8% em 2015.
Paralelamente, a declaração norte-americana também trouxe outra demanda à mesa de discussões: o fim das “políticas cambiais competitivas”. Em uma clara insinuação à política chinesa, Geithner critica a manutenção de taxas de câmbio artificialmente desvalorizadas, que segundo ele, “sustentam as atuais distorções no panorama econômico global”.
EUA x China
A carta apresentada por Geithner nesta manhã pode ser interpretada como uma prévia do que será o G-20: um embate entre os EUA e a China. Diversos membros do governo norte-americano vieram à mídia nos últimos dias para criticar a política cambial chinesa, que mantém o yuan desvalorizado a fim de estimular suas exportações e “obter vantagem no comércio internacional”.
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Desde junho, quando o país concordou em implantar uma gradual valorização em sua moeda, estima-se que o yuan tenha subido apenas 2%, o que segundo críticos, está muito longe de ser o ideal, equivalente ao crescimento econômico chinês. Mesmo diante de alguns problemas, como a alta da inflação, o governo de Pequim tem preferido adotar medidas de aperto monetário, elevando taxas de juros, a mexer no câmbio, despertando a ira internacional.
Mas toda situação tem seu outro lado da moeda. Os chineses contra-argumentam as críticas norte-americanas, afirmando que a principal causa das distorções econômicas no mundo vem, na verdade, de sua política monetária. Para eles, os baixíssimos juros do país, com a Fed Funds Rate próxima a zero há anos, e medidas como aquisição de títulos no mercado promovem um excesso de liquidez de moeda no mundo e uma preocupante desvalorização do dólar.
“Para mim, o que mais desestabiliza o câmbio mundial é o dólar, é a desvalorização do dólar, muito mais do que a valorização chinesa” – tal afirmação, ao contrário do que se possa pensar, não foi proferida por algum membro do governo chinês, mas sim por Guido Mantega. E embora o yuan desvalorizado também receba suas críticas no mercado, muitos analistas concordam que a política do Fed é a principal responsável pelas distorções cambiais.
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Pouco espaço para manobra
Entretanto, é quase consenso também que os EUA não têm muita opção. “Há pouco espaço para manobra. O que está enfraquecendo o dólar é sua política monetária expansionista, que inunda o mundo com sua moeda. Para reverter esse cenário, seria necessário alterar essa política, e isso seria no mínimo desastroso, tanto para os EUA quanto para o resto do planeta”, afirma André Perfeito, economista da Gradual.
Em sua visão, caso o Federal Reserve promova um aperto monetário – o que é bastante improvável -, um novo ciclo de desaceleração econômica severa seria iniciado no mundo, com a economia norte-americana podendo voltar ao quadro de recessão. “A Europa, em meio a severas disputas fiscais, seria tragada para o fundo do poço, tornando insustentável a situação dos países mais frágeis daquela região”, diz a equipe.
A visão da Gradual é compartilhada pelos analistas do Société Générale. “O setor externo, por exclusão, é o único meio pelo qual os EUA podem atualmente estimular sua economia. Entretanto, mesmo com o dólar em queda, o país não tem conseguido reverter seus déficits comerciais”, observa a equipe do banco de investimentos.
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Mundo descordenado
O impasse entre EUA e China tem gerado uma fragmentação entre as políticas econômicas promovidas ao redor do mundo. Não que as tensões entre os dois países sejam novas – pelo contrário -, mas o excesso de liquidez gerado, entre outros fatores, pelo baixo juro norte-americano, começa a impactar países emergentes com sistemas de câmbio flutuantes – entre eles, o Brasil.
“Atualmente, cada bloco econômico vem perseguindo seus próprios objetivos monetários e cambiais, sem se preocupar com as implicações globais. Os EUA estão prestes a implementar uma nova rodada de flexibilização quantitativa; membros do BCE (Banco Central Europeu) começam a pressionar por um aperto; a China eleva seus juros ao invés de permitir a valorização do yuan; e, por fim, países emergentes vêm elevando barreiras contra a enxurrada de moeda que vêm vivenciando em seus mercados”, diz a equipe do Barclays.
Uma maior coordenação entre os países parece ser o principal objetivo deste encontro do G-20. Mas as perspectivas são bastante frágeis. “Todos os ministros presentes agora na Coreia concordam quanto à necessidade de um maior equilíbrio na economia global. O que eles não concordam é quem deve ficar com o trabalho pesado”, comenta o Société.
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Para a Gradual, o principal risco é que “a desvalorização do dólar acione medidas protecionistas, fazendo o atual momento se degenerar em uma guerra comercial, com atuação no câmbio e barreiras comerciais. Os ministros reunidos sabem que, se isso, ocorrer, o resultado final será desastroso para todas as economias do planeta”.
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