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SÃO PAULO – Se arrastando ano após ano, desde 2009, a crise da dívida soberana na Europa permaneceu no radar dos investidores no primeiro semestre de 2012. Reuniões de líderes políticos, reduções de ratings, eleições presidenciais, pacotes de resgate, entre outras coisas, ajudaram a desenhar novos capítulos da novela europeia que já dura quase quatro anos.
Sem solução definitiva até o momento, as turbulências no Velho Continente animaram e desapontaram o mercado várias vezes durante os primeiros seis meses de 2012 e devem continuar guiando os negócios daqui pra frente. Para você entender o que ainda pode acontecer na segunda metade do ano, o InfoMoney faz uma viagem de volta no tempo e lhe traz os principais fatos que marcaram a economia da região do euro no primeiro semestre do ano. Confira!
JANEIRO
O ano já começou movimentado na Zona do Euro. Logo no início de janeiro, o mercado acompanhou uma série de reuniões entre importantes líderes europeus, como a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês da época, Nicolas Sarkozy. O continente lutava por medidas para maior integração fiscal no bloco da moeda única.
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Um movimento relevante, no entanto, só aconteceu entre os dias 30 e 31 de janeiro, quando ocorreu a primeira reunião de cúpula da União Europeia. Durante o encontro, o Velho Continente deu o primeiro passo rumo à união fiscal ao acordar os detalhes do pacto para uma maior disciplina orçamentária na UE. Apenas o Reino Unido e a República Tcheca não concordaram com as regras contidas no documento.
No plano de fundo, a Grécia continuava pesando sobre os negócios em meio a falta de acordo para a reestruturação da dívida. Os credores internacionais do país chegaram até a considerar pedir ajuda à Alemanha e França para pôr fim ao impasse. Ao mesmo tempo, pesadas decisões de ratings impactaram o sentimento dos investidores. Em janeiro, a Standard & Poor’s rebaixou a nota de nove países europeus, enquanto a Fitch anunciou o corte de cinco ratings.
O temor com a fragilidade fiscal de países da região ficava cada vez mais claro, o que permitiu, inclusive, que a Alemanha – principal potência econômica da Europa – emitisse dívida com rentabilidade negativa.
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FEVEREIRO
Assim como aconteceu em janeiro, o evento mais importante de fevereiro só aconteceu no último dia do mês: o BCE (Banco Central Europeu) realizou a segunda operação de liquidez para três anos. A autoridade monetária emprestou € 529,5 bilhões a 800 bancos da Zona do Euro em condições muito favoráveis. A ideia era proporcionar crédito às instituições para que comprassem dívida soberana e repassassem às famílias e às empresas.
Antes disso, o mercado recebeu notícias relevantes sobre pacotes de resgate a países europeus. Os ministros de Finanças da Zona do Euro chegaram a um acordo sobre o segundo programa de apoio à Grécia, no valor de € 130 bilhões, enquanto Portugal e Irlanda passaram na avaliação da Troika e receberam novas parcelas do socorro financeiro.
As agências de notação financeira também continuaram mexendo com os mercados no segundo mês do ano, com foco especial na Grécia. Fitch Ratings e Standard & Poor’s rebaixaram a nota de crédito do país, sendo que a última agência levou a classificação grega para default seletivo.
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Na Alemanha, o ambiente político esquentou com a renúncia do presidente do país, Christian Wulff, por conta de investigações sobre supostas irregularidades. A situação foi resolvida pouco dias depois, com a indicação de Joachim Gauck, um teólogo e ex-dissidente da Alemanha Oriental, para o cargo.
MARÇO
Março foi definitivamente um mês grego. Apesar de alguns sinais de preocupação com a economia espanhola, foi Atenas que concentrou a maior parte da atenção do mercado. Logo no início do mês, a Moody’s seguiu as outras duas principais agências de risco e reduziu o rating do país. A Fitch também voltou a agir e, desta vez, cortou a classificação grega para default seletivo. Poucos dias depois, no entanto, a agência elevou a nota do país em três degraus, para B-.
Mas não foi esse vaivém de ratings o fato mais marcante do mês. As águas de março trouxeram o tão esperado swap de bônus gregos. Naquele mês, o governo da Grécia finalmente conseguiu a aceitação dos detentores privados de títulos públicos para a proposta de reestruturação da dívida. A troca de títulos, que impunha perdas ao setor privado e era pré-requisito para a liberação do segundo pacote de socorro, contou com a participação de 96% dos credores.
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Entretanto, o governo da Grécia precisou recorrer às cláusulas de ação coletiva para alcançar a aceitação necessária no programa. Isso fez com que a ISDA (Associação Internacional de Swaps e Derivativos, na sigla em inglês) classificasse a reestruturação da dívida grega como um “evento de crédito”, decretando oficialmente o default do país.
De qualquer forma, depois da operação, a Zona do Euro autorizou o desembolso da primeira parcela do segundo programa de resgate à Atenas, no valor de € 39,4 bilhões, e o FMI (Fundo Monetário Internacional) também aprovou sua contribuição ao plano de socorro, de € 28 bilhões, com liberação imediata de € 1,65 bilhão.
Em meio ao descontentamento do povo grego, a força política da Grécia já começava a dar sinais de mudança. Prova disso foi a renúncia do ministro de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, o qual deixou o cargo para assumiu o comando do partido socialista Pasok. Venizelos foi logo substituído pelo economista Filippos Sachinidis.
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O mês fechou com chave de ouro depois que os ministros de Finanças da Zona do Euro concordaram em ampliar o teto dos fundos de resgare, de € 500 bilhões, para € 700 bilhões.
ABRIL
Após a resolução do swap grego, os receios com a situação da Espanha ganharam força, principalmente em relação à fragilidade do setor bancário do país. Em abril, o próprio banco central espanhol chegou a sugerir que as instituições financeiras poderiam precisar de mais capital se a economia se deteriorasse. A Espanha começava a se tornar o novo foco da crise europeia, um foco bem maior e mais significativo.
Na tentativa de acalmar o mercado, diversas autoridades europeias chegaram a descartar a necessidade de ajuda internacional para que a Espanha pudesse recapitalizar seus bancos, e os governos de Alemanha e França declararam o temor dos investidores quanto à capacidade do país em cumprir a meta de redução de déficit orçamentário como exagerado. Mesmo assim, a Espanha não escapou do alvo de agências de notação financeira e viu seu rating ser cotado em dois níveis pela Standard & Poor’s.
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Não foi por conta de um novo foco que a Grécia saiu de cena. Em abril, o governo grego completou o programa de troca de dívida com 96,9% de adesão. Também naquele mês, surgiu mais uma indicação do que se tornaria um longo impasse político no país. Em abril, o primeiro-ministro grego da época, Lucas Papademos anunciava que a Grécia teria eleições nacionais antecipadas para o dia 6 de maio.
A crise da dívida também estremecia outros pontos da Europa. Sem conseguir apoio para um pacote de medidas de austeridade, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte apresentou sua renúncia à rainha Beatrix.
Já na França, a primeira etapa das votações presidencias colocava a reeleição de Nicolas Sarkozy em risco. A diferença de votos entre o então presidente francês e o principal rival, o socialista François Hollande, foi apertada no primeiro turno. Era a crise do continente, acompanhada de duras medidas de austeridade e fraco crescimento econômico, que ameaçava a popularidade dos líderes atuais e indicava um novo cenário político pela frente.
MAIO
O mês começou com uma boa notícia: a Standard & Poor’s aumentou a nota da Grécia de default seletivo para CCC. Os dias que se seguiram, entretanto, não trouxeram eventos tão positivos assim…
O mercado iniciou o mês interessado no futuro político da Zona do Euro diante de eleições presidenciais em países do bloco. No dia 6, a população foi às urnas e elegeu François Hollande como presidente da França. O novo líder francês chegava ao poder levantando a bandeira pró-crescimento econômico e rompendo uma aliança europeia poderosa. A dupla Merkozy, como era conhecida a parceria entre Merkel e Sarzoky, estava fora do jogo.
Em Atenas, por outro lado, a eleição terminou num impasse: nenhum partido recebeu maioria de votos. Durante mais de uma semana, os líderes do Nova Democracia, Antonis Samaras, da Esquerda Radical (Syriza), Alexis Tsipras, e do Partido Socialista (Pasok), Evangelos Venizelos tentaram formar um governo de coalizão na Grécia, mas falharam. Por conta disso, um governo interino foi formado e os gregos teriam que voltar às urnas em 17 de junho.
O evento mandou um recado ao mercado: o povo grego havia cansado das pesadas ações para conter o déficit do país e parte da força política de Atenas estava disposta a romper o acordo sobre o pacote de resgate de € 130 bilhões. Isso trouxe à tona a preocupação sobre um possível default e a consequente saída do país do bloco do euro, o que acabou provocando uma redução de nota de crédito pela Fitch Ratings.
Com a Grécia cada vez mais perto de readerir ao dracma, o país voltou à pauta de políticos e economistas ao redor do globo e os países da região preparavam planos de contingência para uma situação que parecia iminente. Líderes do G8 manifestavam seu apoio à permanência do país na Zona do Euro, enquanto a chanceler alemã sugeria inclusive um referendo para discutir a situação da Grécia como membro do bloco.
Ao mesmo tempo, os receios sobre o setor bancário da Espanha começavam a se concretizar. O próprio governo do país já admitia que poderia injetar dinheiro público no sistema financeiro, quando surgiram notícias sobre a nacionalização de 45% do Bankia, quarto maior banco do país. Em seguida, o governo exigira às instituições que separassem um adicional de € 30 bilhões para cobrir possíveis perdas.
O setor bancário espanhol viveu momentos de pânico, com rumores de fuga de correntistas do banco estatizado. Clientes do Bankia podem ter sacado € 1 bilhão em apenas 10 dias. Mais tarde, a instituição voltaria a chamar a atenção dos investidores ao anunciar um pedido de empréstimo de € 19 bilhões ao governo. Tudo isso fez com que a Moody’s cortasse o rating de 16 bancos espanhóis, incluindo o gigante Santander.
Os problemas no setor bancário não paravam na Espanha. Enquanto a Grécia injetava € 18 bilhões em quatro instituições financeiras, a Moody’s colocava a solidez do sistema financeiro da Itália em xeque, com o rebaixamento da nota de 26 bancos do país. Neste contexto, têm início sugestões sobre uma “união bancária” e a recapitalização direta dos bancos por meio do fundo de resgate permanente.
JUNHO
Os receios sobre a situação do setor bancário europeu continuou concentrando boa parte da atenção do mercado no início de junho. Nos primeiros dias do mês, Portugal se uniu à Espanha e Grécia, anunciando a capitalização de € 6,65 bilhões em três grandes bancos. Mas o pior ainda estava por vir…
Na sequência, o governo espanhol confirmou rumores e pediu uma assistência internacional de € 100 bilhões para lidar com problemas no setor bancário. Era o quarto país da Zona do Euro a pedir ajuda, ainda que a Espanha assegurasse não se tratar de um resgate e sim de um empréstimo. O pedido formal de empréstimo veio pouco depois, mas o valor não foi confirmado.
Altamente dependende do setor bancário da Grécia, o Chipre começava a entrar no radar em função de rumores sobre a necessidade de € 4 bilhões para recapitalizar os bancos. Logo depois, a ilha do Mediterrâneo seria o quinto país a formalizar um pedido por pacote de resgate. A solicitação também foi estendida ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
Do lado político, os conservadores venceram a eleição na Grécia, alimentando as esperanças de que o país continue na Zona do Euro. Antonis Samaras do Nova Democracia foi nomeado primeiro-ministro país, liderando uma coalizão de três partidos, junto com Pasok e Esquerda Democrática. O país enfrentou alguns contratempos com uma nova renúncia do ministro de Finanças, desta vez, por questões de saúde. Porém, o professor de economia Yiannis Stournaras foi logo nomeado para o cargo.
Ao mesmo tempo, Samaras também foi hospitalizado, o que o impediu de comparecer a cúpula da UE, realizada entre os dias 29 e 30 de junho. Ele foi representado por outras autoridades gregas, num momento em que o país luta para aliviar os termos do segundo pacote de resgate.
A última reunião de cúpula da UE mostrou uma Europa diferente. Iniciado em maio, o debate crescimento x austeridade só ganhou forças no mês passado, sendo que Merkel, defensora de rígidas medidas de controle fiscal, fica cada vez mais isolada. Gigantes como Itália, possível próximo alvo da crise, e França vêm defendendo ações com efeito de curto prazo contra a crise. Hollande e o premiê italiano Mario Monti defendem o uso do eurobônus e de resgates diretos da UE a bancos, entrando em choque com as posições defendidas pela alemã.
A corrente pró-crescimento parece ter vencido no último encontro: líderes europeus aprovaram um pacote de estímulo de € 120 bilhões, ao mesmo tempo em que aceitaram a recapitalização direta dos bancos e a compra de títulos públicos de países membro da região, na prática abrindo o caminho para conter o custo dos refinanciamentos de Itália e Espanha. As medidas surpreenderam e fizeram bem aos ânimos do mercado, mas essa história ainda está longe de terminar…
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