Dólar: se sobe o mercado reclama, se cai também. Afinal, quando está bom?

Especialistas dizem qual o momento ideal da divisa e quais empresas listadas em bolsa sofrem com a forte volatilidade da moeda

Graziele Oliveira

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SÃO PAULO – O movimento atípico do dólar nos últimos dias tem colocado uma dúvida na cabeça dos investidores. Afinal, quando a moeda norte-americana está em alta, tem sempre quem reclame disso. Por outro lado, quando ela cai, também desagrada. Afinal, quando o dólar está bom?

Segundo analistas consultados pelo InfoMoney, não é possível mesmo agradar a todas as pontas do mercado quando se fala em câmbio. “O dólar alto prejudica o importador, que precisa de moeda americana mais barata. Por sua vez, quando a divisa está mais barata, o prejudicado é o exportador, que perde competitividade lá fora”, explica Tito Gusmão, especialista da área de câmbio da XP Investimentos.

O cenário ideal neste caso é estabelecer a menor variação possível da divisa no curto prazo, diferente do cenário observado recentemente: nos últimos em 22 dias a moeda saltou de R$ 1,60 para R$ 1,95.

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“A volatilidade só é boa pra quem trabalha com ela, no caso o especulador, este é seu objeto de trabalho, mesmo assim, nem para ele é tão simples em situações como a atual”, reforça a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares. Segundo ela, para as empresas a alta volatilidade nunca é boa, visto que elas trabalham com decisões de maior prazo e com a compra e venda de mercadorias para entregas no futuro. “O melhor dos mundos, neste caso, é quando há estabilidade,” diz Miriam.

Esta é a mesma opinião do economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto. “Na verdade, o que dificulta os negócios é a oscilação brusca, que impede o planejamento dos investimentos. Uma taxa flutuante é natural no caso do câmbio, mas movimentos muito acentuados não são bem vistos”, diz Neto.

Volatilidade já se percebe na balança comercial
É possível observar estas dificuldades do mercado se analisarmos os dados da balança comercial divulgados nesta segunda-feira (26) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Segundo os números, as importações apontaram significativo aumento na quarta semana de setembro, passando de US$ 4,731 bilhões para US$ 5,705 bilhões. As exportações fizeram caminho contrário: saíram de US$ 5,944 bilhões para US$ 5,121 bilhões.

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“Até mesmo os exportadores ficaram mais retraídos, esperando a queda da divisa, dado do receio de que seus pedidos fossem cancelados. Já os importadores, seguiram o movimento ‘natural’ e fizeram remessas ou compras lá fora o quanto antes, com receio de que a divisa acentuasse seu aumento”, esclarece Miriam.

No sentido, e ao tentar estabelecer um equilíbrio na cotação, o Banco Central vem atuando bastante nos últimos meses. Só que se antes as intervenções da autoridade eram para impulsionar a cotação da moeda, atualmente essas operações têm tido como objetivo derrubar essas cotações. “O que o BC está tentando fazer é chegar em um patamar médio de R$1,70 a R$1,80, que possa agradar a todos. Quando estava na casa dos R$1,50/R$ 1,60 o BC atuou, e quando estava no R$1,90 ele atuou de novo”, relembra Tito.

Fique atento
Para o investidor, vale a pena ficar atento às características da empresa em que está investindo, e à sua exposição ao dólar, para a partir daí, avalair se as ações ganham ou perdem com a variação cambial. Entre os fatores que devem ser listados na hora de comprar uma ação devem estar a atividade atrelada à exportação ou importação, presença de operações no exterior e o quanto a dívida da empresa está atrelada à moeda estrangeira.

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Algumas companhias que entram nesta lista de dívida com alta exposição ao dólar, segundo analistas, são: JBS (JBSS3), Marfrig (MRGF3), Brasil Foods (BRFS3), Fibria (FIBR3), Embraer (EMBR3), Braskem (BRKM5), além de Vale (VALE3VALE5), Petrobras (PETR3, PETR4), Gerdau (GGBR4) e Metalúrgica Gerdau (GOAU4), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM3USIM5).

Outro fator, apesar do difícil acesso para o investidor a este tipo de informação, é a proteção cambial. Trata-se de como a companhia se protege em caso de uma variação cambial brusca que afete, por exemplo, a compra de um componente necessário para produção ou um investimento da empresa, como operações em derivativos cambiais. A dificuldade em obter esta informação é que, fatalmente, diretor de Relação com Investidores da companhia dirá que se protege, mas nunca saberemos como ou o quanto.

Por fim, e diante do atual cenário, Miram Tavares deixa a dica, “agora, todo cuidado é pouco. Se tiver que fechar negócios o faça no maior numero de partes possíveis como, por exemplo, parcele as compras de dólar até o fim do ano”, finaliza a economista que espera a divisa em torno de R$ 1,70 até dezembro.

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