De quem Michel Temer deve mais ter medo: Cunha, Renan ou TSE?

Eventos da última semana mostram que o presidente tem que se preocupar com o "fogo amigo" - e que Renan Calheiros pode impactar mais os projetos de Temer

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A última semana foi marcada por dois acontecimentos importantes (e preocupantes) para o governo Michel Temer. O primeiro deles foi a condenação de Eduardo Cunha a 15 anos e 4 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, o que reacendeu o debate sobre uma eventual delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados, que envolveria inclusive o atual presidente. No mês passado, a Folha de S. Paulo destacou que a reação de Cunha se continuasse preso seria imprevisível, citando advogados do ex-parlamentar, afirmando que ele poderia “surtar”. 

Em segundo lugar, está a oposição cada vez mais aberta do senador Renan Calheiros ao presidente e a seus projetos. Renan já atacou os projetos do governo duas vezes em redes sociais e, de acordo com matéria do jornal Valor Econômico, está em busca de uma articulação com Lula em Alagoas de olho em 2018. (veja mais clicando aqui e aqui). 

Mas afinal, de quem Temer deve ter mais medo: de Cunha e do que ele pode falar em uma possível delação premiada ou da oposição aberta de Renan Calheiros?

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Conforme destaca o analista da Barral M. Jorge, Juliano Griebeler, Temer deve ter mais receios do senador do que do ex-deputado. Segundo o analista político, está cada vez mais difícil para Cunha negociar uma delação premiada. “Ele precisa trazer informações novas e, caso revele algo sobre Temer, será para deteriorar sua imagem diante da opinião pública mais do que ter alguma ação legal – por ser presidente ele não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”, aponta.

De acordo com ele, há preocupação com uma possível delação, mas as delações da Odebrecht e das demais empresas representam um perigo mais imediato. Enquanto isso, caso Cunha negocie uma delação, demorará meses para chegar a um acordo do que será revelado para redução da pena.

Para Griebeler, Renan tem mais chances de interferir nos projetos de Temer do que Cunha no momento. “Renan deve conseguir influenciar uma parcela do PMDB, mas o maior problema é demonstrar para os demais partidos que o próprio partido do governo não está alinhado na votação de medidas polêmicas. Em um momento em que demonstrar força e unidade é fundamental, há divergências críticas dentro do PMDB que podem dificultar a aprovação das matérias no Senado, casa geralmente vista como mais coesa em suas deliberações”.

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Por outro lado, aponta o analista, o governo terá tempo até a reforma da previdência e trabalhista chegar ao Senado para articular sua aprovação e apaziguar o relacionamento com Renan Calheiros, que saiu do foco das atenções após deixar a presidência da Casa e busca novas formas de se manter vivo na memória do governo e da população para não se esquecido. Assim, com os políticos de olho nas eleições de 2018, o cenário ainda é muito incerto para definir quais alianças vão surgir e quem ainda se terá condições políticas de se manter como candidato e aliado.

E o TSE?

Enquanto isso, segue em destaque o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, que acontece na próxima terça-feira (4). De acordo com parecer do vice-procurador Geral Eleitoral, Nicolao Dino, que atuou na ação de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a campanha vitoriosa em 2014 recebeu ao menos R$ 112 milhões em recursos irregulares, segundo informações da Folha. Porém, aponta a Eurasia, há apenas 20% de chance da corte votar pela anulação da chapa. 

Contudo, essa probabilidade pode aumentar caso piore o cenário para a realização da reforma da Previdência Social e cresçam os protestos de rua pelo País.

Por outro lado, apontam jornais, Temer está convicto sobre um pedido de vista dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, espera-se que o juiz Herman Benjamin, relator do caso, recomende que o TSE anule a vitória da chapa Dilma-Temer, mas não está claro quantos de seus colegas juízes vão concordar. O tribunal poderia optar por uma punição mais branda ou até mesmo por dividir a conta, responsabilizando Dilma pela ilegalidade e exonerando Temer.  Assim, a ação poderia se estender então até depois de 2018.

Com isso, o mercado parece estar deixando um pouco de lado o julgamento do Tribunal – mas bastante atento a outros fatores, com destaque para uma possível rebelião da base aliada e seus riscos para a aprovação das reformas. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.