Forte expansão do crédito na China pode levar à crise no longo prazo

Economista do UBS avalia que crescimento dos "shadow banks'' pode levar à forte volatilidade do crédito e levar a aperto monetário, enquanto BofA avalia que reação do mercado é imprevisível

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A aceleração da economia chinesa e o aumento do consumo no gigante asiático, apesar de ter promovido o crescimento econômico mundial e amenizado as perdas nos períodos de crise econômica, também podem ser fonte de preocupação. 

O economista do UBS na China, Tao Wang,  ressalta que a forte expansão de crédito no país pelos shadow banks – ou instituições financeiras não bancárias – é arriscado, uma vez que pode levar a um maior descontrole do crédito pelas autoridades monetárias centrais, levando também a um cenário de maior volatilidade. O sistema denominado shadow banking é formado por instituições financeiras não bancárias, que provê serviços similares aos bancos comerciais. 

Mesmo com os sinais observados nas últimas três semanas no sentido de desacelerar o crédito no país, com aperto de liquidez, ter sido visto como positivo por Wang, o cenário ainda é de preocupação. Isso mesmo com as ressalvas de que a maior parte dos “shadow banks” sejam regulados, ao contrário da maior parte dos países desenvolvidos e que ele é pequeno quando comparado às nações mais ricas – de 40% do PIB na China frente a 100% nos países desenvolvidos – e até frente ao próprio sistema bancário chinês.

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Sistema bancário não entrará em colapso…
Wang afirma não acreditar que o tamanho do sistema financeiro não-bancário da China é grande ou que ele tenha chegado a um nível insustentável. Além disso, as expectativas não são de uma crise financeira para o gigante. 

Contudo, aponta, enquanto o tamanho do sistema bancário é ainda relativamente modesto – o que deve reduzir as consequências sistemáticas de qualquer problema – o crescimento muito rápido, associado a uma regulação menos estrita, são preocupantes no longo prazo, mas não em um período curto de tempo.

Dentre os motivos para que não aconteça uma crise no curto prazo, estão a alta dívida externa da China concentrada em consumo e não em investimentos, além de uma alta taxa de poupança. A baixa taxa de inadimplência – ainda que crescente -, a forte centralização do sistema bancário no Estado e a ampla liquidez são outros motivos apontados por Wang para acreditar na força do sistema bancário do país.

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…mas não elimina preocupações
Mesmo com estes fatores assegurando o sistema bancário do gigante asiático, isso “não significa que há pouco risco para os investidores ou que os decisores políticos devem ignorar alguns dos seus desenvolvimentos claramente insustentáveis”, avalia Wang. 

No lado macroeconômico, o rápido crescimento dos “shadow banks” levou a uma flexibilização significativa das condições de crédito desde meados de 2012. Embora tenha sido útil para a retomada do crescimento, a população e os políticos podem subestimar as verdadeiras condições de crédito da economia.

“Assim, o ajuste da política pode ser adiado até um aumento muito forte da alavancagem, aceleração dos indicadores de inflação ou uma bolha de ativos”, afirma o economista. Assim, o governo pode ter que apertar o crédito de forma abrupta, causando consequências mais sérias para a economia e levando a um forte aumento da inadimplência. 

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Associado a isso, um grande risco é o aumento da volatilidade relacionado a um aperto inesperado, destacando que a liquidez dos “shadow banks” não é muito estável em comparação às instituições regulares e depende fortemente da confiança dos investidores. Problemas de pagamento, avalia Wang, poderiam abalar a confiança e diminuir a liquidez de repente. 

Neste caso, uma das alternativas seria reprimir as atividades financeiras não bancárias, com os bancos trazendo de volta os ativos subjacentes aos seus balanços. Entretanto, afirma Wang, um aperto da liquidez ocorrerá da mesma maneira. 

Próximos passos: desaceleração da economia
Em meio ao cenário que se desenha, o que pode acontecer a seguir? De acordo com o economista do UBS, enquanto algumas autoridades têm se manifestado a favor do desenvolvimento do setor não-bancário, outros expressam maior preocupação sobre a falta de transparência na gestão de riquezas e com a acumulação excessiva de dívida.

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Assim, avalia, mesmo que o governo não aperte ou mude em breve a direção da política monetária, a velocidade da expansão de crédito tende a diminuir, o mais tardar no segundo semestre, levando o crescimento da atividade econômica a desacelerar também. 

BofA: reação do mercado pode ser imprevisível
O cenário desenhado pelos estrategistas do Bank of America Merrill Lynch, David Cui e Tracy Tian, é ainda mais pessimista do que o observado por Wang. De acordo com eles, com o financiamento do governo local mais esticado, a maior regulação do sistema bancário e uma política monetária mais prudente deve levar a um maior risco de inadimplência. 

Com isso, a reação do mercado pode ser imprevisível, apontam os estrategistas, como o já observado na experiência da crise do subprime, com os bancos podendo executar rapidamente um choque de liquidez. Apesar de avaliar que se está ainda há alguns meses de um cenário baixista, Cui e Tian afirmam que, caso haja uma quebra sistêmica, eventos como o ciclo após a quebra do Bear Sterns e Lehman Brothers nos Estados Unidos podem ocorrer na China. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.