Infeliz aniversário? Cinco anos de uma crise que abalou a história

No período, commodities ganharam status de melhores investimentos e bolsas periféricas da Europa foram apontadas como as mais fracassadas

Nara Faria

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SÃO PAULO – Comemorar não seria a palavra mais adequada para descrever o fato ocorrido há exatamente cinco anos, e que marca a maior crise financeira dos últimos tempos. No dia 9 de agosto de 2007, o banco francês BNP Paribas, um dos maiores bancos da Europa e do mundo, suspendeu o resgate de três fundos de investimentos.

O banco alegou dificuldades em precificar alguns ativos na sua carteira por conta da baixa nos mercados de títulos subprime – que se referem aos empréstimos feitos diretamente ou comprados no mercado secundário que não tinham condições de pagá-los.

Desde então, o que o mundo acompanha é a desaceleração da economia global, diante das certezas europeias e a imagem ferida sobre o desempenho da maior potência econômica do mundo: os Estados Unidos.

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Crise financeira
Na sequência de uma série de eventos que marcaram o agravamento do episódio vivido em agosto de 2007, entre eles está a quebra de um banco norte-americano, o Lehman Brothers, foram tomadas diversas medidas emergenciais de injeção de liquidez para evitar uma elevação do risco de crédito que pudesse contaminar o sistema. Nesses cinco anos, os principais Bancos Centrais do mundo injetaram cerca de US$ 5 trilhões na economia.

Com isso, muitos analistas consideram que este episódio marcou o início da grande crise financeira que assombra os mercados até hoje e não dá sinais de que será dissipada por um bom tempo. “Estamos vendo a continuidade daquela crise e o processo de desalacagem pública vai demandar muito tempo. Então, vamos viver tempos dificeis por um espaçamento maior. Muita gente fala de crise de 10 anos e é possível que tenhamos ainda anos difíceis pela frente”, opina o estrategista da Futura Investimentos, Adriano Moreno

Nesses últimos cinco anos, o fraco desempenho das economias ao redor do globo, fez com que as bolsas de países periféricos da Zona do Euro e bancos fossem classificados como os piores investimentos do período, de acordo com levantamento do Deutsche Bank, Markit, Bloomberg Finance LP. Chama a atenção também o desempenho da bolsa chinesa, que aparece como o sexto pior ativo nesse período.

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Por outro lado, outros ativos ganharam espaço por conta do aumento da liquidez do mercado, com destaque entre eles para as commodities, considerados como “válvula de escape para período de forte volatilidade e baixa liquidez”, na opinião de Daniel Cunha, membro da equipe de análise da XP Investimentos.

Contudo, mesmo para os ativos que tiveram valorização nesse período esse ganho “não ocorreu sem muitas lágrimas”, avalia do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio de Souza Leal. “Podemos até encontrar ativos que tiveram boa performance nesse período, mas com uma volatilidade colossal. Volatilidade, esse é o nome do jogo nesse período”, explica.

Commodities como proteção de riscos
Neste contexto, a pesquisa destaca como os melhores investimentos no período algumas classes de commodities, liderando a lista milho e o petróleo que aparece na quarta colocação. Os metais preciosos também foram extremamente bem, o ouro ficou na 2ª colocação e a prata teve o 3ª melhor desempenho – essas commodities geralmente foram utilizadas como divisas ao longo da história. 

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“O milho e petróleo, além do excesso de liquidez, se aproveitaram dos riscos no lado da oferta, com o primeiro passando por perturbações climáticas e o segundo passando por tensões geopolíticas”, explica Cunha.

Cunha lembra alguns choques de perturbações climáticas envolveram a produção do milho no período. “Na verdade, o pior dele é o que está acontecendo agora, em 2012”, afirma, referindo-se à seca na Russia, na região do mar negro. Em relação ao petróleo, ele cita a tensão geopolítica que afetou as cotações do petróleo. “Os conflitos ganharam força na primavera árabe no ano passado e até hoje tem os seus reflexos com as constantes ameaças do Irã”, reforça.

Crise sem data para terminar
Na visão dos especialistas, o que o mundo acompanha atualmente em termos de desaceleração da economia, aumento de juros sobre títulos de dívidas e decisões de agências de classificação de risco constantemente atualizando as suas classificações, especialmente em relação aos países europeus, nada mais são do que reflexo do que ocorreu naquele fatídico nove de agosto.

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Para Cunha, o aprendizado que o mundo leva de todo esse processo e que é preciso fugir de investimentos em países onde há problemas de solvência muito claros.”O aprendizado reflete nesse ranking e a crise que assombra não vai se desfazer tão rápido”.

O especialista afirma ainda que no ambiente atual é difícil apostar em um investimento com algum certo conforto, “então as escolhas são pelos menos piores, que acabam sendo commodities”, afirma. Sobre o que podemos esperar para o futuro dos investimentos, ele lembra que ainda acompanhamos intervencionismo dos bancos centrais e a possível 3ª rodada do Quantitative Easing, do Federal Reserve. “Novas rodadas de injeção monetária na Inglaterra e no Japão não estão próximas, mas também não podem ser descartadas e com isso é capaz de termos mais do mesmo nos próximos anos”, completa.

Segundo ele, nas últimas duas semanas, o mercado vem mostrando um apetite por risco muito forte, em cima de promessas e discursos, enquanto a economia não está entregando resultado. Na avaliação de Cunha, a data de aniversário desta crise que levou a economia mundial próximo às ruínas, vem para lembrar que a crise está longe de terminar.

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“Estamos com fundamentos muito fracos e riscos muito claros no radar. Estou um pouco impressionado por esse apetite por risco, que dá uma sensação de que o risco acabou e esse aniversário faz a gente lembrar que muito pouca coisa foi melhorada”, completa.

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