Atuação do Fundo Soberano só deve ter impacto de curto prazo no dólar

Embora acreditam na efetividade da medida, analistas não a veem como a solução final para taxa de câmbio mais equilibrada no País

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – A confirmação de que o Fundo Soberano Brasileiro está autorizado para atuar no mercado cambial comprando moeda estrangeira concede ao governo mais uma “ferramenta” para atuar contra a apreciação do real, já que o Banco Central tem atuado constantemente desde maio de 2009. Contudo, embora essa nova arma possa mostrar resultados no curto prazo, os analistas não acreditam que ela seja capaz de, sozinha, reverter o fortalecimento da moeda brasileira frente ao dólar.

Na última segunda-feira (20), foi comunicado pelo Ministério da Fazenda que o Fundo Soberano do Brasil recebeu a autorização de seu conselho deliberativo – formado por Guido Mantega (ministro da Fazenda), Henrique Meirelles (presidente do BC) e Paulo Bernardo (ministro do Planejamento) – para aplicar seus recursos em moeda estrangeira. A reunião do conselho foi realizada na sexta-feira (17).

“A estratégia da política cambial segue a mesma, ou seja, maior intervenções diárias de compra de divisas, agora com a confirmação de mais um instrumento”, analisa a Prosper Corretora, que ainda ressalta que essa medida deverá manter a taxa de câmbio na faixa de R$ 1,70, “enquanto perdurar os fluxos de ingressos considerados excessivos e temporários”. Dentre esses fluxos temporários, podemos destacar a capitalização da Petrobras.

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Também esperando ver resultados dessa medida no curto prazo, a MCM Consultores Associados aposta no impacto causado pelo “elemento surpresa” da operação, já que as compras do Tesouro não seriam efetuadas mediante leilão de compra de dólares, como tem sido feito diariamente pelo Banco Central.

Tesouro não deverá ser a solução
Embora possa trazer resultados no curto prazo, a medida anunciada pelo governo “não pode ser entendida como solução para a excepcional apreciação do real instalada no mercado de câmbio brasileiro”, afirma o economista e diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme. A descrença do economista reflete o fato de que 
o Banco Central ou o Fundo Soberano só poderão comprar uma quantidade de dólares que os bancos tiverem intenção de vender.

“É bom deixar claro que quem está no comando do mercado de câmbio à vista e a formação do preço são os bancos e não as autoridades, enquanto perdurar o perfil normativo presente”, diz Nehme, enxergando numa intervenção normativa e na redução da exposição ao risco das instituições financeiras em operações cambiais as únicas medidas eficazes para reverter esse cenário.

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Já o time da Prosper chama a atenção para a balança comercial. Embora ela ainda continue trazendo superávit comercial – ou seja, as exportações do País têm superado as importações -, o que tem sido visto ultimamente é um ritmo de crescimento mais forte das compras do País do que das vendas. “A média diária das importações estaria crescendo 7,3% na margem ante o montante de agosto deste ano, enquanto as exportações, com uma taxa inferior, de 1,5%”, afirma.

Efeito contrário?
Nehme, da NGO, comenta ainda que esse poder atribuído ao Fundo Soberano poderá trazer um resultado oposto ao que se é esperado. 
“A atuação do novo personagem no mercado de câmbio poderá provocar a intensificação da apreciação do real, visto que poderá criar a oportunidade para que os bancos acentuem os montantes de suas posições vendidas no mercado à vista”, afirma.

Ainda sobre a forte quantidade de posições vendidas montada pelos bancos, o economista acredita que, neste momento, seria mais eficaz se o Banco Central parasse de comprar dólares no mercado à vista “para dar suporte ao preço da moeda norte-americana”, ao invés de continuar com suas atuações diárias.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers