Com melhor trimestre desde 3T09, Ibovespa sobe 6,6% e é melhor aplicação do mês

Petro, Vale e alta dos principais índices externos contribuíram com desempenho; dólar tem pior rentabilidade

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Apesar da volatilidade não ter dado trégua aos mercados, o mês de setembro foi marcado pelo desempenho bastante positivo da renda variável. Assim, enquanto as bolsas de Wall Street tiveram seu melhor setembro em mais de 70 anos, o Ibovespa ganhou impulso das duas principais blue chips em sua composição – Petrobras (PETR3PETR4) e Vale (VALE3VALE5) – e fechou o mês com ganhos nominais de 6,58% – o melhor investimento de setembro. 

Com a variação de setembro, o Ibovespa fechou seu segundo melhor mês do ano, ficando atrás apenas da variação positiva de 10,8% de julho. No terceiro trimestre, o índice acumulou alta de 13,94%, seu melhor quarto desde o terceiro trimestre do ano passado, quando avançou 19,53%. 

Vale dizer que, considerando os ganhos reais – ou seja, descontando o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercados), que marcou alta de 1,15% no mês – o índice foi o único entre as principais métricas de investimento a ficar no campo positivo.  

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ouro, melhor investimento do mês anterior, conseguiu obter avanço nominal de apenas 0,14% em setembro, uma das piores rentabilidades do período. Entretanto, o posto de pior investimento do mês ficou com o dólar acompanhado pela variação da Ptax, que registrou rentabilidade nominal de -3,52% no período. O dólar comercial, por sua vez, encerrou setembro com queda de 3,70%, atingindo nesta quinta-feira (30) sua menor cotação em mais de dois anos. 

Já aplicação em CDBs pré-fixados de 30 dias garantiu retorno nominal médio de 0,84% em setembro, em linha com o benchmark CDI (+0,84%). A caderneta de poupança, por sua vez, apresentou retorno nominal de 0,57% em setembro.

Variações das principais métricas de investimento em setembro:

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Investimento Setembro Real* Agosto Real**
Ibovespa  +6,58%  +5,37% -3,51% -4,25% 
CDI***  +0,84%  -0,30% +0,89% +0,12% 
CDB ****  +0,84%  -0,31% +0,85% +0,08%
Poupança  +0,57%  -0,57% +0,59% -0,18% 
Ouro  +0,14%  -1,00% +3,23% +2,44%
Dólar Ptax  -3,52%  -4,62% -0,07%  -0,83% 
IGP-M +1,15% +0,77%  –

* Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 1,15% em setembro de 2010
** Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 0,77% em agosto de 2010
*** Taxa Efetiva Andima
**** Taxa pré 30 dias

Cenário corporativo: Petrobras, Petrobras, Petrobras
O foco dos mercados no mês foi um só: a capitalização da Petrobras. Depois da precificação do barril da cessão onerosa em US$ 8,51 (preço médio), a estatal conseguiu prosseguir com o processo. Na última semana, as novas ações ordinárias e preferenciais foram precificadas em R$ 29,65 e R$ 26,30, respectivamente. Os ADSs (American Depositary Shares) representativos de ações ordinárias e preferenciais da estatal na Nyse foram precificados em US$ 34,49 e US$ 30,59. 

Foram colocadas no mercado 2.402.611.655 ações ordinárias e 1.867.808.535 papéis preferenciais, correspondendo a uma captação total de R$ 120,361 bilhões. Convertendo este total em dólares, a operação totalizou US$ 70 bilhões – a maior oferta de ações da história. Após a operação, a participação da União na empresa chegou a 64% do capital votante, e 48% do capital total. Depois de serem bastante pressionadas no período de subscrição, as ações ON e PN da estatal fecharam o mês com alta de 2,74% e 4,72%. 

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Apesar do foco na petrolífera, a outra menina dos olhos da bolsa brasileira, a Vale, não ficou esquecida em setembro. Entre os anúncios da mineradora estão a criação de um programa de recompra de ações de sua emissão, o início de sua listagem em Hong Kongaté o fim deste ano, o pagamento de dividendos adicionais, novidades sobre a abertura de capital da Vale Fertilizantes e o fracasso na aquisição da Paranapanema por falta da adesão necessária. Os papéis ordinários e preferenciais da Vale encerraram setembro com ganhos de 11,56% e 11,75%. 

Também figuraram no noticiário corporativo o acordo entre MMX (MMXM3), LLX (LLXL3) e Centennial Asset para adquirir 100% da LLX Sudeste, por um valor próximo de US$ 2,3 bilhões, e a novela entre a JBS e o grupo italiano Cremonini pela joint venture Inalca JBS (JBSS3).

GOL e Eletropaulo nas pontas do Ibovespa
A GOL (GOLL4) ficou na ponta positiva no Ibovespa no mês, com ganhos de 14,32% no período. A companhia anunciou que a GOLLOG, seu braço destinado ao transporte de cargas, inaugurou um novo terminal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com um espaço três vezes maior que o anterior. Além disso, acompanhando o crescimento do tráfego aéreo brasileiro, a companhiamostrou uma forte demanda em agosto, o que foi bem visto por analistas. 

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Já a Eletropaulo (ELPL6) ocupou o posto de maior desvalorização do índice em setembro, com queda de 8,48%. As ações foram pressionadas pelo pessimismo gerado pelo sugestão da Aneel (Agência Nacional da Energia Elétrica) de um novo índice para retorno regulatório sobre o capital das distribuidoras (WACC) de 7,15% ao ano no seu terceiro ciclo de revisão, que se inicia no quarto trimestre deste ano – bem abaixo do esperado pelo mercado.

A Eletropaulo, uma distribuidora pura, deve ser uma das mais impactadas pela redução, caso ela se concretize – segundo analistas, a queda no lucro em função da WACC menor pode chegar a 20%. Segundo estimativa do Credit Suisse, a mudança poderia reduzir em 8,7% do lucro por ação para a Eletropaulo em 2011 e de 17,4% em 2012. Lucros a menos podem significar também dividendos a menos, um dos principais atrativos das empresas de energia elétrica. Avaliando o novo cenário, o Itaú reduziu sua recomendaçãopara os ativos da empresa para underperform.

 Recuperação e política monetária
O bom desempenho da economia brasileira seguiu em pauta no mês, com a divulgação de um avanço acima do esperado do PIB (Produto Interno Bruto) do 2º trimestre, de 1,2% em relação aos três meses anteriores. Com isso, o governo elevou suas projeções para o avanço do PIB em 2010 para 7,2%, assim como as estimativas para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), para a Selic média e para a taxa de câmbio média, além do limite de gastos da União. Por outro lado, o Banco Central reduziu as estimativas para a inflação em 2010, segundo o Relatório Trimestral de Inflação.

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Ainda no front doméstico, a ata da última reunião do Copom sinalizou manutenção da política monetária nas próximas reuniões, depois do Comitê de Política Monetária do BC optar por manter a Selic em 10,75% ao ano. O mercado de trabalho também animou.

Nos EUA, depois de uma nova rodada de indicadores mistos, indicando uma recuperação lenta, o PIB do 2º trimestre mostrou crescimento de 1,7%, levemente acima do esperado. Já o Fed optou por não anunciar novas medidas de estímulo em sua última reunião, mas se disse preparado para apoiar a recuperação caso isso se mostrasse necessário.

Na Europa, a Comissão Europeia elevou as projeções para o PIB da Zona do Euro e da União Europeia, mas a preocupação com a saúde fiscal do continente ganhou força no final do mês, com a Moody’s cortando o rating espanhol e a Irlanda voltando ao foco dos mercados.

Ademais, o comitê da Basileia, que reúne representantes de autoridades monetárias de 27 países, anunciou um novo acordo para que as instituições elevem o nível de capital mínimo para 7%, de modo que se tornem mais resistentes a crises financeiras. 

Câmbio
Outro assunto que rondou os mercados no mês foi o câmbio, que ganhou destaque tanto no cenário doméstico quanto internacional. Lá fora, o Japão finalmente confirmou as especulações e interveio para tentar barrar a queda do iene frente ao dólar norte-americano, que vem prejudicando as exportações japonesas.

Ainda na Ásia, a política cambial chinesa foi alvo de críticas. Depois do secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, afirmar que a valorização do yuan estava sendo lenta demais, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou uma medida que pode levar a implementação de impostos sobre as importações de produtos chineses nos EUA, compensando assim o “subsídio” conferido pela fraqueza do yuan. A notícia foi mal recebida pelo governo chinês, que disse se opor firmemente à decisão, afirmando que ela prejudicará o crescimento e pode abalar as “importantes relações entre Estados Unidos e China”. 

Por aqui, a valorização do real frente ao dólar também tem sido motivo de preocupação, e rendeu comentários pesados de autoridades do País, além de intervenções duplas do Banco Central quase diariamente e a permissão do Fundo Soberano para operar com moeda estrangeira. Henrique Meirelles, presidente do BC, disse que existe um “problema cambial muito sério que precisa ser resolvido”, indicando um possível novo aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre capital estrangeiro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também ressaltou que o governo não permitirá a “sobrevalorização” do real.

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