Pessimismo domina Vale, que cai em 2014 mesmo fazendo “lição”; exagero ou realismo?

Em meio ao cenário pessimista para o Brasil e perspectivas de queda do minério, estrangeiros não se posicionam; perspectivas desencontradas fazem ação da Vale "patinar"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os investidores em Vale (VALE3;VALE5) têm experimentado altos e baixos em termos de expectativas para as suas ações na BM&FBovespa. Mesmo com a companhia fazendo a “lição de casa” e apontando para uma gestão mais focada, iniciativa esta elogiada por muitos analistas de mercado, as ações da mineradora brasileira ainda patinam na bolsa.

Apenas em 2014, os ativos VALE3 e VALE5 registram perdas no ano de cerca de 10%, isso após ter uma baixa de mais de 20% no ano passado. Mas o que explica esse movimento?

De um lado, estão grandes casas de análise, que veem as iniciativas da companhia como positiva e as ações muito descontadas, como é o caso do HSBC. Em relatório no início de dezembro do ano passado, contudo, eles apontaram para um fator que deve ser bastante levado em consideração para aqueles que pensam em investir na companhia: os investidores globais ainda estão negativos à respeito da Vale e com o Brasil em geral. 

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“A Vale continua classificada como underweight (exposição abaixo da média) pelo consenso (Rio Tinto é a preferida), com vários investidores questionando o que causaria uma alta relevante nas ações em comparação ao nível atual”, apontaram os analistas Leonardo Correa e Luiz Fornari no relatório. 

Este cenário é reforçado pelo Barclays que, em relatório da semana passada, destacou sua preferência pela BHP Billiton e tem recomendação neutra para a Rio Tinto; por outro lado, as visões seguem preponderantemente negativas para a Vale, com recomendação underweight. E um dos principais fatores a serem levados em conta para tanto vem das cotações do minério de ferro: com o Barclays apontando para uma queda dos preços do insumo, a Vale é a principal prejudicada, já que 82% do lucro da mineradora vem do minério de ferro. 

Desta forma, a desaceleração da economia chinesa constitui no maior fator de risco para a empresa, reforçada ainda pela mudança na estrutura econômica do país. Vale ressaltar que, na véspera, o preço do minério de ferro caiu abaixo de US$ 130 pela primeira vez em cinco meses. Soma-se ainda o cenário negativo da bolsa brasileira que, associada ao cenário econômico de desaceleração e à visão mais pessimista para os próximos anos, afasta os investidores estrangeiros da BM&FBovespa.

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“Em um cenário de maior pessimismo com a economia brasileira, os estrangeiros preferem ficar de fora da Vale”, aponta o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller. 

Deutsche afirma: ações estão muito descontadas
Contudo, há aqueles que veem que a ação da companhia fora castigada demais e que os papéis podem se recuperar. Em um movimento contrário ao apresentado pelo Barclays, que segue com recomendação underweight (desempenho abaixo da média do mercado) para a Vale devido à sua alta exposição ao minério de ferro, o Deutsche Bank segue positivo com as ações da companhia e veem a forte queda de 10% em 2014 como exagerada. Com isso, eles seguem com recomendação de compra para os ADRs (American Depositary Receipts) da companhia, com um preço-alvo de US$ 22,50. 

Em relatório divulgado na última terça-feira (14), os analistas Wilfredo Ortiz e Jorge Beristain ressaltam que as ações da mineradora brasileira estão apresentando um desempenho inferior ao de seus pares – caso da BHP Billiton e da Rio Tinto – e que as diversas iniciativas tomadas pela empresa para melhorar a sua performance, como o foco em suas operações centrais, buscando simplificar e vender ativos não essenciais, estão sendo ignoradas pelo mercado. 

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Neste sentido, o Deutsche ressalta que a Vale vendeu US$ 6 bilhões em ativos fora do core business em 2013, engrossando assim os US$ 1,5 bilhão de desinvestimentos em 2012. Além disso, em contraponto ao que apresenta o Barclays, que vê um cenário de risco para a mineradora devido à sua alta exposição em minério de ferro, Ortiz e Beristain ressaltam que os preços dos minérios de ferro continuam apresentando resiliência, mesmo com a expectativa de que haja queda das cotações com a entrada de novas ofertas.

Deste modo, os analistas apontam que a queda dos papéis parece ser bastante excessiva, levando em conta o acordo fiscal com a Receita Federal – Refis – cujo valor pago ficou abaixo do esperado, além da continuidade dos esforços em simplificar as operações, redução de custos e outros fatores que poderiam gerar maior caixa.

O banco elevou em 2% as estimativas para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em 2013 para US$ 22 bilhões e, para 2014, a projeção subiu em 4%. 

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Neste cenário aparentemente contraditório para os acionistas, o que esperar? Conforme ressalta o analista da Geral Investimentos, no curto prazo, as ações da companhia devem seguir pressionadas, mas as perspectivas são boas para quem investe no médio e longo prazo, uma vez que os múltiplos estão bem atrativos e que a companhia segue fazendo bem a sua “lição de casa”. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.