Centauro está de “volta ao jogo” e analistas recomendam compra de ação – e isso não depende da Netshoes

Novata na Bolsa, ação CNTO3 teve a cobertura iniciada com recomendação de compra por grandes bancos como Itaú BBA e Bradesco BBI, que destacam modelo bem sucedido de lojas e valuation atrativo

Lara Rizério

(Divulgação)
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SÃO PAULO – Após abrir o capital na B3 em meados de abril, a SBF, dona da rede de lojas de artigos esportivos Centauro (CNTO3), voltou aos holofotes na semana passada ao fazer uma proposta pela Netshoes, que já estava praticamente nas mãos do Magazine Luiza (MGLU3).

Neste domingo, por sinal, o Magalu informou ter elevado a sua proposta pela Netshoes para US$ 3 por ação, o que mostra que a disputa pela companhia ainda terá muitos desdobramentos.  

Mas, independentemente deste imbróglio, algumas casas de análise iniciaram a cobertura para as ações da Centauro com uma visão positiva para os papéis após a companhia ter enfrentado anos desafiadores, vendo com bons olhos o desenvolvimento das plataformas multicanais (ou seja, tanto no e-commerce quanto nas lojas físicas e a relação entre elas). Dentre as casas com visão positiva, estão o Itaú BBA e o Bradesco BBI, que possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos CNTO3. 

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O preço-alvo estabelecido pelos analistas do Itaú BBA é de R$ 18,50, o que representa um potencial de valorização de 59% frente o fechamento de sexta-feira (24), enquanto o Bradesco BBI possui um target de R$ 16 para os ativos, com upside de 42% frente o mesmo fechamento. 

Novo modelo de loja guia boas expectativas

Os analistas do Bradesco BBI, liderados por Richard Cathcart, avaliam que a plataforma multicanal da empresa está “bem avançada para capturar o crescimento futuro via plataformas digitais enquanto alavanca suas lojas”, independentemente de uma eventual compra.

Em relatório chamado “De volta ao jogo”, em uma clara referência ao segmento da novata na bolsa, eles ressaltam que a Centauro oferece uma combinação atrativa de alto crescimento e múltiplos atrativos, com as suas ações sendo negociadas a 14 vezes o preço da ação sobre o lucro (ajustado por incentivos fiscais) esperado para 2020 versus a média do setor de 19 vezes. 

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A equipe de análise traça um paralelo entre a inglesa JD Sports e a americana Foot Locker, do mesmo setor, para mostrar que varejistas que conseguem se diferenciar e que apostam em multicanalidade com relacionamento forte com fornecedores podem ter sucesso no segmento. 

A Centauro está no mesmo caminho bem-sucedido das duas companhias. Apesar de não ter conseguido abrir ou renovar lojas em um ritmo adequado, o que significa que o formato de muitas delas está relativamente ultrapassado, a gestão da companhia tem desenvolvido um novo e forte formato de lojas, o “G5”, com foco na experiência do consumidor – e colhendo bons resultados disso. 

“As lojas renovadas tiveram resultados positivos: 15% de aumento de vendas, ganho de margem Ebitda (Ebitda/receita líquida) de 4 pontos percentuais [expectativa da equipe do Bradesco] e produtividade de vendas em linha com a Lojas Renner e superior a Lojas Americanas”, afirmam os analistas do Bradesco BBI.

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Já o Itaú BBA destaca que as lojas “G5” são a prova de que a Centauro aprendeu como uma loja ideal deve ser – e que só precisava do capital para isso. 

A expectativa é de que, dentro de três anos, cerca de metade das lojas da Centauro esteja no formato G5 (hoje, são menos de 10% das lojas), representando um mix maior de lojas com margem mais alta dentro do portfólio da companhia.

“Uma vez que o plano de crescimento seja acelerado, a Centauro ficará em segundo lugar, perdendo apenas para o Burger King Brasil, em termos de crescimento de receita com novos espaços”, ressaltam os analistas do Bradesco BBI.  

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E é nesse sentido em que é possível traçar um paralelo entre os casos da JD Sports e da Foot Locker, que dão confiança para mostrar que a Centauro está bem posicionada. 

“JD Sports e Foot Locker são exemplos de varejistas de artigos esportivos de sucesso com estratégias em comum com a Centauro. A JD foi capaz de prosperar diferenciando seu mix de produtos  e oferecendo lojas que valorizam a experiência de consumo. Seu relacionamento com as maiores marcas significa que possui produtos exclusivos e melhor alocação de estoque, para que suas lojas atuem como um destino para consumidores e fornecedores”, destaca a equipe do Bradesco BBI. 

Os analistas ressaltam que tanto  a JD como a Foot Locker diminuíram a venda dos produtos hardline (como equipamentos esportivos, que são vendidos com facilidade pelo segmento online por não-especialistas) e focaram-se na venda de vestuário de moda, para se diferenciar das plataformas online puras.

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“Ambas também são parceiras estratégicas para as grandes marcas, mesmo nos mercados em que a Nike está buscando uma estratégia agressiva e direta para o consumidor”. 

A visão é de que os varejistas de artigos esportivos sem diferenciação estão claramente perdendo espaço, mas os que estão se adaptando são capazes de fortalecer seus negócios. No Brasil, o Bradesco BBI aponta  que a Centauro fez isso muito bem últimos anos e o fato de que agora está bem capitalizada e capaz de renovar e acelerar a abertura de novas lojas mostra que ela está se tornando uma parceira mais atrativa para 
parceiro da Nike e da Adidas.

Também em linha com essas gigantes do setor, a Centauro está bem avançada em suas plataformas multicanais, com o comércio eletrônico sendo responsável por 16% das vendas, colocando a empresa à frente dos varejistas de vestuário no Brasil. As estratégias de retirada na loja e ship-from-store (transformando a loja física em um ponto de distribuição utilizando o estoque local para atender pedidos online) estão bem à frente dos outros varejistas no Brasil (incluindo até mesmo a “queridinha” do mercado Magazine Luiza) e mostrando a importância das lojas, reforçando assim a necessidade de mais expansão.

Vale ressaltar que, ao olhar para o valuation atual e o potencial  de valorização da companhia, a equipe de análise do Bradesco BBI avalia que provavelmente vai demorar algum tempo para a ação da Centauro atingir o múltiplo de 19 vezes a relação entre o preço sobre o lucro de 19 vezes comparado aos seus pares devido ao menor histórico, além de riscos
à execução de abertura de lojas, de maior concorrência e de riscos a incentivos fiscais.

Porém, apontam que as previsões são bem realistas, o que a coloca no rol entre as preferências do banco dentro do setor varejista, sendo seguida por CVC (CVCB3), Burger King (BKBR3) e Lojas Renner (LREN3).

O Itaú BBA também aponta que a integração entre os segmentos online e offline é positiva em termos logísticos e, para melhorar ainda mais o cenário, estão sendo desenvolvidas medidas para aumentar a integração com as compras endereçadas à loja final, ao invés dos produtos serem redirecionados de um localização central. Isso poderia implicar uma redução significativa dos custos de estoques. 

Eles também destacam os riscos no radar, como a expansão mais agressiva das concorrentes no segmento e-commerce, além da importância da companhia seguir com o seu plano de expansão de lojas G5. Contudo, as oportunidades são enormes para a companhia, afirmam, o que leva à visão positiva para o papel.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.