O descompasso entre presente e futuro

A atividade na construção civil reduziu o ritmo de queda, mas a acomodação em um patamar baixo como o atual não é muito alentador.

Equipe InfoMoney

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Ana Maria Castelo é pesquisadora do Ibre/FGV

As sondagens de opinião realizadas com empresários e consumidores vêm mostrando grande descompasso entre a percepção em relação à situação corrente e às expectativas para os próximos meses. O desalento com o momento presente reflete essencialmente as dificuldades que consumidores e empresas continuam a enfrentar em decorrência do aumento do desemprego, da queda da renda e do crédito mais caro. Por outro lado, a possibilidade de retomada da atividade a partir do próximo ano passou a fortalecer as expectativas de todos.

No setor da construção, a Sondagem da FGV mostra que esse descompasso entre presente e futuro vem crescendo nos últimos meses, mesmo com a melhora do Indicador de Situação Atual (ISA). Especialmente em outubro, a diferença entre o ISA e o indicador que avalia a demanda futura e a tendência dos negócios nos próximos meses atingiu o ponto máximo da série histórica iniciada em julho de 2010. O Índice de Confiança da Construção (ICST) ficou praticamente estável – alta de apenas 0,1 ponto em relação a setembro por conta da queda no Índice de Situação Atual, que interrompeu uma sequência de quatro elevações.

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Por trás desse aparente paradoxo há o fim do ciclo imobiliário iniciado em 2007, das obras do MCMV 2, a paralisação do PAC e dos investimentos dos estados e municípios. Os indicadores setoriais, com alguma defasagem, mostram a razão do pessimismo empresarial. Em 2016 até agosto, a produção de cimento caiu 14,8% em relação ao ano passado e a produção de insumos da construção, 12,4%. Nesta mesma comparação, o volume de vendas no varejo de materiais de construção diminuiu 12,2%. O emprego nas construtoras registrou queda de 14,2%.

Como os próprios empresários apontam na sondagem de outubro, a demanda insuficiente é atualmente a principal limitação à melhoria da atividade: a demanda das famílias, das empresas e do governo tem que voltar a crescer para o reinicio do ciclo.

Nos últimos meses, algumas notícias fortaleceram o ânimo empresarial em relação ao futuro como o anúncio do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), a sinalização de retomada de obras paradas do MCMV e as novas contratações do programa.No entanto, as expectativas continuam alimentadas por notícias que ainda não se efetivaram, ou ainda, que não determinaram o início de um novo ciclo de crescimento. Assim em outubro, o percentual de empresas prevendo redução do total de pessoal ocupado voltou a crescer, interrompendo a melhora observada desde abril do indicador de mão de obra prevista nos três meses seguintes.

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De todo modo vale comemorar o fato que a atividade reduziu o ritmo de queda, mas a acomodação em um patamar baixo como o atual não é muito alentador. Para mudar esse quadro, o Programa de Parcerias de Investimento precisa ganhar velocidade.

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