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SÃO PAULO – Não é de hoje que os investidores vêm notando um movimento diferente nas ações ordinárias e preferenciais da Usiminas (USIM3; USIM5). O primeiro capítulo desta “novela” aconteceu no início de dezembro do ano passado, com as ações USIM3 e USIM5 descolando-se uma da outra em decorrência de uma briga entre Ternium e Nippon Steel – duas companhias que constroem o bloco controlador da Usiminas – no entanto, novos capítulos trouxeram o descolamento de volta ao radar, mas desta vez em níveis nunca antes vistos na história da siderúrgica na Bovespa.
A richa que está longe de acabar começou quando três executivos da Usiminas foram destituídos de seus cargos por receberem cerca de R$ 1 milhão irregulares e, enquanto a Nippon Steel era à favor de que “as cabeças rolassem”, a Ternium foi na contramão da decisão, uma vez que todos eles foram indicados para seus cargos por ela. A decisão da Ternium levou a japonesa Nippon a questionar se a argentina realmente estava querendo o “melhor” da siderúrgica e o imbróglio se agravou.
Nesta semana, o segundo capítulo da novela tomou forma quando o assunto voltou ao radar dos investidores após o descobrimento de mais R$ 1,45 milhão em pagamento irregular, como título de auxílio-moradia aos mesmos executivos. Nesta quinta-feira (29), um novo fato surgiu: segundo informações do Estadão, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou um pedido da CSN, de Benjamin Steinbruch, para investigar a entrada da Ternium no bloco de controle da siderúrgica lá em 2013. Segundo a CSN, os argentinos sonegaram informações na época da aprovação de 27,4% da Usiminas. A recordar: Steinbruch há muito tempo sonha em entrar no bloco de controle da siderúrgica mineira, tendo inclusive tentado isso adquirindo ações USIM3 direto do mercado em 2013, fato este que levou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a proibi-lo de realizar novas compras.
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Por que isso afeta as ações? Tag along explica
As constantes brigas que estão sendo acompanhadas com uma lupa pelos investidores deixam margem para um temor no mercado de que mais cedo ou mais tarde. E como os investidores estão se aproveitando disso? Ora, uma vez que um acordo entre elas, na atual conjuntura, parece ser algo bem distante, alguma das partes do bloco venderá sua participação na Usiminas. Com uma possível venda, a ação ordinária (USIM3) torna-se muito mais atrativa do que a preferencial (USIM5) por causa do “tag along”, uma ferramenta de proteção aos acionistas minoritários em momentos de troca de controle numa companhia.
Quando uma das partes societárias da companhia quer vender sua posição – como é o caso que está sendo especulado pelos acionistas da Usiminas -, para proteger os acionistas minoritários que estiverem posicionados nos papéis, o “tag along” é acionado e obriga o investidor que quiser entrar nos papéis a estender sua oferta não só para os papéis dos controladores, mas também dos minoritários que quiserem sair dos papéis. Vale mencionar que o “tag along” só é uma operação realizada em papéis ordinários, por isso investidores se sentem mais seguros optando pelos ativos ON. Os investidores que estiverem comprados em papéis ordinários de uma companhia que passe por uma venda de parte societária estão, portanto, mais seguros caso queiram sair do papel.
Outra possibilidade especulada é a de que uma das partes societárias esteja encarteirando os ativos USIM3 para possuir maior poder de voto para as manobras futuras, uma vez que só ela dá o direito ao voto, enquanto os papéis preferenciais dão preferência aos dividendos.
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USIM3 x USIM5: uma empresa, dois mundos
A preferência pelas USIM3 ao invés de USIM5 está gritante no mercado (veja os gráficos abaixo). De dezembro pra cá, as ações ordinárias da Usiminas saltaram 123%, indo de R$ 6,30 para os atuais R$ 15,01 – maior patamar desde maio de 2012. Só nos últimos três pregões, os papéis subiram 25%, diante dos novos capítulos da novela. No sentido oposto, os ativos preferenciais da empresa caíram 31% desde dezembro, tendo fechado a última quinta-feira (29) a R$ 3,55, seu menor patamar em Bolsa em quase 11 anos – desde maio de 2004.
Enquanto o mercado especula, a empresa diz não saber de nada. Em comunicado enviado ao mercado na quinta-feira após o fechamento do pregão, a Usiminas respondeu um pedido de esclarecimento da BM&FBovespa sobre as oscilações atípicas das ações ON. Em resposta, ela disse desconhecer qualquer fato ou ato ocorrido relacionado aos seus negócios que possam justificar as oscilações vistas nos últimos dias.
O descolamento gritante das ações fez com que o “ratio” da Usiminas – divisão entre o preço da ação USIM5 pela USIM3 – atingisse níveis nunca antes vistos na Bovespa. De acordo com o fechamento do pregão de quinta-feira, o ratio da siderúrgica está em 0,24x; no começo de dezembro, essa relação era de 0,74x, enquanto há 12 meses o ratio estava na faixa de 1,10x (veja detalhes no último gráfico).
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