Para onde vai a Selic? Crise dificulta projeções para a decisão do Copom

Diante dos prováveis impactos da crise na economia doméstica, analistas se dividem a respeito do rumo do juro básico brasileiro

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) teve início nesta terça-feira (28). O agravamento da crise financeira internacional e seus impactos na economia brasileira tornaram difícil a tarefa dos analistas de avaliar qual será a decisão do colegiado com relação à taxa Selic.

Ao mesmo tempo em que existem os que apostam que a autoridade monetária irá interromper o ciclo de aperto monetário e manter a taxa em 13,75% ao ano, outros demonstram um tom mais conservador e arriscam suas projeções na continuidade do ritmo de elevação do juro básico brasileiro, embora em diferentes magnitudes.

Apesar da discrepância, as duas visões possuem argumentos bastante plausíveis. Para os que confiam na manutenção da Selic, por exemplo, a escassez de crédito no mercado doméstico é um ponto a favor. Por outro lado, as incertezas em torno da inflação continuam subsidiando as apostas dos mais conservadores.

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Crise deixa cenário incerto para 2009

Começando pelos que jogam suas fichas na manutenção do juro básico do País, o Banco Schahin avalia que, por mais que a inflação deva seguir como foco principal da política monetária, a piora considerável das condições econômicas e financeiras em todo o mundo em função da crise acendeu um sinal amarelo às perspectivas para a economia brasileira, o que sustenta uma interrupção no ciclo de aperto.

A instituição lembra que o recente travamento de crédito no Brasil, conforme dados do próprio Banco Central, já está afetando o comportamento dos consumidores e empresários, cujos projetos de investimento vão aos poucos sendo revistos. Além disso, as exportações também deverão sofrer com o esfriamento da demanda externa, ressalta.

Afirmando que neste cenário fica difícil esperar outra coisa que não seja desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira, o Schahin entende ser “mais viável que o ciclo de aperto monetário seja interrompido neste mês, ao menos até o término deste ano, a fim de que se avalie melhor as possibilidades para 2009”.

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Manutenção da Selic?

Na mesma linha, a Tendências Consultoria considera que uma parada no ciclo de elevação da Selic é necessária a fim de que os efeitos da crise no Brasil possam ser mais bem avaliados, em especial no que tange à liquidez e ao câmbio. Um problema já detectado é a dificuldade das instituições menores de conseguir crédito de curto prazo, alertam os analistas.

Por sua vez, a Merrill Lynch aposta em manutenção da taxa nas duas próximas reuniões do Copom. Para o banco, a escassez de crédito no mercado financeiro brasileiro diminuirá a demanda dos consumidores do País, ao passo que freará o ritmo da inflação e propiciará um cenário para a interrupção do ciclo de aperto monetário.

Além disso, a instituição lembra que o Banco Central brasileiro deve levar em conta o recente esforço mundial para elevar a liquidez do sistema financeiro no curto prazo, como visto no último dia 8 de outubro, quando as principais autoridades monetárias do globo reduziram suas taxas básicas de juro.

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Ou continuidade do aperto monetário?

O aprofundamento da crise e seus efeitos sobre a economia brasileira também são citados pelos que acreditam em um novo aumento na Selic. O ABN Amro Real afirma que a desaceleração da economia mundial promoverá queda nos preços das commodities e enfraquecerá ainda mais o real, o que resultará em pressão inflacionária. “Por isso, acreditamos ser necessário um aperto monetário adicional”, dizem os analistas.

No entanto, os analistas admitem que a profundidade dos efeitos da retração de crédito experimentada recentemente poderá promover uma maior contração da atividade econômica brasileira. Desta forma, afirmam que essa incerteza sobre a extensão e os impactos da crise sobre a economia doméstica devem resultar em uma decisão não unânime do colegiado.

O banco espera dois aumentos de 50 pontos-base nesta reunião e na próxima – com a Selic encerrando 2008 a 14,75% ao ano – e acredita que o Copom continuará subindo o juro nas duas primeiras reuniões de 2009, elevando a taxa para 15,75% ao ano. Para o final do próximo ano, porém, prevê um ciclo de flexibilização de 150 pontos-base, com o juro básico voltando ao patamar de 14,25% ao ano.

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Focus também prevê novo aumento

Também apostando em uma elevação de 0,5 ponto percentual, o Santander avalia que o efeito da crise internacional sobre o Brasil é inflacionário, principalmente por causa da depreciação do real. Considerando ainda que a economia já está operando acima da capacidade produtiva, o banco afirma que não é pequena a magnitude do ajuste que se deve impor ao consumo, “o que sugere necessidade de continuar utilizando a política monetária”.

Embora avalie que a atual conjuntura da economia brasileira justificaria uma pausa no aperto, a LCA Consultoria acredita que, diante de um quadro em que a maior pressão cambial tem resultado em nova deterioração das expectativas do mercado para a inflação doméstica, o Copom deve optar por aumentar novamente a taxa básica de juros, desta vez em 50 pontos-base.

Por fim, vale lembrar que o relatório Focus desta semana mostrou uma redução na mediana das projeções para a Selic em outubro de 14,25% ao ano para 14,00% ao ano.

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