Empolgou? Marina está mais perto da ‘zona de rebaixamento’

Marina acaba sendo taxada de "esquerdista" pela direita e de "conservadora" pela esquerda, ficando em uma espécie de limbo ideológico. Em um momento de polarização e extremismos - como se tornou essa eleição - a candidata cai no esquecimento

Felipe Berenguer

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O ano de 2014 proporcionou um dos melhores episódios para quem é fã de futebol e gosta de uma provocação saudável com os amigos. O Campeonato Brasileiro estava de folga por conta da Copa do Mundo e os times aproveitavam para descansar, treinar e realizar jogos-amistosos.

Com o Palmeiras não foi diferente. O time – comandado então pelo argentino Ricardo Gareca -,  se concentrou em Atibaia, no interior de São Paulo, para treinar. No dia 25 de junho, jogou contra o Barueri e não teve piedade do time mais frágil: o placar terminou em 6 a 0.

Naturalmente, o resultado foi motivo de comemoração e Paulo Nobre, presidente do Palestra à época e bastante deslumbrado com a atuação do seu elenco, concedeu uma entrevista ao site GloboEsporte, gerando a famosa manchete: “EMPOLGOU. Paulo Nobre assiste a jogo-treino em Atibaia e se anima com goleada: ‘Vai ser difícil ganhar da gente'”.

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Não preciso explicar muito mais: na mesma semana, o time perdeu um jogo-treino contra o Guarani, tendo dois jogadores expulsos. Treze semanas depois da fatídica declaração de Nobre, o Palmeiras colecionava 4 vitórias, um empate e 8 derrotas no Brasileirão.

Gareca foi demitido e deu lugar a Dorival Júnior. A mudança não foi suficiente e quem salvou o Verdão do rebaixamento no ano do Centenário do clube foi justamente o seu rival Santos – time de coração de quem vos escreve -, que venceu o Vitória no Barradão com gol de Thiago Ribeiro, aos 49 minutos do 2º tempo da última rodada do Brasileirão.

O EMPOLGOU ficou eternizado para os amantes do futebol, sendo usado até hoje para qualquer declaração muito otimista ou para descrever alguma zebra ou revés de times tradicionais brasileiros.

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Se pudéssemos usar o termo na política brasileira, certamente ele teria muita afinidade com a candidata à presidência pela terceira vez, Marina Silva (Rede).

Marina realmente empolgou (sem ironias aqui) seu eleitorado ao se sair bem nas pesquisas eleitorais nos últimos meses e ter o trunfo de ser mulher de origem humilde com uma trajetória de superação. A acreana saiu na frente para conquistar o eleitorado lulista e também as mulheres, que bateram indecisão recorde em 2018.

Nesta última semana, a candidata começou a cair nas pesquisas e se provou merecedora do EMPOLGOU (agora sim, em letras garrafais) das eleições. Marina chegou a empatar tecnicamente em primeiro lugar com Bolsonaro em algumas pesquisas, mas agora aparece com menos de 10% nos resultados mais recentes, em clara tendência de queda.

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No início do mês de setembro de 2014, a candidata atingia seus picos de intenção de voto no Ibope e Datafolha (33% e 34%) e era nome forte para o segundo turno. Conforme o mês avançou, ela foi perdendo fôlego e terminou o pleito na terceira colocação, com 21% dos votos válidos. Tudo indica que o filme irá se repetir.

Apesar das diferenças entre as duas votações, temos novamente Marina desidratando na reta final das eleições. Lá na época, Dilma e Aécio montaram uma forte campanha de ataques que tiraram a ex-senadora da jogada. Esse ano, o tropeço tem duas explicações: a primeira parece ser a estratégia política fracassada de sua equipe e a segunda, o próprio perfil de Marina.

A estratégia dos marinistas conseguiu a incrível proeza de perder parcela de todas as suas bases eleitorais: dados mostraram que Marina teve votos perdidos entre mulheres, nordestinos e nortistas, evangélicos e classes mais pobres.

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Para complementar, seu perfil não combina com a política brasileira. É uma pena, pois Marina é uma das políticas mais republicanas dos últimos tempos. O problema é que o país, infelizmente, não tem muito apreço pelo republicanismo e, por isso, confunde a postura aberta e transparente da candidata com falta de posicionamento.

Traiçoeiramente, Marina acaba sendo taxada de “esquerdista” pela direita e de “conservadora” pela esquerda, ficando em uma espécie de limbo ideológico. Em um momento de polarização e extremismos – como se tornou essa eleição – a candidata cai no esquecimento.

Concluindo e voltando ao futebol – metáfora para tudo nessa vida -, Marina acaba empolgando no início do campeonato, mas termina na parte baixa da tabela. Seus torcedores (eleitores) podem esquecer, o título ainda é realidade distante para a acreana.