O previdente presidente

Vamos combinar. Finalmente chegamos ao último fim de semana das eleições. Eu não aguentava mais escrever e você não aguentava mais ler artigos, notícias e reportagens sobre as eleições

Felipe Berenguer

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Vamos combinar. Finalmente chegamos ao último fim de semana das eleições. Eu não aguentava mais escrever e você não aguentava mais ler artigos, notícias e reportagens sobre as eleições deste ano.

É claro, todo o furor se justifica. O pleito de 2018 vem depois de uma forte ressaca do impeachment de Dilma. Não deve ser nada trivial enfrentar esse desafio do pós-Dilma-Temer. Mais cabeludo ainda será comandar um país cuja história coleciona 30 e poucos anos de democracia e duas destituições presidenciais.

Direto ao ponto: não tinha outro resultado no domingo à noite senão a eleição do candidato do PSL. Acreditar que Haddad viraria essa votação é o equivalente a ter acreditado que Ciro Gomes tinha chances reais de ir ao segundo turno. Uma mistura de fantasismo ingênuo com aposta no improvável-quase-impossível.

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Por isso – e para finalizar de uma vez por todas esse papo de eleições – digo: boa sorte Jair Bolsonaro! Você precisará dela para governar nos próximos quatro anos.

A começar pela reforma previdenciária, a mais urgente de todas. Sem ela, o país não cresce. E eu vejo uma boa janela de oportunidade se abrindo.

Bolsonaro já sinalizou que deve desprezar a reforma previdenciária de Temer e pautar uma reforma logo nos primeiros seis meses de governo. Decisão acertada. Do ponto de vista estratégico, o presidente tem considerável força no início de seu mandato, principalmente por estar respaldado pela população.

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No entanto, o bom timing não é suficiente para tocar a agenda liberal. Negociações já começam a ser desenhadas pelo PSL para conquistar uma ampla base aliada na Câmara e no Senado. Ainda, a presidência das duas casas é de suma importância para facilitar a tramitação de pautas relevantes para o Governo Federal.

O caminho será mais fácil na Câmara dos Deputados. O PSL conseguiu eleger 52 deputados (segundo maior partido na casa) e tem a possibilidade de negociar com o Centrão tanto o apoio nas votações quanto a permanência na presidência da figura que pautou a PEC e a reforma trabalhista, Rodrigo Maia (DEM).

O jornal Estadão foi atrás dos 513 deputados eleitos no começo de outubro e perguntou quem era a favor da reforma da Previdência. O resultado foi esse: 227 a favor, 210 não responderam ou não foram localizados, 59 contra e 17 indecisos.

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Querendo mais informações, fui além e fiz o que ninguém fez ainda. Busquei entender como os 244 deputados reeleitos votaram em medidas com o mesmo perfil da eventual reforma previdenciária: a PEC do Teto de Gastos, em 2016, e a Reforma Trabalhista de 2017.

Lembrando que, no caso de Propostas de Emenda à Constituição (caso do Teto de Gastos e da Reforma da Previdência), é necessário 60% dos votos (308 deputados e 49 senadores) e nos Projetos de Lei (Reforma Trabalhista), somente um voto acima da metade.

Bem, os 244 deputados que continuarão com mandato votaram assim: no caso da PEC do Teto, 59% do grupo votou a favor, 28% contra e 13% não compareceram por algum motivo. Na Reforma Trabalhista, os favoráveis diminuem para 49%, enquanto que os contrários vão a 37%. Ausentes permanecem na mesma proporção que a votação do teto de gastos, em 14%.

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Já no Senado Federal, a desafio será maior ainda. O PSL não tem tanta força e deverá lutar contra um grupo grande que busca fugir dos “extremismos”. Alguns partidos querem se apresentar como a terceira via para disputar a presidência do Senado contra Renan Calheiros (MDB) e um possível candidato do PSL. Bolsonaro deverá lançar mão das negociações em busca da eleição de um nome aliado para presidir a câmara alta.

Superando a intempestividade acima, o placar da votação – ao menos dos reeleitos e daquele ? que continua com seu mandato – é favorável: 60% votaram a favor da PEC do Teto, 17% contra e 23% não votaram. Na Reforma Trabalhista, 51% votaram a favor, 41% contra e somente 9% não votaram.

Em suma, os números apontam para uma grande janela de oportunidades para desatar o nó fiscal que tanto compromete o crescimento econômico do país. O sucesso das medidas passa fundamentalmente pela habilidade política de Bolsonaro e de sua equipe. Será um grande teste para o governo conseguir aproveitar o bom momento e minimizar as atitudes do Bolsonaro presidente que, inevitavelmente, irão contradizer o Bolsonaro candidato.

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O adjetivo “previdente”, inclusive, é empregado para descrever o indivíduo precavido, prudente e sensato. Curiosamente, também falamos da Previdência Social – sistema de precaução para riscos econômicos aos trabalhadores. Para o próximo presidente conseguir reformar a Previdência, ele necessariamente precisará ser previdente.

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