Minério de ferro sobe no curto prazo com estímulos da China, mas sustentação de preços é incerta

Impacto dos estímulos e comportamento das metalúrgicas chinesas são principais pontos de análises

Vitor Azevedo

Raw ore at an open-pit mine in California.
Raw ore at an open-pit mine in California.

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A alta recente das cotações do minério de ferro tem levado à valorização de empresas ligadas à commodity, após parte do ano ser pouco empolgante para as mineradoras na Bolsa. Os recentes estímulos econômicos de Pequim vêm ajudando no curto prazo, mas a dúvida que fica, agora, é em relação à permanência da commodity no atual patamar de preços.

Hoje, em relatório,  o Morgan Stanley reiterou sua recomendação de compra para os papéis da Vale (VALE3) e da CSN Mineração (CMIN3), afirmando que as empresas devem se beneficiar das perspectivas positivas para o minério no curto prazo e citando um potencial de valorização.

Entretanto, na véspera, a Genial Investimentos ponderou enxergar um recuo dos valores da commodity, com a tonelada a US$ 115 para o próximo ano – apesar de ainda estar positiva em relação às ações tanto da Vale quanto da CSN Mineração.

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Preço do minério: estímulos na China

Para o Morgan, os cortes na produção de aço chinês não se concretizaram, pois o estímulo econômico anunciado recentemente continua a fluir, incentivando a produção e aumentando a demanda por minério de ferro.

O gigante asiático, em meados de julho deste ano, deliberou pela necessidade de mais estímulos para ajudar as construtoras e incorporadoras – em crise já há algum tempo, com destaque para o caso Evergrande – a reduzirem seus estoques, bem como para impulsionar a economia do país, que vinha frustrando.

Entre as políticas implementadas houve a redução de taxas de juros e uma maior emissão de dívida pública, dando liquidez aos bancos.

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A visão, além do mais, é de que a redução do número de casas disponíveis também levaria a uma maior construção de novas unidades, o que aumentaria a demanda por aço e por  minério.

O banco lembrou também que o primeiro trimestre do ano é tipicamente forte para os preços do minério de ferro devido à oferta sazonalmente apertada, já que o Brasil e a Austrália tendem a sofrer fortes chuvas que impactam a produção de mineração.

Para os analistas, a crescente intensidade da procura pela commodity pelas metalúrgicas que se desenrolou recentemente deve manter o produto suportado nos atuais patamares pelo menos até o primeiro semestre de 2024.

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Olhando para o futuro, o Morgan pontua que uma eventual desaceleração no estímulo chinês ou taxas de juros altas por mais tempo provavelmente resultaria em preços de commodities abaixo do cenário base.

Fora o estímulo ao crescimento nos mercados imobiliários da China, combinada à uma queda mais rápida do que a esperada na inflação dos EUA e Europa, levando os bancos centrais a normalizarem a política monetária mais cedo, resultaria em um crescimento global mais forte e impulsionaria os preços das commodities, acima do cenário base.

Genial fala em problema estrutural e estoques

A Genial, em seu relatório, vai no sentido oposto.

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“Esperamos uma curva descendente, sem sustentabilidade no patamar de US$ 130 a tonelada”, diz o time da casa.

Eles sugerem que o estímulo do governo chinês, focado principalmente na habitação social, terá um impacto positivo, mas limitado, no mercado imobiliário e na demanda por aço e minério de ferro.

A análise indica que, embora o programa possa ajudar na redução do estoque de casas, ele não será suficiente para resolver todos os problemas do setor imobiliário. Diversas construtoras, como já mencionado, continuam em situações delicadas.

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“As incorporadoras com as maiores dificuldades de fluxo de caixa geralmente estão localizadas em cidades menores, que não se qualificaram para esse programa de estímulos”, explica a casa, mencionando o Local Government Financing Vehicle (LGFV).

“Dito isso, não estamos considerando o novo programa como um potencial divisor de águas para o financiamento dos desenvolvedores imobiliários”.

A Genial defende que o excesso de oferta de residências em cidades pequenas junto da reversão da pirâmide etária é um problema estrutural. Famílias de classe média em cidades menores já não parecem possuir interesse em comprar mais imóveis, considerando que o custo de vida subiu e já são detentores de mais apartamentos do que filhos para herdá-los.

“Com menos fluxo de caixa entrando para as incorporadoras, os bancos passaram a não possuir motivação para conceder empréstimos a essas companhias devido a questões de garantia e à natureza de alto risco das hipotecas. Então não foi a falta de crédito que tirou o oxigênio do setor. A redução da oferta de crédito foi uma consequência do excesso de oferta de moradias”, justificam.

Estímulos no curto prazo

O que melhora o cenário para o minério no curto prazo, na visão da Genial, é a combinação entre os estímulos ao setor imobiliário e a permissibilidade do governo chinês quanto ao déficit fiscal.

O governo da China, ao final de outubro, afrouxou o limite de déficit fiscal para 3,8% do PIB (vs. 3% anteriormente), dando mais margem de manobra para gastos, sinalizando maiores gastos com infraestrutura.

“Acreditamos que o impulso fiscal e a continuidade do investimento pesado em energia, transporte e infraestrutura, bem como o programa de habitações populares continuarão a apoiar a reposição dos estoques de produtos acabados na indústria transformadora”, apontaram.

“É notório que esse movimento de apreciação do minério de ferro entre setembro e início de dezembro também possui correlação com os estímulos que comentamos. Acreditamos que a apreciação vista recentemente também carregou um viés especulativo em relação aos efeitos do programa, precedendo a própria implementação, além do aumento do espaço fiscal”, menciona.

À espera de primeiros resultados

Por fim, para a Genial, é necessário esperar os impactos dos anúncios na economia real chinesa.

Já do lado da disponibilidade do minério, a casa destaca que, por conta dos estímulos, houve uma corrida de distribuidoras e metalúrgicas para formarem estoques – o que, em grande parte, também sustentou as recentes altas.

“Mesmo em níveis ainda estreitos, acreditamos que os estoques devem voltar a apresentar uma elevação devido à queda na demanda das siderúrgicas, uma vez que o volume de minério de ferro acumulado nos portos aumentou para cerca de 115 milhões de toneladas, alta de 1,7% frente a semana de 30 de novembro”, explicam.

“Para o curto prazo, como o preço do minério de ferro subiu muito, acreditamos que diversas siderúrgicas passaram a segurar as compras aguardando uma baixa no preço para voltarem a comprar mais estoques dos portos”, dizem.

Do lado da oferta, acrescentam, há no curto prazo um equílibrio, com o volume de embarques brasileiros subindo, mas os australianos, caindo.

“Como todas as notícias novas, do ponto de vista da demanda, só possuem efeitos na economia real a partir de 2024, não há que se falar em aumento de demanda no presente, que justifique o preço do commodity com a voraz aceleração entre a nossa revisão passada e essa”, fecham.

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