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Para uma empresa de carne bovina como a Minerva Foods, com mais de 30 unidades industriais espalhadas pelo Brasil e outros países da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia), arbitragem é o nome do jogo. Com a diversificação geográfica, a empresa, que gera cerca de 70% de sua receita com exportações, pode maximizar resultados em fronteiras onde as margens estão melhores e minimizar perdas nas quais as condições de mercado estão adversas. E é esse ponto, nevrálgico, que a recente aquisição de 16 plantas da concorrente Marfrig talvez mais fortaleça.
Em evento para analistas nesta terça-feira em São Paulo, todos os principais executivos da Minerva, que lidera as exportações de carne bovina na América do Sul e fatura cerca de R$ 30 bilhões por ano, repetiram algumas vezes a palavra arbitragem. Vantagens e desvantagens de cada frigorífico são mensuradas diariamente para guiar as decisões sobre compra de animais, produção de carne, vendas domésticas e exportações, entre outras, e a resultante desse cruzamento de informações define os passos a seguir.
“O caminho que escolhemos seguir foi o da especialização [em carne bovina], com diversificação geográfica e capacidade de arbitragem. Fizemos 20 aquisições nos últimos 15 anos, e montamos plataformas fortes em países produtores importantes (…) O negócio com a Marfrig fazia sentido e veio em um momento em que a América do Sul está ocupando mais espaço no mercado global de carne bovina. Estamos no lugar certo, na hora certa”, disse Fernando Queiroz, CEO da Minerva, durante o evento. Com a oferta de gado restrita sobretudo nos Estados Unidos, aliado ao ciclo positivo no Brasil, a participação sul-americana no trading mundial de carne bovina superou 40%.
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Fechada por R$ 7,5 bilhões e anunciada no dia 28 de setembro, a aquisição de ativos da Marfrig pela Minerva inclui 11 plantas de bovinos no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e uma unidade de ovinos no Chile. A capacidade de abate da compradora vai superar 43 mil cabeças por dia, a segunda maior entre as gigantes brasileiras de proteínas animais, atrás apenas da JBS, e seu faturamento anual deverá ultrapassar a marca de R$ 50 bilhões. A Minerva já pagou à Marfrig R$ 1,5 bilhão, e o restante será depositado no fechamento da operação, após a aprovação da transação por órgãos antitruste como o brasileiro Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A Minerva não espera problemas para a aprovação do negócio no Brasil, na Argentina e no Chile. No Uruguai, analistas de mercado vislumbram alguma restrição, dado o tamanho que a empresa passará a ter no país, com sete unidades. Daí porque a direção da empresa não descarta que o negócio seja concluído em duas etapas, a segunda envolvendo apenas os ativos uruguaios. Mas isso não significa ausência de questionamentos mesmo nos países em que a situação parece ser mais tranquila.
No Brasil, por exemplo, o Cade já apresentou alguns pedidos de esclarecimentos. Foram questões como se a participação de mercado da Minerva poderia superar 20% em alguma situação, sobre o abate em Rondônia e sobre comercialização de carne in natura no mercado doméstico. Todas respondidas e em análise, conforme sequência de perguntas e respostas divulgada pelo órgão.
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Entre analistas, o principal questionamento é se a Minerva conseguirá obter com as plantas que serão incorporadas os resultados prometidos, muito superiores aos que vinham sendo colhidos pela Marfrig. A Minerva projeta, por exemplo, que o Ebitda dos ativos adquiridos poderá chegar a R$ 1,5 bilhão por ano, e no mercado essa e outras estimativas ainda geram dúvidas, que hoje a companhia procurou esclarecer.
“Em 2017, quando adquirimos unidades da JBS, as plantas geravam margem de quase zero, o balanço era muito menos favorável e nossa alavancagem aumentou para quase 5 vezes. [Progressivamente], a margem subiu para mais de 10% e houve desalavancagem. Agora, nossa estrutura de capital é muito mais favorável”, afirmou o CFO da Minerva, Edison Ticle, à plateia. Ele lembrou, ainda, que cerca de 90% da aquisição será financiada com um bond que vencerá apenas em 2033 e que há muitas sinergias comerciais e de custos a serem incorporadas.
Além disso, observou Ticle, os resultados das unidades vendidas pela Marfrig vinham sendo muito inferiores aos das plantas que continuam nas mãos da empresa de Marcos Molina, o que sugere um potencial expressivo de melhora da performance. De olho na melhora da eficiência dessas operações, e da companhia como um todo, a Minerva também está redesenhando sua estrutura. Uma das mudanças será a mudança da gestão das atividades no Rio Grande do Sul para o Uruguai, tendo em vista características similares entre os negócios no Estado e no país.
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Quanto à alavancagem, que naturalmente vai crescer após a transação com a Marfrig for concluída e, provavelmente, se aproximar de 4 vezes, o CFO prevê a volta para um intervalo entre 2,3 vezes e 2,9 vezes após um ano. Além de atuar no mercado de carne bovina, a Minerva mantém operações na área de ovinos na Austrália, que serão fortalecidas com a planta que virá da Marfrig no Chile.
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