Vale (VALE3) anuncia criação da Agera, empresa para comercializar areia aproveitando rejeitos da mineração

Nova companhia surge a partir de um "spin off" e prevê comercializar neste ano 1 milhão de toneladas de areia, gerando receita de vendas de R$ 18 milhões

Reuters

Mineração da Vale em Minas Gerais (Mario Tama/Getty Images)
Mineração da Vale em Minas Gerais (Mario Tama/Getty Images)

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RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Vale (VALE3) anunciou ao mercado nesta terça-feira a criação de uma empresa que irá comercializar e distribuir areia proveniente de seus rejeitos de minério de ferro para diversos fins, com o objetivo de reduzir a disposição desses materiais em barragens ou pilhas.

Batizada de Agera, a nova companhia que surge a partir de um “spin off” da gigante de mineração prevê comercializar neste ano 1 milhão de toneladas de areia, gerando receita de vendas de 18 milhões de reais, disseram executivos da Vale e da empresa à Reuters.

O volume ainda é pequeno comparado aos cerca de 47 milhões de toneladas de rejeitos produzidos pela Vale em 2022, mas a expectativa com o lançamento da companhia dedicada é ampliar a fabricação a partir das operações da mineradora nos próximos anos.

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“A Vale já vem procurando dar destino mais sustentável aos seus rejeitos desde 2014, já tem um longo tempo de pesquisas”, disse à Reuters a gerente geral de Novos Negócios da Vale, Tatiana Teixeira.

“O objetivo é dar um destino mais sustentável, uma mineração mais circular, reduzir nossa dependência das estruturas para disposição de rejeitos e estéril.”

O anúncio ocorre após a companhia ter sido envolvida em dois grandes colapsos de barragens de mineração nos últimos anos, com o rompimento de estrutura da Samarco (joint venture da Vale com a BHP) em 2015 e da própria Vale em 2019, com centenas de mortos e desabrigados, além de graves impactos socioambientais.

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A Vale tem um plano de eliminar as barragens a montante, projetos que eram utilizados nas estruturas que se romperam.

Desde 2019, das 30 estruturas previstas, 12 já foram eliminadas, o que equivale a 40% do total. A previsão da empresa é concluir a eliminação da 13ª estrutura ainda neste mês.

Os rejeitos da Vale são gerados a partir do processamento a úmido do minério de ferro, método utilizado atualmente em menos de 30% da produção da companhia, e são compostos basicamente de sílica, o principal componente da areia, e óxidos de ferro. Do material enviado para a barragem, de 70% a 80% é uma parcela arenosa.

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Com sede em Nova Lima (MG), a Agera recebe a areia produzida a partir do tratamento dos rejeitos e promove sua comercialização e distribuição. A Vale iniciou a comercialização da areia, em 2021, segundo Teixeira. Para cada tonelada do novo produto, a companhia deixa de depositar também uma tonelada de rejeitos em suas barragens, explicou.

Desde então, já foram destinados pela Vale ao setor de construção civil e a projetos de pavimentação rodoviária cerca de 900 mil toneladas do produto. A expectativa é atingir a comercialização de 2,1 milhões de toneladas em 2024, ampliando a receita ante 2023 para 63 milhões de reais, e cerca de 3 milhões de toneladas em 2025, disse o CEO da Agera, Fabio Cerqueira.

A areia é produzida atualmente na mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), ativo que respondeu em 2022 por um total de 3,6 milhões de toneladas de rejeitos produzidos pela mineradora. No ano passado, a empresa começou a produzir em pequena escala na mina de Viga, em Congonhas, e nos próximos meses planeja iniciar a produção na mina de Cauê, em Itabira, adicionaram executivos.

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FOCO EXCLUSIVO PARA ALAVANCAR

A ideia da criação de uma empresa 100% Vale, mas que fosse totalmente dedicada ao negócio de areia, segundo Cerqueira, ocorreu para que a nova companhia pudesse dar todo foco ao negócio, que não é a atividade fim da mineradora, uma das principais produtoras globais de minério de ferro e níquel.

Dados da Vale apontam que atualmente cerca de 330 milhões de toneladas de areia são utilizadas no Brasil anualmente nos segmentos de construção civil e processos industriais e que o uso do produto certificado e que seria descartado de suas atividades evita a extração de areia natural.

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Cerqueira pontuou que a areia é um produto de baixo valor agregado, que precisa ser comercializado com custos baixos para que seja viável.

“A gente tem uma vantagem competitiva de poder usar a logística da Vale, principalmente ferroviária, para alcançar mercados mais distantes e conseguir alocar esse volume que realmente é bem expressivo quando se fala em mercado de areia”, disse Cerqueira.

Hoje, a Agera conta com sete pontos de atendimento ao cliente e estoque de material em Minas Gerais e no Espírito Santo, explicou ele.

Para a logística do material, a empresa mantém contrato com sete transportadoras rodoviárias e três fornecedores de frete ferroviário. A empresa atende atualmente mais de 80 unidades fabris de sete segmentos (concreteiras, pré-moldados, argamassa, artefatos, cimenteiras, tintas texturizadas e pavimentos) e está investindo em pesquisa para expandir sua atuação em outras aplicações, como cerâmica vermelha.

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