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“Excelente e produtivo”. Essas foram as definições usadas por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, para descrever o tão alardeado encontro entre Luiz Inácio da Silva, presidente da República, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, para diminuir as rusgas após diversos episódios que evidenciaram uma relação conturbada.
A reunião realizada no fim da tarde de quarta-feira (27) foi a primeiro desde a posse do petista, em 1º de janeiro. Nestes 269 dias, Campos Neto foi por diversas vezes alvo da retórica do presidente contra a manutenção dos juros em nível alto. O líder do Executivo chegou a chamar o chefe da autoridade monetária de “este cidadão”, “tinhoso” e “teimoso”.
Por muitas vezes, coube a Haddad o papel de “bombeiro”.
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O encontro ocorreu em um momento em que uma parcela dos aliados de Lula reduziu o tom das críticas a Campos Neto e ao BC, justamente por causa do início do ciclo de redução da Selic, com cortes de 0,5 ponto percentual em cada uma das duas últimas reuniões, com a taxa indo para 12,75% ao ano.
A reunião foi vista como um gesto de aproximação entre os presidentes da República e do BC, que solicitou ao Executivo a audiência.
Em relatório de abertura de mercado, a Ágora Investimentos apontou que as falas de Haddad sobre o encontro poderiam aliviar algumas preocupações dos investidores. Contudo, dado o atual contexto (principalmente internacional) ainda é insuficiente para garantir um desempenho positivo dos ativos locais por si só. Isso em um ambiente de aversão ao risco nas últimas sessões com a projeção de que o Federal Reserve, BC dos EUA, mantenha os juros altos por mais tempo.
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De qualquer forma, a sinalização foi positiva, uma vez que os recorrentes atritos entre Campos Neto e Lula tiveram repercussões durante todo o ano no mercado, que temeu pelo fim da autonomia da autoridade monetária e até mesmo repercutiu uma não permanência de Campos Neto no cargo, conforme destaca a equipe de análise da Levante Corp.
A Levante ressalta que Campos Neto vinha tentando um encontro com Lula, que não demonstrava disposição para receber, a seu ver, um aliado do seu antecessor Jair Bolsonaro.
Entretanto, o presidente do BC vem fazendo acenos claros ao governo. Os analistas da casa lembram que, na reunião do Copom de agosto, com a decisão de redução dos juros extremamente dividida entre 25 pontos-base (bps, ou 0,25 ponto percentual) e 50 bps, o voto de minerva de Campos Neto foi por um corte maior.
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Mais recentemente, passou a defender o compromisso de Haddad em perseguir a meta de déficit zero em 2024, assim como a tributação dos fundos exclusivos e offshores. Ontem, em audiência na Câmara, disse que o governo tem lidado com problema fiscal e que a tendência é esse fator de risco melhorar.
O time de analistas aponta ainda que, por sua vez, Lula também pode se beneficiar de uma aproximação com Campos Neto.
“Além do interesse em tentar acelerar a queda da Selic, Lula sabe que ter o presidente do BC como aliado nas pautas do rotativo do cartão de crédito e dos juros para o empresariado seria de grande valor”, aponta a casa.
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De acordo com informações do jornal O Globo, a preocupação com o volume de crédito concedido no Brasil está “tirando o sono” de Lula e, de acordo com interlocutores do presidente ouvidos pela publicação, foi o que o fez decidir receber o chefe do BC, depois de meses de rusgas públicas em torno da taxa de juros.
Campos Neto pretende se colocar como um intermediário entre governo e o Congresso, ajudando nos interesses do Palácio do Planalto em aprovar medidas da pauta econômica – como no campo da oposição, onde é bem aceito e mantém vínculos desde o governo passado.
Na visão da Levante, Haddad mais uma vez ganha destaque, visto que foi ele o responsável por costurar a reunião nos bastidores.
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“Daqui para a frente, a aproximação entre governo e BC pode acelerar a agenda no Legislativo, tendo o chefe do BC como fiador. A tão repetida ‘harmonização’ entre as políticas monetária e fiscal por Haddad parece estar cada vez mais próxima”, apontou a casa.
Assim, ainda que não tenha um impacto imediato no mercado, esta foi uma sinalização positiva em meio a tantos fatores de turbulência no cenário externo.
(com Estadão Conteúdo)
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