Bolsa tem que superar “nuvem” e prefixados saltam aos olhos após novo corte na Selic, dizem gestores

Para especialistas, ações estão derrapando por política monetária dos EUA e arranjo fiscal focado em empresas

Bruna Furlani

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A queda da Selic para o patamar de 12,75% ao ano favorece a alocação em Bolsa, mas a classe ainda pode ser afetada pela questão fiscal local e por impactos externos, ao passo que a renda fixa segue atrativa, disseram gestores durante participação em live do InfoMoney nesta quarta-feira (20) logo após o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Pesam sobre o mercado de ações, por exemplo, os movimentos do governo para conseguir cumprir os compromissos fiscais. “Todo o arranjo do governo para conseguir gastar o que ele deseja está sendo feito em cima de ajustes nas empresas, com aumento de carga tributária”, destacou Luis Garcia, CIO da SulAmérica Investimentos (confira a íntegra no vídeo acima).

Na avaliação de Garcia, a Bolsa está “derrapando” porque há dois elementos atuando sobre a classe. De um lado, disse, o cenário macroeconômico tem apresentado melhora com perspectivas mais elevadas de crescimento econômico, ao mesmo tempo em que a taxa de juros está em queda.

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Já de outro, o executivo observou que o “arranjo fiscal” está atuando na “veia das empresas”, com uma reforma tributária que irá afetar de forma diferenciada os diversos setores da Bolsa.

“Se o arranjo fiscal melhorar, acho que veremos a Bolsa performando bem. O macro está favorável”, avaliou Garcia.

Outro fator que pode pesar negativamente sobre a Bolsa é o cenário externo, destacou Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, que também participou da live.

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Para Sobral, há uma “nuvem” em cima da Bolsa, que é a direção da política monetária americana. “É muito difícil que os EUA saiam desse ciclo sem recessão. Isso não é bom para a Bolsa. É difícil ter um cenário em que as ações brasileiras vão bem, enquanto as americanas não”, pondera.

Sobral avalia que ainda serão precisos alguns meses para que o mercado consiga entender se a inflação nos Estados Unidos vai ceder realmente e se aproximar da meta de 2%, e se uma recessão foi mesmo contratada na economia americana.

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“Depois que passar a recessão, podemos falar sobre comprar Bolsa”, defende o profissional da Neo. Embora esteja mais pessimista com a classe de ativos como um todo, o economista não nega que há oportunidades quando se olha diretamente para algumas empresas, mas que é preciso selecionar.

Ações de junior oils devem se destacar

A SulAmérica também vê oportunidades em Bolsa. Entre os setores preferidos, o executivo da companhia cita o das petroleiras menores, conhecidas como junior oils, caso da Prio, ex-PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3).

Segundo Garcia, não há uma atuação forte do governo, como na Petrobras (PETR3) e (PETR4) e o arranjo feito pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem ajudado a manter os preços mais saudáveis, mesmo em um ano de desaceleração da economia chinesa, o que tende a afetar a demanda por commodities no geral.

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Na semana passada, a Opep anunciou que manteve a previsão de crescimento da demanda mundial de petróleo em 2023, em 2,4 milhões de barris por dia.

Já para 2024, a Organização espera que a demanda mundial de petróleo cresça ​​2,2 mb/d, também inalterada em relação à avaliação do mês anterior.

Na ocasião, a previsão de crescimento da oferta de combustíveis líquidos não pertencentes à Opep, por outro lado, foi revista ligeiramente em alta para 1,6 mb/d em 2023. Os principais impulsionadores do crescimento da oferta no ano incluem os EUA, o Brasil, a Noruega, o Cazaquistão, a Guiana e a China.

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Nesta quinta-feira, outro elemento entrou em cena, com a Rússia proibindo temporariamente a exportação de gasolina e diesel. O efeito sobre o preço do barril, no entanto, foi limitado pela expectativa de juros maiores, que alimenta um movimento de aversão ao risco.

Prefixados x títulos de inflação

Fora da Bolsa, a avaliação é que a renda fixa não deve perder a vez dentro das carteiras, mesmo com a queda da Selic para 12,75% ao ano. Na visão de Garcia, os prefixados tendem a ser os indexadores que podem apresentar uma performance mais interessante do que os títulos atrelados à inflação.

Para o executivo, a razão é que é difícil imaginar que o retorno oferecido pelos títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs ou Bs, no jargão do mercado) vão ficar com rentabilidade real em 5% ou abaixo desse patamar.

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“Lá fora, aplicando vai ganhar 4,5% ou 5% em cima de dólar. É difícil imaginar que a B [NTN-B] vai cair muito abaixo de 5,5%. Teoricamente, há o custo de oportunidade. É uma disputa complicada”, avalia Garcia.

Sobral vai na mesma linha e acredita que o prefixado está com maior “gordura” agora. “Juro real para competir com juro real americano, não é uma decisão óbvia. Está o juro mais alto em anos. Juro prefixado tem bastante prêmio”, diz.

A recomendação, no entanto, não é consenso entre especialistas. Alguns analistas ainda preferem a garantia de ganho real dos títulos de inflação, e alertam contra prefixados longos.

Na hora de selecionar os prazos, há maior concordância entre as fontes ouvidas pelo InfoMoney. O economista da Neo, por exemplo, também avalia que o momento não é favorável para tomar riscos no longo prazo e que há bastante incentivo ainda para papéis com vencimentos curtos.