Putin e líder norte-coreano discutem questões militares, guerra na Ucrânia e satélites

Ditador coreano disse no encontro que o Exército e o povo russo certamente obterão vitória na "luta sagrada" pela punição de um grande mal

Reuters

o presidente da Rússia, Vladimir Putin (Kremlin/Divulgação)
o presidente da Rússia, Vladimir Putin (Kremlin/Divulgação)

Publicidade

O líder norte-coreano, Kim Jong Un, e o presidente russo, Vladimir Putin, se reuniram para uma rara cúpula nesta quarta-feira (13), na qual discutiram assuntos militares, a guerra na Ucrânia e uma possível ajuda russa para o programa de satélites do Estado comunista.

Putin mostrou a Kim o local de lançamento de foguetes espaciais mais avançado da Rússia, no Extremo Oriente do país, depois que Kim chegou de trem da Coreia do Norte. Kim fez várias perguntas detalhadas sobre foguetes enquanto Putin lhe mostrava o Cosmódromo Vostochny.

Após o passeio, Putin, de 70 anos, e Kim, de 39, conversaram por várias horas com seus ministros e depois a sós, com o encontro seguido de um almoço com bolinhos russos “pelmeni” feitos com caranguejo de Kamchatka e esturjão com cogumelos e batatas.

Continua depois da publicidade

Kim fez um brinde com uma taça de vinho russo à saúde de Putin, à vitória da “grande Rússia” e à amizade coreano-russa, prevendo a vitória da Rússia em sua “luta sagrada” com o Ocidente na guerra da Ucrânia.

“Acredito firmemente que o heroico Exército e o povo russo herdarão brilhantemente suas vitórias e tradições e demonstrarão vigorosamente sua nobre dignidade e honra nas duas frentes de operações militares e na construção de uma nação poderosa”, disse Kim a Putin.

“O Exército e o povo russo certamente obterão uma grande vitória na luta sagrada pela punição de um grande mal que reivindica a hegemonia e alimenta uma ilusão expansionista”, acrescentou Kim, erguendo sua taça.

Continua depois da publicidade

Cooperação militar

Autoridades norte-americanas e sul-coreanas expressaram preocupação com a possibilidade de Kim fornecer armas e munições à Rússia, que gastou grandes estoques em mais de 18 meses de guerra na Ucrânia. Moscou e Pyongyang negaram tais intenções.

Putin deu várias indicações de que a cooperação militar foi discutida, mas revelou poucos detalhes. O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, participou das conversas e o Kremlin disse que os vizinhos discutem questões delicadas que não devem ser discutidas em público.

Quando perguntado pela mídia russa, que teve acesso significativo à cúpula, se a Rússia ajudaria Kim a construir satélites, Putin disse: “É por isso que viemos aqui”.

Continua depois da publicidade

Para a Rússia, a cúpula foi uma oportunidade de cutucar os Estados Unidos, a grande potência que apoia a Ucrânia, embora não tenha ficado claro até onde Putin estava disposto a ir para atender a qualquer lista de desejos norte-coreanos de tecnologia.

Putin e Kim chamaram um ao outro de “camaradas” durante o almoço e Putin lembrou repetidamente a Kim que foi a União Soviética que apoiou a Coreia do Norte – e foi a primeira a reconhecê-la, há pouco mais de 75 anos, desde sua criação.

Recentemente, a Rússia juntou-se à China na oposição a novas sanções contra a Coreia do Norte, bloqueando um esforço liderado pelos EUA e dividindo publicamente o Conselho de Segurança da ONU pela primeira vez desde que começou a punir Pyongyang em 2006.

Continua depois da publicidade

Questionado sobre cooperação militar, Putin disse que a Rússia cumpre as regras internacionais, mas que há oportunidades a explorar.

A escolha de se reunir no Cosmódromo Vostochny – um símbolo das ambições da Rússia como potência espacial – foi notável, já que a Coreia do Norte não conseguiu lançar satélites de reconhecimento duas vezes nos últimos quatro meses.

Mísseis balísticos

Enquanto Kim atravessava as florestas da Rússia de trem, a Coreia do Norte lançou dois mísseis balísticos de curto alcance de uma área próxima à capital, Pyongyang, para o mar ao largo de sua costa leste.

Continua depois da publicidade

Foi o primeiro lançamento desse tipo feito pela Coreia do Norte enquanto Kim estava no exterior, segundo analistas, demonstrando um nível maior de delegação e sistemas de controle mais refinados para os programas nucleares e de mísseis do país.

Kim havia feito apenas sete viagens ao exterior em seus 12 anos no poder, todas em 2018 e 2019. Ele também atravessou brevemente a fronteira intercoreana duas vezes.

A composição da delegação de Kim à Rússia, com a presença do diretor do Departamento da Indústria de Munições, Jo Chun Ryong, sugeriu uma agenda com grande ênfase na cooperação do setor de defesa, disseram os analistas.

“Na Coreia, há um provérbio que diz: boas roupas são aquelas que são novas, mas os velhos amigos são os melhores amigos. E nosso povo diz: um velho amigo é melhor do que dois novos”, disse Putin a Kim.

“Essa sabedoria popular é totalmente aplicável às relações modernas entre nossos países.”