Comprar ou não comprar Bolsa no Brasil? Gestores se dividem sobre otimismo com ações e alertam para recessão nos EUA

Casas como a JGP e a Kapitalo estão com posição em ações da Petrobras, que podem oferecer um retorno em dividendo entre 10% e 20%

Bruna Furlani

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Embora avaliem que a Bolsa brasileira está “barata”, preocupações com a desaceleração global e com a volatilidade vista na renda variável na comparação com o crédito privado dividem os gestores sobre o otimismo com o mercado acionário local.

“Eu acho que o Brasil tem uma trajetória muito ruim se o mundo desacelerar tanto pelo valor de exportação que a gente tem quanto pela resposta interna, que acho péssima”, destacou Carlos Woelz, fundador da Kapitalo, durante painel da Expert XP 2023 nesta sexta-feira (1).

Ainda que defenda que o Brasil não será capaz de escapar se ocorrer uma desaceleração da economia global, que é o cenário-base da casa hoje, Woelz afirma que os ativos brasileiros estão muito baratos e que a gestora não vende “coisa barata sem trigger [gatilho]”.

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Nesse sentido, o gestor disse que está posicionado em ações que considera atrativas, como Petrobras (PETR3) e (PETR4) e Suzano (SUZB3), à espera de uma oportunidade de venda.

“O mais provável é ter uma desaceleração mais forte e eu ir para o lado pessimista. Eu acho que o pouso suave da economia global é a uma saída para o Brasil. Vou manter as coisas baratas, mas acho que vou acabar vendendo mesmo [depois]”, pontua o gestor da Kapitalo.

Outro que está menos otimista com a Bolsa brasileira é Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy. Durante o painel, o executivo destacou que a casa está pouco comprada (com uma aposta que se beneficia da alta) em Bolsa brasileira, diante de uma série de medidas propostas pelo governo, como o fim do Juros sobre Capital Próprio (JCP), subvenção do ICMS e projeto que favorece o governo em votações no Carf, apesar de que alguns ainda precisarem de aprovação do Congresso para entrar em vigor.

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Segundo ele, algumas empresas como a Petrobras poderiam ser bastante prejudicadas, ainda que a casa considere que a ação esteja barata. Outra preocupação envolve companhias como a Vale.

“O governo pode dar um tiro na Vale […]. A Bolsa tem um risco ruim porque o Governo tem que fazer um ajuste pelo lado da arrecadação. Temos uma pequena posição em Bolsa”, afirma Guerra.

Para o gestor, a classe de ativos que faz mais sentido ter no momento é a de crédito privado local, que atualmente representa uma posição maior do que a alocação em Bolsa Brasil.

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Na avaliação de Guerra, é possível montar uma carteira de ativos de crédito privado com uma boa qualidade de crédito, bom retorno e uma volatilidade menor, enquanto a Bolsa tende a entregar algo próximo de CDI acrescido de 10% com um forte sobe e desce de preços.

“O blend é deter mais crédito, como debêntures incentivadas, que oferecem inflação acrescido de 7% isento, do que uma Bolsa que vai balançar. Prefiro ter maior exposição a crédito. Estamos super cautelosos com Bolsa”, pondera o gestor.

Embora alguns acreditem que o crédito privado pode ser uma opção mais interessante em meio a um cenário de forte oscilação na renda variável local, há quem ainda veja oportunidades na Bolsa, como a JGP.

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André Jakurski, sócio-fundador da gestora, também cita o exemplo da Petrobras. Segundo o executivo, as ações da companhia avançaram mais de 60% neste ano e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conseguiu promover fortes interferências na companhia.

“Até que o governo tome coragem para propor uma mudança estatutária, acho que a Petro vai pagar bons dividendos e o governo depende dos dividendos para fechar as contas”, destaca Jakurski.

Nos cálculos do sócio da JGP, a companhia tende a pagar um retorno em dividendos entre 10% e 20%. “A Petro não está cara. Se for levar o risco que existe, tem que ter uma certa moderação. Ninguém queria a companhia no começo do ano, porque o Lula ia destruir a empresa”, afirma.

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Ao pensar em renda variável local, a visão do executivo é que o investidor pode ficar com a Bolsa, mas “não pode casar”. “Tem que ter habilidade e coragem para comprar Bolsa quando tudo está mal e vender quando está bem”, ponderou.

O sócio da JGP observou que é uma “guerra inglória” lutar contra um juro real de 5% a 7% e que é preciso “capacidade emocional” para escolher os momentos e evitar” fazer justiça com as próprias mãos”.

Apesar disso, o gestor pondera que houve momentos em que o CDI mudou e rodou abaixo da inflação, o que favoreceu a alocação em ações. “Se Warren Buffett tivesse nascido no Brasil, ele não teria ficado famoso”.

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Desaceleração nos EUA

As preocupações com o cenário brasileiro não são à toa. Na avaliação da Legacy, Kapitalo e da JGP, o mundo deu sinais mais concretos de que está desacelerando.

Para Guerra, da Legacy, os últimos dados mostraram que há mais pessoas procurando trabalho e que o número de trabalhadores que estão pedindo demissão e buscando outros empregos está caindo.

Depois de um período com forte divergência na casa a respeito da trajetória da economia americana e de uma possível recessão, o executivo afirma que a gestora parece ter uma convicção maior de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) vai parar.

“Tenho a convicção de que o juro está restritivo o suficiente e que a inflação está desacelerando e o mercado de trabalho está sentindo”, diz Guerra.

Embora acredite que a probabilidade de que o Fed continue a subir os juros diminuiu bastante, o gestor evita projetar quando deve ocorrer uma recessão no País. Segundo ele, é difícil acertar se ela virá no fim deste ano, ou no primeiro, segundo ou quarto trimestre do ano que vem. “Hoje, a opinião é que ela está bem mais próxima do que o esperado”, diz.

Quem também olha com cuidado para a desaceleração nos Estados Unidos é a Kapitalo. Woelz explica que o que está ocorrendo agora é uma desaceleração gradual. Para ele, o problema ficará mais visível no momento em que forem retirados todos os efeitos temporários, como o forte estímulo fiscal.

“Na hora que todos os efeitos temporários, em particular o fiscal, diminuírem, pode ser que tenhamos uma desaceleração mais forte e numa magnitude pior do que o Fed gostaria”, diz o profissional da Kapitalo.

Se isso ocorrer, a forma de intervenção mais eficiente que poderia ser feita é a aceleração dos cortes, já que não há espaço fiscal, avalia Woelz.

Apesar dos gastos exorbitantes do governo americano, a avaliação da JGP também é de que a economia dos Estados Unidos não irá escapar de uma desaceleração.

“Nunca teve pouso suave na economia americana. Ou vai desacelerar e entrar numa recessão, ou não vai ter pouso. Eu estou nessa dúvida e não sei responder ainda em que momento teremos essa mudança antecipada por todos”, diz.