“Bancões” dizem que inadimplência chegou ao pico, mas preveem menor oferta de crédito

Exceção foi Banco do Brasil, maior ROE da temporada, com previsão de expansão de crédito

Mitchel Diniz

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Inadimplência e oferta de crédito foram os grandes temas da última temporada de resultados trimestrais dos grandes bancos listados na Bolsa brasileira. Os atrasos no pagamento de empréstimos continuaram crescendo, mas, de forma geral, em ritmo menor.

Ainda assim, as instituições se mostram conservadoras em termos de concessão de crédito, revisando para baixo as estimativas de crescimento de carteira este ano.

Não foi uma temporada de surpresas. Conforme o esperado, Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) despontaram entre os pares, com rentabilidade robusta, apesar do menor crescimento de suas carteiras e margens financeiras.

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Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) apresentaram alguma melhora em seus indicadores de retorno sobre patrimônio (ROE, na sigla em inglês) na comparação com o primeiro trimestre, mas seguem longe da rentabilidade de um ano atrás. Dificilmente, a recuperação deve ocorrer no curto prazo.

2T23 Santander Bradesco  Itaú BB
Lucro recorrente R$ 2,309 bi R$ 4,5 bi R$ 8,742 bi R$ 8,8 bi
ROE 11,24% 11,1% 20,9% 20,8%
Margem financeira R$ 13,579 bi R$ 16,6 bi R$ 25,997 bi  R$ 15,711 bi
Carteira expandida R$ 617,215 bi R$ 868,69 bi R$ 1,15 tri R$ 1,045 tri

Santander: inadimplência chegou ao pico

O Santander reportou lucro líquido recorrente de R$ 2,309 bilhões no segundo trimestre, montante 45% inferior ao reportado no mesmo intervalo de 2022.

O ROE de 11,24% representou uma queda de 961 pontos-base ao ser comparado ao mesmo período do ano anterior.

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A margem financeira bruta do banco, que reflete os ganhos com operações que rendem juros, foi de R$ 13,579 bilhões, alta de 6,3% em um ano.

Os executivos do Santander Brasil foram mais assertivos em relação à inadimplência da carteira de crédito do banco. “A gente está confortável em dizer que o pico da geração da inadimplência já passou”, afirmou Mario Leão, CEO do banco, em uma das teleconferências sobre os resultados do segundo trimestre.

O banco reportou um crescimento considerado marginal, pelos analistas, na carteira de empréstimos não performados com mais de 90 dias – de 3,2% em março para 3,3% ao final de junho. Esse avanço já era esperado, mas os investidores queriam saber se a inadimplência havia chegado ao pico.

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“Se muda de forma material o cenário macro de novo, para pior, naturalmente o portfolio vai se comportar de forma menos benigna. Mas não estamos observando isso”, complementou Leão.

O executivo afirmou que o banco vai manter o foco em empréstimos com garantia, como consignado, financiamento imobiliário e crédito rural. Admite que o banco quer crescer linhas nas quais aceitou cair, mas sem abrir o apetite de forma ampla.

O objetivo do banco é maximizar rentabilidade de bases de cliente, com segmento de alta renda e empresas. E é com um perfil de carteira menos exposta à baixa renda e “mar aberto”, clientes que não correntistas do banco, que o Santander Brasil quer recuperar rentabilidade.

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Leão expressou o desejo do banco em fazer com o que o retorno sobre patrimônio (ROE) retorne aos patamares de outrora, entre 15% e 20%, mas reconhecesse que isso vai levar “um certo número de trimestres”.

“Certamente não será este ano que o retorno sobre patrimônio vai chegar aos níveis desejados”, afirmou.

Para os analistas, o Santander apresentou melhora no segundo trimestre, mas ainda tem um longo caminho pela frente.

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“No geral, embora ainda pressionados por provisões mais altas e ajudados pelo imposto de renda positivo, vemos a combinação de um balanço saudável com uma margem financeira melhorada como indicadores antecedentes para melhores resultados no futuro”, avaliam Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, analistas da XP.

Bradesco: previsão de menor oferta de crédito

O Bradesco registrou lucro recorrente de R$ 4,5 bilhões no segundo trimestre de 2023, queda de 35,8% na comparação anual.

Com ROE de 11,1%, houve uma melhora de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mas o indicador segue distante dos 18,1% registrados um ano antes.

A margem financeira do banco totalizou R$ 16,6 bilhões, um crescimento de 1,2% em relação ao mesmo período de 2022. Já em relação ao primeiro trimestre, houve uma queda 0,6%.

No Bradesco, o tom também foi otimista, mas um pouco mais cauteloso sobre tendências para os empréstimos com atraso.

“É difícil, e acho que até por prudência, a gente dizer que a inadimplência atingiu o pico. A gente não deveria falar, mas estamos bem próximos disso ou já atingimos esse pico. E certamente após esse pico, a tendência que a gente tem é de uma redução nos índices de inadimplência”, afirmou Octavio de Lazari, CEO do banco.

A inadimplência para empréstimos com mais de 90 dias de atraso do banco ficou em 5,9%, ante 5,1% registrada no primeiro trimestre. Já o índice de atrasos de 15 a 90 dias registrou uma leve melhora no mesmo intervalo de tempo, passando de 4,6% para 4,4%.

“Esse índice, ele se mantém um pouco mais alto por conta de uma originação menor de crédito”, destacou Lazari. A carteira de crédito do Bradesco terminou o segundo trimestre em R$ 868,69 bilhões, um redução de 1,2% em relação aos três primeiros meses do ano, refletindo o reposicionamento da política de crédito voltada para modalidades de menor risco.

Junto com a divulgação de resultados, o Bradesco revisou para baixo suas projeções para o ano de 2023. Com um crescimento de 1,6% na carteira de crédito acumulado no primeiro semestre, o banco prevê uma expansão de 1% a 5% no ano cheio em relação a 2022. Antes, o guidance era de crescimento entre 6,5% e 9,5%.

“Se a gente imaginar o meio do guidance, que é 3%, ele nos parece bastante razoável, por uma série de motivos. Primeiro porque a gente já vem observando um crescimento da tomada de crédito nas produções de crédito em julho. Temos pipeline robusto para crescimento de crédito”, afirmou Lazari.

No segundo trimestre, a rentabilidade do banco foi de 11,1%. Houve uma melhora de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mas o indicador segue distante dos 18,1% registrados um ano antes.

“O nosso compromisso é, a cada trimestre, entregar o melhor resultado, com o melhor ROE. Mas, por uma questão de cautela, dado o cenário todo, entendemos que o retorno será gradual”, afirmou Lazari.

As ações do Bradesco recuaram 6,6% no dia seguinte à divulgação de seus resultados. Para os analistas, os resultados do mostram um banco com dificuldades para crescer e rentabilizar sua carteira de crédito, em um cenário de inadimplência ainda elevada.

Itaú: custo de crédito pode ter chegado ao pico

Para os analistas, os números do Itaú no segundo trimestre reiteram a estratégia do banco de focar em clientes de baixo risco enquanto mantém o crescimento de suas margens financeiras.

A carteira expandida do Itaú no segundo trimestre cresceu para R$ 1,15 trilhão, cifra 6,2% maior que a registrada um ano antes. Porém, o número é 0,1% inferior ao do primeiro trimestre.

“O que nós fizemos foi uma gestão de risco, na nossa visão, muito adequada diante do ciclo. Tomamos nossa decisão de rever o nosso apetite em segmentos menos resilientes e muito mais voláteis e continuamos crescendo em segmentos menos suscetíveis a eventos, numa base de cliente de média e alta renda, que sempre foi o core do banco”, afirmou Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú.

Algumas casas de análise notam que a instituição financeira não está imune ao cenário desafiador que se desenha no segmento, principalmente do lado das receitas, com os juros da economia ficando mais baixo.

“A gente vai passar por um ciclo agora mais contracionista, natural, em função do efeito de juros”, admite Maluhy.

O CEO do Itaú também destacou que o banco conseguiu estabilizar o indicador de atrasos nos últimos trimestres. Entre abril e junho deste ano, o índice de empréstimos com mais 90 dias de atraso foi de 3%, ante 2,9% no primeiro trimestre. O indicador de pessoas físicas no Brasil permaneceu em 4,9%.

“A estabilização em uma boa notícia em um mercado muito difícil, no qual vimos um aumento grande da inadimplência”, recorda Maluhy. Segundo ele, caso o Itaú mantivesse o portfólio no mesmo formato que tinha em 2021 até hoje, os indicadores de atraso estariam 180 pontos mais altos. “Com custo de crédito e despesa de provisão substancialmente maior do que o que estamos observando hoje”.

No segundo trimestre de 2023, o Itaú provisionou R$ 9,44 bilhões, aumento de 3,9% em relação ao primeiro trimestre e de 25,3% em relação a um ano atrás.

Segundo Maluhy, o banco espera que as provisões se estabilizem em patamares muito próximos dos observados no período.

“Nossa expectativa é que o custo de crédito possa ter chegado aí no pico e a gente já espera uma despesa de PDD [provisões para devedores duvidosos] mais estável para os próximos dois trimestres. Evidente que está sujeito a eventos no atacado”, afirmou Maluhy.

Banco do Brasil: maior ROE entre os “bancões”

Ao contrário dos seus pares, o Banco do Brasil revisou suas projeções para 2023 prevendo uma maior oferta de crédito, amparada pelo financiamento do agronegócio. O banco agora crê em uma ampliação entre 9% e 13%. No guidance anterior, a previsão era de expansão entre 8% e 12%. No primeiro semestre, a carteira de crédito cresceu 15,3%.

O BB reportou lucro líquido ajustado de R$ 8,8 bilhões no período. A cifra é 11,7% maior que a registrada um ano antes.

O ROE fechou o segundo trimestre em 21,3%, uma alta de 0,3 ponto-percentual em relação aos três primeiros meses do ano.

““Estamos atentos às condições de mercado e variáveis que possam impactar rentabilidade, mas não de maneira expressiva. A redução da taxa de juros traz oportunidade de criar ambiente benigno para crescimento de volumes a um risco menor”, afirmou Geovane Tobias, CFO do Banco do Brasil.

“A nosso ver, a ação só não seria um bom investimento se o ROE caísse rapidamente, o que não vemos acontecer”, afirmam os analistas do BTG Pactual que tem recomendação de compra para BBAS3 e preço-alvo de R$ 63.

A margem financeira líquida do banco foi de R$ 15,711 bilhões, com crescimento anual de 11,3%.

A XP destaca que o banco reportou resultados consistentes por mais um trimestre em praticamente todas as linhas, incluindo a qualidade de crédito, com um índice de inadimplência acima de 90 dias confortável e praticamente estável em 2,73%.

A dívida da Americanas (AMER3) com BB voltou a repercutir negativamente nos números. O reflexo veio de uma reclassificação do débito que a varejista tem com o banco estatal e que gerou impacto negativo de R$ 338 milhões em suas provisões para créditos de liquidação duvidosa (PCLD).

O Banco do Brasil provisionou R$ 7,176 bilhões no segundo trimestre, alta de 143% em bases anuais e volume 22,6% maior que o registrado no primeiro trimestre.

De acordo com o banco, o crescimento foi decorrente do agravamento em linhas de créditos não consignados na carteira pessoa física e da piora de riscos na carteira pessoa jurídica.

Felipe Prince, vice-presidente de gestão de riscos, ressaltou que a perspectiva para a varejista está dependente de divulgação de balanço.

“Estimávamos que o plano de recuperação judicial estivesse aprovado em junho”, afirmou. “Efetivamente, não tivemos balanço auditado dessa empresa e sabemos que, quando o processo de recuperação judicial fica mais moroso, nossa análise indica um impacto na recuperação esperada”.

Segundo Prince, a perspectiva para o caso é estável, mas o cenário mais provável é o de recuperação.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados