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Quando comemorou os resultados recorde obtidos no ano passado, brindando a uma mudança de estratégia que ampliou o peso das exportações nos negócios e acelerou seu ritmo de crescimento, a FriGol, quarta maior companhia de carne bovina do país, atrás de JBS, Marfrig e Minerva, sabia que em 2023 o cenário seria mais difícil. Os preços da proteína já estavam em queda na China, principal mercado para os embarques da empresa (e do país), as vendas no Brasil continuavam fracas e o início da trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic) dava sinais de que demoraria a ser deflagrado. O quadro demandava cautela e, diante dele, ajustes de rota seriam necessários.
De lá para cá, a FriGol, que em 2022 registrou receita líquida de R$ 3,6 bilhões, 21% mais que em 2021, e lucro líquido de R$ 132,9 milhões, com alta de 226% na mesma comparação, voltou as atenções para dentro de casa e passou a investir em expansões e melhorias em unidades e processos, para se preparar para dias melhores. Em março, a suspensão temporária das exportações de carne bovina brasileira à China, por causa da confirmação de um caso atípico da doença da “vaca louca” no Pará, aprofundou o quadro adverso. Mas a situação já melhorou e, na empresa, o diagnóstico é que o plano traçado está sendo bem-sucedido e os investimentos realizados permitirão um avanço mais forte em 2024.
“Fizemos de 2023 ‘o ano da eficiência’. Estamos ampliando a capacidade de produção das nossas unidades, sofisticando o processo de monitoramento do gado que compramos para garantir a sustentabilidade dos produtos que vendemos, ampliando o relacionamento com clientes no varejo e no food service, no Brasil e no exterior, e diversificando as exportações”, afirmou Eduardo Miron, CEO da FriGol, ao IM Business. “E tivemos uma grata surpresa: o mercado doméstico começou a melhorar. Voltou a crescer, e essa tendência deverá se consolidar com a inflação em baixa e o início da queda dos juros”, disse ele em entrevista no dia 21 de julho.
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Segundo o executivo, os investimentos em melhorias e expansões das três plantas de bovinos da companhia vão chegar a R$ 50 milhões este ano. Uma das unidades está situada em Lençóis Paulista, onde está a sede da companhia, e as outras duas são no Pará, nos municípios de Água Azul do Norte e São Félix do Xingu. Em Lençóis a FriGol também conta com um frigorífico de suínos e uma graxaria. As ampliações estão elevando a capacidade de cada uma das unidades em cerca de 25% num momento em que os preços dos bovinos estão em baixa no país graças ao incremento da oferta. O que pode acelerar a retomada quando o horizonte melhorar em todas as frentes, mesmo que o câmbio permaneça menos camarada para os negócios internacionais.
Além de escoarem seus cortes de bovinos no mercado brasileiro, os frigoríficos de Lençóis Paulista e Água Azul do Norte têm permissão para exportar à China. De São Félix do Xingu, por sua vez, saem os produtos vendidos a Israel, mercado tradicional para a companhia e segundo maior destino das vendas externas – são mais de 60, e países asiáticos como Indonésia, Malásia e Filipinas estão sendo prospectados. Em 2022, a China recebeu quase 80% de embarques que, no total, responderam por 52,7% das vendas. Com a suspensão de março, a fatia das exportações totais nas vendas caiu para 42,3% no primeiro trimestre, mas os resultados no segundo trimestre deverão mostrar que a participação chinesa voltou a superar 50%.
De janeiro a março, a receita das vendas à China alcançou US$ 44,4 milhões, uma retração de 51% ante igual intervalo de 2022. No total, a receita líquida da FriGol somou R$ 697,3 milhões, em baixa de 30%, e houve prejuízo líquido de R$ 15,2 milhões. O volume de vendas no mercado interno recuou 3% em relação ao primeiro trimestre de 2022, para 38,6 mil toneladas, e o abate de bovinos diminuiu 2,3%, para 119,5 mil cabeças.
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Segundo Miron, o monitoramento do gado comprado para abastecer os frigoríficos paraenses e paulista continua a ser uma das prioridades da companhia. Segundo dados do Ministério Público Federal no Pará, as compras da empresa estão 100% dentro da lei no Estado, e a Frigol recentemente foi o primeiro frigorífico do país a assinar o Protolocolo de Monitoramento Voluntário de Fornecedores de Gado do Cerrado, desenvolvido pelas ONGs Proforest e Imaflora.
Para fortalecer o caixa e alongar dívidas – e já pensando também nos investimentos que estavam no radar –, a FriGol realizou duas emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no ano passado, em junho e novembro, no valor total de R$ 210,6 milhões. Segundo Miron, no momento não há nenhuma nova operação em curso, mas as emissões se mostraram uma boa alternativa e a empresa continua querendo aumentar o prazo da dívida. Atualmente, o valor total está em cerca de R$ 300 milhões, R$ 200 milhões dos quais vencem no longo prazo. “Quanto mais alongarmos, melhor”, afirmou o CEO.
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