Tem, mas acabou!

Benefício do governo para o setor automotivo acabou piorando todo o setor

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Caros leitores, digníssimas leitoras,

Continuando com o nosso sofrimento no mercado automotivo, o fato em destaque continua sendo a redução de preços dos carros novos.

Depois de quase um mês em que o governo travou o mercado, somente no último dia 14 os preços dos veículos com desconto foram oficializados. Alguns modelos tiveram descontos de até R$ 14,5 mil e outros atingiram uma redução de 16% no preço, conforme já apontamos aqui.

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No entanto, na prática, até hoje nada mudou. Ou seja, ainda não houve o tão esperado aumento nas vendas. Isso provavelmente ocorrerá na última quinzena do mês.

No entanto, como somos ‘do lado negro da força’, precisamos colocar água no chope da galera! O governo afirmou que o benefício poderia durar até quatro meses. Mas, na realidade, não vai durar nem 30 dias!

O benefício não tem prazo de validade; ele tem prazo de caixa: a desoneração do setor automotivo para automóveis é de R$ 500 milhões. No próprio dia 14, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços divulgou que 30% desse valor já havia sido utilizado pelas montadoras. E, como mostrado no gráfico acima, as vendas ainda não ocorreram de fato.

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Algumas montadoras continuam interrompendo suas operações, como a GM, que parou a fábrica de Gravataí (RS) por cerca de 10 dias e propôs um layoff de cinco meses para seus funcionários em São José dos Campos (SP).

Na realidade, o governo acabou piorando todo o setor: travou as vendas na última quinzena de maio e na primeira quinzena de junho (conforme mostrado no gráfico acima); as montadoras continuam interrompendo suas operações; criou um programa para impulsionar a venda de aproximadamente 100 mil carros (equivalente a duas semanas de vendas); a maioria dos beneficiários já estava planejando comprar um carro de qualquer maneira; e o pior… confundiu a mente do consumidor!

Daqui a cerca de 20 a 25 dias, os preços dos carros voltarão “ao normal”. Agora, imagine como se sentirá o consumidor que não comprou um Fiat Mobi por R$ 59 mil e descobrir que o preço subiu para quase R$ 70 mil. Eu sei como ele se sentirá…

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Essa medida foi uma bola fora do governo! Na verdade, eles parecem mais com Roberto Baggio batendo o pênalti no final da Copa de 1994 (novo demais para entender a referência? Veja aqui).

Exagero meu?

Veja o que a Localiza disse: “A redução súbita nos preços dos carros novos reverbera também nos carros seminovos. Deste modo, já observamos em nossas operações a necessidade de redução dos preços praticados para venda dos carros desativados, após o uso no aluguel”.

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Qual é o impacto disso para eles? Analistas estimam um impacto entre R$ 575 milhões e R$ 650 milhões!

Em outras palavras, o problema (somente para a Localiza) é maior do que o benefício de todo o programa!

Bem…

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva