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Tese que ganhou tração há cerca de cinco anos, a consolidação no mercado de fibra chega a 2023 em uma nova fase. Se no período de pandemia, os juros baixos atraíram investimentos e as aquisições ocorriam em série, agora o momento é de capturar sinergias e ir para negociações mais pontuais no mercado dos chamados ISPs (provedores de serviço de internet, em inglês).
Em um primeiro momento, o cenário de aperto monetário poderia sugerir o fim do apetite dessas consolidadoras, normalmente dominada por grandes fundos de investimentos, mas empresas ouvidas pelo InfoMoney reforçam a intenção de ampliar sua presença nacional e, por que não, ser uma quarta grande telecom do país, aproveitando o ocaso da Oi (OIBR3).
Também, neste momento, não veem potencial para Vivo (VIVT3), TIM (TIMS3) e Claro avançarem para aquisições, apesar de especulações recentes do sell side.
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“Ainda há muito crescimento orgânico e inorgânico [por aquisições] para os ISPs. Todas são opções de negócios para as grandes, mas ainda vejo que há espaço para as médias seguirem consolidando”, avalia Denis Ferreira, CEO da Alares, empresa controlada pela gestora americana Grain.
Fabiano Ferreira, CEO da Vero, empresa da Vinci Partners, vai na mesma linha e enxerga que os desinvestimentos dos fundos poderão ocorrer de diversas formas, seja por uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) ou, sim, a venda para um concorrente.
“Se olharmos para o mercado, faz sentido os grandes olharem. Isso já ocorreu em outras indústrias, mas não podemos descartar que surja uma quarta operadora a partir de uma fusão dos médios”, indica o executivo.
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Do lado das grandes telcos, tudo depende dos números. Não se descarta uma incursão neste mercado, desde que a um valuation atrativo que ofereça um custo de captação de cliente menor do que teria de maneira orgânica.
“Existe uma oferta extra [de fibra] e deveria existir a consolidação. Nós podemos nos interessar por alguma empresa menor? Depende de vários fatores”, afirmou Christian Gebara, CEO da Vivo, em entrevista ao Por Dentro dos Resultados (veja o vídeo no fim da reportagem).
“Um deles é não ter sobreposição de área – para mim não tem valor a sobreposição. Outra é a qualidade técnica da rede e que seja uma empresa que cumpra as regras fiscais. Se encontrarmos isso a um preço que achamos que vale, pode haver o interesse. Mas até agora não encontramos”.
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De regional para nacional
Responsável atualmente por 51% da oferta de internet de fibra no país, os ISPs ganharam força a partir de 2018, quando a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) alterou o arcabouço regulatório das Prestadores de Pequeno Porte (PPP), que são empresas com até 5% de participação no mercado nacional.
Esse grupo tem algumas vantagens em relação às grandes operadoras, como o pagamento de menos impostos e não ter a exigência de atendimento físico e 24 horas, por exemplo.
Com menor barreira de entrada, diversos fundos de investimento começaram a olhar para a tese por juntar um serviço cada vez mais essencial, com receita recorrente e poder de repasse. “É um negócio gerador de caixa e com um payback relativamente curto, de 12 meses por assinante”, explica Fabiano Ferreira, da Vero.
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Em outra frente, não havia interesse das grandes teles por áreas com menor densidade populacional, abrindo espaço para a criação de diversas empresas regionais. O declínio da Oi, uma das teles que mais atuava neste segmento, terminou de pavimentar a avenida que atraiu o private equity.
Vinci Partners, Grain, Warburg Pincus, por meio da America.net, e o Fundo Soberano de Singapura (GIC), na Algar, são algumas das gestoras que apostam na tese. Há também a Alloha e a listada Desktop que são controladas por fundos.
Todas elas surgiram de uma sequência de fusões e aquisições. A Alares, por exemplo, fez 18 compras de 2018 até o primeiro semestre de 2022, e a integração das empresas tem sido um dos objetivos da companhia, que possui 509 mil assinantes. “Nós saímos de 18 CNPJs para quatro atualmente e duas marcas. A ideia é terminar o ano com apenas uma marca”, projeta o CEO.
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Denis Morante, sócio da Fortezza Partners, lembra que as aquisições avançaram muito nos últimos anos e que seria natural um momento de acomodação.
Na Vero, o surgimento ocorreu a partir da fusão de oito empresas de uma vez, todas localizadas em Minas Gerais, agora atua em três regiões do país com 722 mil clientes. A Algar fez uma das maiores aquisições do setor em 2021, ao comprar a Vogel do Pátria Investimentos por R$ 600 milhões.
Atualmente, a líder na oferta de fibra é a Vivo, com 5,6 milhões de usuários, segundo dados de março da Anatel. Na sequência, aparece a Oi, com 4,3 milhões. Alloha, Brisanet e Claro completam o top 5, com cera de 1 milhão de assinantes cada.
O olhar das grandes
No comparativo entre as três grandes empresas de telefonia, a Vivo é de longe a mais avançada na oferta de fibra. Além dos quase 6 milhões de usuários, a empresa já tem cabeamento em 24 milhões de domicílio, com previsão de chegar a 29 milhões até o fim do ano.
A Claro possui 967,5 mil clientes de fibra, sendo a quinta maior na categoria, enquanto a TIM 599 mil assinantes, sendo a 11ª do ranking.
Para um graduado executivo do setor, que prefere não se identificar, o custo por usuário via aquisição ainda está alto para as grandes operadoras. “Tudo vai depender desse custo, se organicamente sair mais barato conquistar clientes, não faz sentido não fazer em casa”, acrescenta.
Para Gebara, da Vivo, o crescimento das grandes teles não precisará passar necessariamente pela compra de concorrentes menores.
“O cenário está aberto com uma consolidação que tem que existir. Mas nós podemos também crescer pelo aluguel de redes neutras em áreas que hoje não chegamos. O importante é que temos capex contratado para nossa expansão orgânica sem precisarmos nos endividar”.
Desafio segue
Por outro lado, o executivo ouvido pela reportagem avalia que a tese de algumas consolidadoras pode estar chegando a um teto, em uma fase em que é difícil avançar, especialmente com o atual custo de capital.
“A consolidação vai seguir, mas vejo um trade-off para elas seguirem crescendo, não vai ser tão simples. Tem muito concorrente e o ganho de escala se torna mais difícil”, explica.
Outro ponto, prossegue, é que uma aquisição que traga 10 mil clientes para a base já não tem mais o mesmo efeito quando você se torna uma empresa de médio porte. “Para as operadoras com mais de 1 milhão de clientes, os M&As passarão a ser cada vez mais estratégicos”, afirma.
A saída dos fundos também ainda é incerta. A Vero e Alares já possuem registro de companhia aberta, indicando uma avenida para o IPO. Brisanet (BRIT3), Unifique (FIQE3) e Desktop (DESK3) conseguiram abrir capital durante o ciclo favorável a IPOs de 2021.
No entanto, desde a oferta inicial, estão valendo menos da metade de quando estrearam na B3 e continuam sendo papéis de baixa liquidez. O desempenho reflete os desafios de um negócio bastante pulverizado no país – atualmente são mais de 10 mil ISPs no Brasil.
Para avançar, a avaliação dos executivos é ampliar as margens por meio do cross-selling de produtos para além do acesso à internet, como serviços de streaming e TV a cabo. “Escala por si só não traz retorno”, lembra a fonte.
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