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O primeiro leilão de transmissão do ano, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é alvo de grande expectativa por parte do mercado. O certame é realizado nesta sexta-feira (30), às 10h (horário de Brasília), na sede da B3, em São Paulo, com nove lotes em sete estados (Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco) disponíveis para licitação e um investimento total esperado de aproximadamente R$ 16 bilhões.
A cifra é significativamente maior do que os leilões anteriores e analistas consideram esse como um evento importante para o setor, dada a forte competição esperada e o tamanho considerável dos lotes.
Os projetos incluem 6.184 quilômetros de linhas de transmissão, a maioria deles a ser desenvolvida em Minas Gerais. Os lotes 1, 2 e 5 são os maiores projetos, representando aproximadamente 65% do capex projetado total e do limite de receitas, e espera-se que sejam localizados entre a região Norte de Minas Gerais e a região Sul da Bahia.
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O capex (investimento) total dos projetos é estimado em R$ 15,8 bilhões, com receitas totais limitadas em 2,573 bilhões (capex médio/RAP, ou Receita Anual Permitida, máximo de 6,1 vezes).
O leilão tem como objetivo melhorar a confiabilidade da rede, especialmente para atender à demanda na região Sudeste do Brasil, devido à expansão da geração de energia renovável no Nordeste.
A maioria dos projetos tem previsão de começar a operar entre setembro de 2028 e março de 2029. A única exceção é o Lote 9, que é uma subestação existente no estado de São Paulo que será leiloada para fins de revitalização.
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Já o custo real de capital próprio e o custo médio ponderado de capital (WACC, na sigla em inglês) real para o leilão foram estabelecidos pelo regulador em 10,85% e 7,8%, respectivamente. “Esses níveis estão acima dos cinco leilões anteriores devido ao cenário macroeconômico mais desafiador e às taxas de juros mais altas”, explica o BBA.
Segundo relatório, as empresas parecem otimistas em relação ao próximo leilão de transmissão, devido tanto ao seu tamanho significativo quanto às condições de crédito atuais, o que poderia resultar em propostas mais racionais.
O BBA espera que várias empresas listadas participem do leilão, seja individualmente ou por meio de consórcios. O banco acredita que Cemig (CMIG4), Taesa (TAEE11), CTEEP (TRPL4), Alupar (ALUP11), Engie Brasil (EGIE3), Eletrobras (ELET3), Energisa (ENGI11), Equatorial (EQTL3), CPFL (CPFE3) e Auren (AURE3) provavelmente participarão.
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Assim, embora este seja um leilão muito maior do que os anteriores, em um ambiente de condições macroeconômicas e de crédito mais duras, ainda espera competição acirrada.
“Houve alguns leilões altamente competitivos nos últimos anos, com lances agressivos e estreantes no segmento. Alguns deles enfrentaram desafios em desenvolver e implementar os projetos e as empresas agora se deparam com a falta de contratantes EPC [Enginnering, Procurement e Construction, ou Engenharia, Aquisição e Construção, ou projeto e construção, comum para obras complexas do ponto de vista técnico] capitalizados, deixando menos espaço para players aventureiros”, aponta. Além disso, para o último leilão, a Aneel aprimorou os termos dos editais de licitação para eliminar possíveis players incapazes de cumprir os investimentos necessários.
Já o Credit Suisse aposta que Taesa, Alupar, Energisa, Eletrobras, CPFL, Neoenergia, Equatorial, Auren e Engie Brasil podem ser as possíveis participantes do certame.
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Entre todas as empresas candidatas, o Bank of America avalia que, com base na localização dos projetos, vê Cemig e Neoenergia como as principais licitantes em potencial, dadas as potenciais sinergias com as operações das empresas, mas também espera participação de Engie, Eletrobras, ISA Cteep, Taesa e CPFL. “Também esperamos a estreia da Auren nos leilões de transmissão”, complementa.
O Credit Suisse também comenta que a relação entre o RAP e o capex começa em 16,3% para este leilão, um nível inferior em relação ao leilão de dezembro, mas ainda acima do histórico dos leilões desde 2020 (com taxa média de 14,2%). Assim também projeta uma forte concorrência novamente.
Em relação ao potencial retorno dos ativos, assumindo alavancagem de 70% a um custo de IPCA+7%, incentivos fiscais para projetos menores, cronograma, premissas de capex e receita anual conforme diretrizes oficiais do regulador, estima uma Taxa Interna de Retorno (TIR) real média de cerca de 12,5%. Além disso, considerando que as empresas podem cortar capex (10-15%), as licitações podem implicar descontos de até 30% e ainda gerar retornos em níveis razoáveis (média de 9% em termos reais).
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“Portanto, acreditamos que estaremos presenciando outro leilão competitivo, porém agora mais concentrado em players grandes e tradicionais. Além disso, apesar do cenário de taxas de juros ainda altas, ainda acreditamos que as empresas podem trabalhar em alguma economia de capex. Consequentemente, esperamos que o mercado deva ficar de olho em possíveis lances agressivos, implicando retornos mais apertados”, avaliam os analistas do banco suíço.
Na mesma linha, o Citi avalia que, ainda que as condições financeiras do país estejam mais difíceis do que há um ano, também espera que o leilão seja competitivo. Players relevantes como as operadoras de transmissão pura Eletrobras, Equatorial, Engie e outras têm amplo acesso aos mercados de capitais, avaliam os analistas.
Reiterando esse ponto, o BTG Pactual também ressalta em relatório que vários fatores sugerem retornos apertados (novamente) no leilão: (i) preços crescentes de materiais e fretes; (ii) maior custo de capital; e (iii) escassez de mão de obra e contratados EPC.
Mas os licitantes poderiam superar os retornos máximos sendo mais eficientes em termos de capex, período de construção, alavancagem e benefícios fiscais. “Dada a dimensão dos principais blocos, prevê-se que a concorrência seja dominada por grandes grupos com experiência na construção e exploração desses ativos. Quase todas as empresas que cobrimos manifestaram interesse em licitar, ou estão considerando ativamente fazê-lo, incluindo Alupar, Taesa, Isa Cteep, Eletrobras, Cemig, CPFL, Energisa, Equatorial, Neoenergia e Auren”, aponta.
O BTG ainda pontuou que a sólida carteira de pedidos de T&D (transmissão e distribuição) é um bom catalisador de crescimento para a WEG (WEGE3), que possui um extenso portfólio de produtos no segmento. Historicamente, do capex total para linhas de transmissão, 10-15% referem-se a investimentos em equipamentos de transmissão, o que significa um mercado endereçável considerável para a WEG.
“Mais importante ainda, o crescimento sustentado em T&D pode ajudar a compensar a desaceleração no negócio de energia solar após sua forte tendência de crescimento nos últimos anos”, avalia.
Morgan revisa ações de transmissoras antes do leilão
Também esperando competição alta para o próximo leilão, o Morgan Stanley reduziu nesta semana a recomendação para as ações de Isa Cteep e Alupar de overweight (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para equalweight (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra), pois vê uma relação risco-recompensa pouco atraente após desempenho sólido recente de ambos os papéis.
O preço-alvo para ALUP11 é de R$ 31 por unit (upside de 6% frente o fechamento de terça) e de TRPL4 caiu de R$ 28 para R$ 27;(upside de 8%); já para Taesa (TAEE11), a recomendação seguiu underweight (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda), com o target reduzido de R$ 35 para R$ 34 (queda de 9% em relação ao fechamento de terça-feira).
Olhando para frente, a expectativa de alta competição nos próximos leilões de transmissão pode limitar a criação de valor, tornando-se eventos potencialmente neutros ou negativos para ações de empresas de transmissão, aponta.
De um modo geral, o Morgan Stanley destaca que os investimentos em transmissão são críticos para permitir a transição energética e aumentar a confiabilidade do fornecimento de energia. Além disso, aponta, os benefícios vão além do setor de energia, já que a equipe econômica do Morgan Stanley estima que os investimentos em transmissão podem gerar um aumento de 0,20% ao ano no crescimento do PIB.
Assim, os leilões podem gerar impactos diretos e indiretos. “Vemos uma melhora direta em dois importantes componentes da demanda doméstica — investimento e consumo privado, impulsionando um aumento de 0,20% nos níveis do PIB ao ano até 2030. Este último é consequência de 370 mil trabalhadores temporários empregados (0,34% da força de trabalho atual) , expandindo a massa salarial, componente importante de nossos modelos de consumo privado. Os impactos indiretos são mais difíceis de estimar, mas não menos importantes”, avalia a equipe de análise.
São dois canais relevantes, na visão do banco: i) garantia de fornecimento confiável de energia e menor risco de racionamento para as regiões mais industrializadas do país e ii) o uso incremental de energia renovável (possibilitado por conexões de transmissão), o que incentiva a entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em outras áreas.
Mais dois leilões são esperados para segundo semestre
O Ministério de Minas e Energia espera lançar mais dois leilões no segundo semestre deste ano, que poderiam totalizar mais de R$ 30 bilhões em investimentos. Isso inclui um leilão extraordinário de linha bipolo para uma linha de transmissão de 1.468 km que adicionaria mais de 5.000 MW de capacidade de transmissão entre as regiões Norte/Nordeste e Sudeste do Brasil.
Considerando seu tamanho, analistas do BBA esperam que o regulador divida a linha bipolo em blocos, similar ao que foi feito com o Bipolo Madeira em 2008. Eles destacam que “esse tipo de projeto envolve inúmeros desafios de engenharia e requer investimentos massivos (a EPE estima um capex de R$ 16,5 bilhões)”. Portanto, esperam que a concorrência seja relativamente limitada nesse caso, considerando que apenas alguns players (como Eletrobras e State Grid) investiram em projetos semelhantes.
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