Em primeira leva de resultados pós-falência do SVB, “bancões” devem lucrar menos e aumentar provisões para possível recessão

Analistas acreditam que as instituições financeiras vão ser mais rigorosas na concessão de crédito

Mitchel Diniz

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Os grandes bancos dos Estados Unidos costumam ser os primeiros a divulgar seus resultados trimestrais dentre as companhias americanas listadas em Bolsa. Mas, nesta temporada, balanços que antes passavam praticamente despercebidos, de instituições financeiras menores, devem ganhar atenção especial dos investidores.

O First Republic Bank (FRC) deveria apresentar seus números já nesta quarta-feira (12), mas adiou a divulgação para o próximo dia 24 de abril. Ainda que não seja um grande nome do setor, o banco regional ganhou as manchetes no mês passado ao receber um resgate coletivo de US$ 30 bilhões. Os recursos foram injetados por 11 instituições financeiras que se juntaram para evitar que o FRC tivesse o mesmo destino do Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, que fecharam as portas por conta de uma crise de liquidez.

A falência do SVB, conhecido por financiar startups e com US$ 209 bilhões em ativos, foi considerada a segunda maior da história do sistema bancário dos EUA, depois do Washington Mutual, que quebrou em 2008 (com US$ 307 bilhões em ativos). A terceira foi a do Signature Bank, que tinha US$ 118 bilhões de ativos quando foi fechado.

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O balanço trimestral do First Republic Bank vai ser uma fotografia de como a rentabilidade da indústria de bancos regionais foi impactada pelos desdobramentos desses dois casos. Os analistas do JPMorgan acreditam que, nos próximos trimestres, essas instituições financeiras vão ser afetadas por maiores custos de depósito, aumento em despesas com provisões e crescimento menor de empréstimos. Nos balanços do primeiro trimestre, o ponto chave vai ser os resgates feitos no mês de março, quando a crise se instalou.

“É uma variável que tem implicações diretas em empréstimos e no potencial de contração de crédito”, escreveram os analistas, observando que isso pode levar a um aumento nos custos de financiamento e, consequentemente, a uma desaceleração econômica ou recessão.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, acredita que os bancos menores vão passar por um teste de confiança em suas teleconferências de resultados.

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“A expectativa para esses bancos é bem desafiadora, porque eles perderam base de ativos e liquidez. Admitir que saiu muito dinheiro e dizer que a situação é complexa pode ser perigoso”, afirma Castro Alves, prevendo a possibilidade de reações bem negativas por parte do mercado aos balanços.

A equipe de análise de JPMorgan afirma que a postura mais prudente para os investidores é começar a temporada de resultados do 1T23 com exposição limitada a ações de bancos regionais. Mesmo com a queda acentuada dos papéis no mês passado, os analistas afirmam que os custos de capital dessas instituições financeiras se elevaram, o que traz potencial de revisão negativa para seus lucros.

Fato é que os recursos resgatados por poupadores dos bancos regionais migraram para os “bancões”, turbinando as receitas com juros das grandes instituições financeiras no trimestre. Mas a temporada promete ser desafiadora para elas também, segundo analistas.

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“No geral, devemos ver números prejudicados pelas expectativas de desaceleração econômica, com maiores provisões por conta da maior inadimplência”, afirma Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter.

“Além disso, o marasmo nos mercados limita o avanço das receitas do braço de investimentos destas instituições, com emissões ainda tímidas, podendo ser compensado pelas receitas de trade, em virtude das fortes oscilações nas bolsas no período”, explica.

Mudança no discurso dos “bancões”

Na sexta-feira (14), JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citi dão o pontapé inicial na temporada de resultado dos grandes bancos americanos. Na terça (18), saem os números do Bank of America (BofA) e Goldman Sachs. Já  na quarta (19), o Morgan Stanley divulgará seus resultados.

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Na média das projeções de analistas consultados pela Refinitiv, a expectativa é de queda de 10% no lucro por ação dos seis maiores bancos dos EUA em relação a um ano antes.

“Mais do que fornecer um panorama sobre a situação dos próprios bancos, os resultados vão servir de termômetro sobre a situação geral da economia”, diz Lucas Schwarz, analista da VG Research.

Ele acredita em mudanças nos discursos sobre políticas de empréstimos dos bancos, com uma postura mais austera sobre a disponibilização de crédito.

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“Por isso, será importante ver o tom adotado pela gestão dos bancos nas conference calls“. As instituições financeiras vinham falando abertamente sobre aumentar provisões para empréstimos inadimplentes em resposta a um risco de recessão – palavra que, nesta temporada, deve ser mais frequente nas teleconferências das empresas de maneira geral.

Para os resultados do primeiro trimestre de 2023, o JPMorgan prevê uma queda média de 2% nas receitas líquidas com juros dos bancões.

Também calcula que as receitas de trading possam vir melhores que o esperado, mas enxerga um período bastante fraco para a parte de banco de investimento, com a escassez de operações no mercado de capitais. Goldman Sachs e Morgan Stanley acabam sendo os mais afetados nesse sentido.

A equipe de análise do JP diz ainda enxergar os “bancões” mais seletivos quanto aos empréstimos oriundos de bancos regionais em crise – estando mais a abertos a pegar empréstimos corporativos do que imobiliários, por exemplo.

A expectativa é que as métricas de crédito caminhem ainda mais para a normalidade, mas que ainda permaneçam abaixo dos níveis pré-pandemia.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados