FMI diz em relatório que política fiscal pode apoiar a política monetária para lidar com inflação

Após 1985, BCs apertaram com mais frequência a política monetária em resposta às expansões fiscais para atenuar seus efeitos inflacionários

Roberto de Lira

(Getty Images)
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A política fiscal pode apoiar a política monetária para lidar com a inflação porque também afeta a demanda agregada. A afirmação está na edição de abril do Monitor Fiscal, divulgada nesta semana pelo Fundo Monetário Internacional. O documento diz que a inflação alta e volátil torna a gestão fiscal mais desafiadora, podendo prejudicar a credibilidade das instituições econômicas e do próprio arcabouço fiscal dos países.

Assim, o planejamento fiscal e a elaboração e execução do orçamento público tornam-se mais complexos não apenas devido à incerteza em relação a preços, salários e taxas de juros, mas também porque a postura fiscal geral afeta a inflação por meio da demanda agregada e das expectativas de inflação

No capítulo “Evidências Históricas do Impacto da Política Fiscal na Inflação”, os autores usaram dados históricos coletados em 17 economias avançadas e dividindo a análise em dois períodos: entre 1950 até 1985 e entre 1985 até 2019. Essa divisão em 1985 foi feita pela percepção que a política monetária era mais passiva nessas economias. Após esse período, a atuação dos Bancos Centrais passou a ser mais ativa e focada na ancoragem das expectativas de inflação.

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O estudo diz que o efeito dos gastos públicos sobre a inflação variou ao longo do tempo. Por exemplo, um aumento de 1% do PIB nos gastos de governos no período anterior a 1985 levava a um aumento médio da inflação de quase 1 ponto percentual no mesmo ano, efeito que desaparecia gradualmente.

Para o período pós-1985, o mesmo choque levou a um aumento médio da inflação de cerca de metade desse tamanho (0,5 ponto porcentual) e, diferentemente do primeiro caso, se estabilizou após três a quatro anos.

As respostas da política monetária às forças que pressionam a inflação em ambos os períodos também variaram consideravelmente. Na parte inicial da amostra, os bancos centrais eram mais propensos a acomodar as expansões fiscais, permitindo assim um maior repasse dessas expansões para a inflação.

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Depois de 1985, os bancos centrais apertaram com mais frequência a política monetária em resposta às expansões fiscais para atenuar seus efeitos inflacionários.

O Monitor Fiscal do FMI também analisou como a inflação afeta as finanças públicas e chegou à conclusão que uma inflação inesperada – como no episódio recente desde 2021 – corrói o valor real da dívida do governo às custas dos detentores de títulos. Para países com dívida superior a 50% do PIB, cada ponto porcentual de aumento inesperado da inflação reduz a dívida pública em 0,6 ponto porcentual do PIB, com efeito que dura vários anos.

Segundo o FMI, à medida que a inflação se torna persistente e mais bem antecipada, entretanto, ela deixa de contribuir para a queda dos índices de endividamento. Da mesma forma, as relações dívida/PIB inicialmente diminuem à medida que os gastos não acompanham o ritmo do aumento do valor monetário da produção da economia. Mas esses efeitos desaparecem ainda mais rápido, diz o relatório.

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Aumento da pobreza

Ao analisar essa inflação recente, o Monitor utilizou pesquisas públicas de milhares de famílias em seis economias (Colômbia, Finlândia, França, Quênia, México e Senegal) e descobriu que a inflação de meados de 2021 a meados de 2022 impactou as pessoas por meio de três canais principais: seus padrões de consumo, sua renda salarial, de pensões ou transferências e, por fim, seus ativos e passivos.

Durante o período considerado, a taxa de pobreza aumentou 1 ponto percentual ou mais em três países da amostra (França, México, Senegal).

Embora o impacto tenha variado entre os países da análise e entre os grupos de renda, essas pesquisas revelaram que o aumento mais rápido dos preços dos alimentos em comparação com outros preços prejudicou desproporcionalmente as famílias pobres. O motivo é que os alimentos representam uma parcela maior de do consumo total dessas famílias. Esse efeito foi mais pronunciado em países de baixa renda.

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Outra constatação foi que a inflação erodiu os rendimentos reais nos países importadores de commodities, pois os salários em todos os grupos de renda não acompanharam os preços. Além disso, a variação acelerada dos preços internos corroeu o valor monetário dos ativos e passivos. Assim, as famílias com patrimônio líquido negativo se beneficiaram às custas dos credores, principalmente em países com mercados financeiros e de crédito desenvolvidos.

E os efeitos redistributivos da riqueza da inflação também foram influenciados pela idade do chefe da família: as famílias jovens, que tendem a ser devedoras líquidas, experimentaram ganhos por meio dos canais de riqueza, enquanto as famílias mais velhas viram sua riqueza ser corroída.