Ação da Hapvida (HAPV3) salta 18,5% com injeção de liquidez atenuando preocupações; JPMorgan e BBI elevam recomendação

Na véspera, operadora de planos de saúde anunciou venda de dez imóveis para família controladora por R$ 1,25 bi e potencial oferta de ações

Lara Rizério

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Com queda de cerca de 50% de suas ações no acumulado de março até a sessão da última segunda-feira (27) em meio a resultados fracos e temores de solvência, a Hapvida (HAPV3) anunciou diversas medidas na noite da véspera para endereças as suas principais questões. Tais medidas animaram os investidores e a ação foi o destaque de alta do Ibovespa durante todo o dia na sessão desta terça-feira (28), chegando a subir cerca de 23% nas máximas. Os papéis HAPV3 fecharam com alta de 18,47%, a R$ 2,63.

A operadora de planos de saúde anunciou instrumento vinculante para operação de sale and leaseback (SLB) de dez imóveis de propriedade de suas controladas, no valor de R$ 1,25 bilhão, com um veículo de investimento da Família Pinheiro (LPAR), controladora da companhia.

Além disso, engajou os bancos BofA, UBS BB, BTG Pactual e Itaú BBA, bem como suas respectivas afiliadas no exterior e seus assessores legais, a fim de analisar a viabilidade e estruturar uma potencial oferta pública subsequente de ações ordinárias de emissão da companhia, integralmente primária, a ser realizada no limite de seu capital autorizado, correspondente a 395.207.520 ações. Esse montante seria equivalente a R$ 877 milhões, levando em conta o fechamento de R$ 2,20 da ação na última segunda-feira.

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O Goldman Sachs destaca o anúncio como positivo, pois mitigaria um de seus principais riscos se bem sucedido. “Saudamos a empresa abordando os riscos relacionados à sua posição de caixa para 2023, que se tornou uma das principais preocupações do mercado sobre a empresa após os resultados decepcionantes do 4T22”, apontam os analistas.

Os analistas do banco esperam que a empresa chegue a 2023 com uma posição de caixa de R$ 1,0 bilhão, impactado por um consumo de fluxo de caixa livre para o acionista (FCFE, do inglês “Free Cash Flow to Equity”) de R$ 1,7 bilhão no ano.

No entanto, se ambos os eventos potenciais fossem considerados, isso implicaria uma posição de caixa substancialmente mais saudável de R$ 3,0 bilhões até o ano de 2023. “Além disso, acreditamos que o desembolso de caixa esperado do acionista controlador de R$ 1,6 bilhão (R$ 1,25 bilhão na operação SLB + R$ 360 milhões por meio da subscrição da oferta primária) proporcionaria estabilidade financeira em um ano volátil para provedores e pagadores de planos de saúde”, apontam os analistas.

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O Goldman observa que os termos propostos da oferta não implicam em diluição do free-float (inalterado em 57%) se subscrito em seu limite total (assumindo o preço de fechamento de R$ 2,22 por ação como o preço potencial do negócio), e que a parte esperada do oferta para vir a mercado (cerca de R$ 517 milhões) representaria apenas 5,7% do atual free float da Hapvida. Os analistas do banco seguem com recomendação neutra para a Hapvida, com preço-alvo de R$ 4 (ainda que um potencial de valorização de 82% em relação ao fechamento da véspera).

O JPMorgan, por sua vez, elevou a recomendação para as ações HAPV3 de neutra para overweight (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) após o anúncio, mas retiraram o preço-alvo para 2023 de R$ 5,50.

Ao todo, apontam, aproximadamente R$ 2,1 bilhões de liquidez devem ser injetados na empresa no segundo trimestre de 2023 o que, combinado com a sua estimativa de cerca de R$ 1 bilhão de caixa desbloqueado mais o fluxo interno de dividendos das suas operações, devem ser suficientes para honrar os vencimentos da dívida de curto prazo de cerca de R$ 1,8 bilhão no 4T22 mais pagamentos de juros relacionado à sua dívida bruta de cerca de R$ 12,9 bilhões (incluindo aquisições a pagar).

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“No geral, saudamos o anúncio porque: a) o SLB limita a diluição potencial de minoritários; b) o cap rate (medida de avaliação imobiliária) da SLB é de mercado, apesar de ser um negócio entre partes relacionadas e, c) remove
a gestão de passivo de curto prazo dos holofotes, dada a situação de liquidez apertada nos níveis de holding (apesar de não haver problemas de curto prazo nas entidades operacionais), permitindo que a gestão se concentre totalmente na integração da NotreDame e suas sinergias”, avalia o JPMorgan.

Ainda assim, mesmo com melhor visibilidade, conforme revisitaram as estimativas após o 4T22 e incluíram as transações mencionadas no modelo, os analistas do JP cortaram as suas estimativas de lucro por ação esperado para 2023 em 53%, para R$ 0,07, e em 26% para 2024, para R$ 0,21. Consequentemente, o valor justo para as ações caiu de R$ 5 para R$ 3,50, ainda implicando em uma alta de 59% em relação ao fechamento da véspera e sugerindo que a queda recente dos ativos (desde o resultado do 4º trimestre de 2022) foi exagerada. Assim, vendo o risco-recompensa como atrativo, o JP elevou a recomendação.

“No entanto, continuamos a ver mais valor e a ter mais conforto relativo com as tendências operacionais da Rede D’Or RDOR3), classificada como overweight, que é a nossa principal escolha no setor de saúde da América Latina”, aponta o JP.

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O Morgan Stanley também destaca a queda das ações no mês como exagerada e reiterou a sua recomendação overweight em Hapvida, com preço-alvo de R$ 7,50.

Segundo o Morgan Stanley, a venda dos imóveis para a família controladora e um potencial aumento de capital devem cobrir as preocupações do mercado sobre a estrutura de capital, potencialmente trazendo um piso para o preço das ações e abrindo as portas novamente para uma possível opcionalidade de M&A [fusões e aquisições].

Além do JPMorgan, o Bradesco BBI também elevou a recomendação das ações de neutra para equivalente à compra (no caso do BBI, para outperform, ou desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 4,20. Os analistas destacaram uma melhora de ambiente para as ações da companhia após a forte queda no mês em meio aos anúncios da véspera.

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“O curto prazo para os números da companhia  deve permanecer sem brilho devido à persistência do MLR (sinistralidade médica) ainda alto com pequenas melhorias sequenciais (ajustando para sazonalidade) nos aumentos de preços. No entanto, vemos o momento como um dos mais atraentes em termos de risco-recompensa, com a ação negociando a 11 vezes o P/L [múltiplo de preço sobre o lucro] para 2024 sob estimativas mais conservadoras”, aponta.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.