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Em um ambiente de juros altos e economia crescendo pouco, o momento é pouco propenso a novos investimentos, afirma Alfredo Setubal, o presidente e diretor de Relações com Investidores da Itaúsa (ITSA4), maior holding de investimentos de capital aberto do País.
O executivo acredita que os juros podem cair neste ano no Brasil, mas não hoje, em que o Comitê de Política Monetária (Copom) decide os rumos da política monetária. Ele considera essencial que o País tenha um arcabouço fiscal.
“O Brasil não pode viver com déficits fiscais crônicos”, disse, em entrevista exclusiva para o Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), após a divulgação de resultados da holding. A Itaúsa teve lucro líquido de R$ 13,7 bilhões em 2022, recorde da série. Investidora do Itaú Unibanco (ITUB4), maior banco da América Latina, colhe nele a maior parte do resultado, mas tem buscado diversificar, com ativos como a CCR (CCRO3), a Aegea, de saneamento, e a Alpargatas (ALPA4).
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Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Chegou o momento de os juros caírem no Brasil e no exterior?
Lá fora, a inflação continua alta, nos Estados Unidos e em vários países de Europa. Acho que pode ter uma paradinha, quem sabe o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) suba 0,25 ponto em vez de 0,50 ou não suba nada. Mas a tendência no mercado internacional é de os juros continuarem altos.
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E no Brasil?
Minha expectativa neste momento é de que a taxa de juros seja mantida na reunião desta semana. A conjuntura internacional é difícil, os fluxos de capital mudando de um lado para o outro, crise bancária, a inflação ainda é alta, com vários setores ainda com inflação de 8%, 10%. Vamos ver queda dos juros no Brasil ainda este ano, acho bem provável. Até pela falta de um novo arcabouço fiscal, para a reunião desta semana vemos manutenção dos juros e viés mais positivo do Banco Central em seu comunicado.
A economia deve crescer menos este ano no Brasil. Como isso pode afetar o resultado da Itaúsa?
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A queda da renda das famílias com a inflação no ano passado foi alta. Reajustes salariais nos últimos meses recompuseram um pouco essa queda. Não vemos queda adicional muito grande acontecendo este ano, mas também não vemos recuperação da massa salarial. Taxa de juros influencia, queda de renda influencia, insegurança política e econômica, todos são fatores que levam a confiança do consumidor mais para baixo e uma certa retração. E é o que estamos vendo, com indústria mais devagar, indústria automobilística dando férias. Minha expectativa hoje é de um crescimento da economia abaixo de 1% e muito sustentado pelo agronegócio. Espero que este arcabouço fiscal que vai ser proposto traga tranquilidade maior para empresas e consumidores e que a gente volte a ter nível de confiança maior na economia.
A âncora fiscal é essencial para a economia crescer mais, para os juros caírem?
Acho que sim. O Brasil é um país vulnerável. Só não estamos em situação de maior vulnerabilidade porque temos US$ 320 bilhões em reservas. A nossa dívida é alta para um país emergente, e tem déficit fiscal crônico. O governo Bolsonaro conseguiu reduzir a dívida pública por controle de despesas, mas o déficit continua aí. Se não tiver um arcabouço fiscal que controle o crescimento da dívida pública, isso tudo leva sempre a juro mais alto. Pode ser menor do que é hoje, mas ainda será alto. E a uma economia que cresce pouco. O mercado quer estabilidade econômica, para que os ativos não desvalorizem, e disciplina fiscal.
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O novo arcabouço fiscal precisa então deixar claro o controle de despesas que vai trazer?
Sem dúvida, o Brasil não pode viver com déficits fiscais crônicos. Vemos outros países na América Latina que têm esse problema e vemos em que situação eles estão.
Como a crise bancária no exterior pode chegar aqui?
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O custo de capital sem dúvida sobe. O Banco Central atua muito fortemente. Os grandes bancos são muito sólidos, com base de capital muito grande. Nos bancos menores também não vejo problemas. Todo mundo apertou a concessão de crédito ao longo de 2022, em função de um cenário que já se mostrava mais desafiador e foi se deteriorando ao longo do ano. Os bancos foram mais contidos. Não vejo crise de inadimplência acontecendo no Brasil, nem este ano nem no próximo. Isso não vai se refletir em crise bancária no Brasil. O sistema é sólido, os bancos menores têm liquidez, os depósitos são garantidos. O Brasil tem no sistema financeiro uma das âncoras, é muito sólido para aguentar os solavancos que vem de fora.
O senhor também não vê uma crise de crédito?
Não. Claro que haverá empresas com mais dificuldade, por conta de uma economia mais desacelerada. A crise de crédito vem muito mais pela economia com performance um pouco mais fraca do que só pela taxa de juros.